Música e Fotografia: Duas Paixões Artísticas

1ª e 8ª artes pode ter muito mais a ver do que você inicialmente imagina

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Aqui vai uma ideia: música e fotografia tem mais a ver que você inicialmente pode imaginar. Não estou falando aqui de músicos que também são fotógrafos ou mesmo fotografias que envolvem música em algum de seus aspectos, seja em shows, bastidores ou alguma outra parte da cadeia que envolve sua criação e distribuição, eestou tentando embarcar em um conceito menos físico e um pouco mais abstrato.

Simplificando, e muito, o conceito do que é uma foto e deixando de lado os conceitos físicos de como ela acontece, podemos dizer que a fotografia captura um momento único e o registra para a posteridade, transforma uma coisa efêmera em algo perene. Com mais ou menos produção – às vezes sem nenhuma -, ela transforma um instante, um fragmento muito pequeno de nossa realidade (um conceito abstrato) em algo palpável, no caso, uma imagem. E acho que “registrar” é a palavra que melhor define esse conceito mais amplo do que é fotografia.

Da mesma forma, os discos são responsáveis por capturar um momento de um artista, retratar o que ele é naquele exato instante. No geral, eles são registros, uma sequência de fotos que representam as pretensões daquele artista naquele fragmento de realidade. Até mesmo a ideia de álbum, como uma coleção de fotografias, também vale quando pensamos que os álbuns musicais são coleções de áudios, de músicas.

Outro paralelo interessante que se pode traçar entre a 1ª e 8ª artes é a evolução que sofreu nos últimos séculos. Se a música existe como forma de expressão desde que o homem é homem – desempenhando seu papel em rituais sociais e divinos -, ela foi evoluindo enormemente desde o século 19, quando as composições puderam ser registradas em um recipiente. Através de um processo relativamente simples, uma música poderia ser gravada em um ponto no tempo e espaço e tocada em outro completamente diferente – algo que chegou para mudar muitos paradigmas e que rendeu discussões intensas, seja em um âmbito social ou mesmo mercadológico.

A fotografia, por sua vez, existe mais ou menos com a conhecemos hoje em dia desde a conceituação da câmera escura, lá no século 16 – até mesmo Leonardo da Vinci já usava essa técnica para esboçar suas pinturas. A tecnologia evolui enormemente desde então, possibilitando maior qualidade na captura da imagens e o desenvolvimento de técnicas específicas para a fotografia em si. A ideia da captura de imagens, de um registro de um certo instante que poderia ser replicado em outra ponto no tempo e espaço, segue o mesmo princípio da música gravada. De forma comparativa, as duas artes tem muito em comum, com a principal diferença que uma trata de imagens e outra de sons.

Poderíamos também traçar paralelos entre as duas artes, que, em primeira instância, apresentam um sentido mais subjetivo, um significado que só o ouvinte/espectador pode dar à obra, mas isso é assunto para outro dia. Vamos pegar como ponto de intersecção alguns conceitos da própria fotografia. Em qualquer aula básica, você aprender princípios como composição, foco, cores, profundidade, efeitos, além do domínio de seu próprio equipamento.

Composição, num sentido mais amplo, significa como um músico vai orquestrar o uso de foco, cores, profundidade, efeitos e por aí vai, como vai dispor todos os elementos de seu arranjo para passar a mensagem desejada, e creio que cada artista vai ter seu próprio meio de compor, seja “borrando a foto” em estilos como Dream Pop e Shoegaze, “estourando as cores” no Punk e Hardcore, deixando em tons mais pasteis como no Folk e Borroque Pop, usando o preto e branco em gêneros como Post-Punk e Jazz, e por aí vai. Claro que essa é só uma brincadeira, bem abstrata, com o tema, mas uma interessante fusão entre os dois temas, entre artes que exploram sensações tão diferentes.

Além destes aspectos, sejam os mais subjetivos ou os mais técnicos, outro fator interessante de se analisar uma foto é ver o que ela te conta, que história ela pode apresentar ou que emoções pode aflorar. Algo que ficará um pouco mais fácil de contemplar com a música, ainda mais se ela tiver a parte lírica bem desenvolvida – porém, que não impede que músicas instrumentais consigam atingir o mesmo resultado narrativo ou emocional.

Os paralelos são inúmeros, mas a história fica ainda mais interessante e apaixonante quando pensamos que um álbum, no sentido musical, é, geralmente, uma junção destes dois mundos. Seja pela foto da capa ou mesmo o encarte que a acompanha, há imagens estampando essa obra, algo que pode comunicar um pouco mais que do que você vai ouvir. Se usado corretamente, essa parte gráfica de um disco pode ser uma ótima aliada na hora comunicar algo a mais ao ouvinte, de passar uma mensagem que ultrapassa as barreiras auditivas e se transforma também visual. E que tal acabar com James Blake, disco que sintetiza muito bem o clima nevoento e borrado da obra somente em sua capa?

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MARCADORES: Discussão

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts