Nero e a Trindade Explosiva e Contemporânea

Produtores britânicos exageram nos sintetizadores com proposta carnal aos seus ouvintes

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Em épocas de tanta distância, principalmente pessoal, entre gente que já desaprendeu a se comunicar, a dialogar, a se tratar e até se relacionar, eis que surgem alguns líderes para pontuar e liderar essas expedições. Em tanta tecnologia, ou aqui, na música, em que o reaplicado vira cópia de uma cópia de outra cópia, e que tudo parece um pouco do mesmo, temos aqueles que salvam uma cena e que não distanciam nem um pouco da proposta que carregam consigo: chocar alguns corpos.

Sim. A trindade Nero vem com esse objetivo. Com sintetizadores intensos, os três produtores propõem que seus ouvintes tenham uma experiência carnal com suas faixas ao ponto de exacerbarem o que nem sabiam que existiam. Com guitarras e sintetizadores agressivos, tocam em pontos inexplorados até por nós mesmos e serve como uma terapia gratuita a quem escuta, a serviço de uma emoção a ponto de debulhar em lágrimas. Eu queria estar sendo parcial aqui, mas não estou.

Daniel Stephens e Joe Ray constroem toda a atmosfera para o doce timbre de Alana Watson. O primeiro lançamento de Nero, Space 2001, fez parte em 2004 da coletânea Straight Outta Leicester. Desde o lançamento do álbum de estreia (em estúdio) em 2011, com Welcome Reality, não demorou muito para liderarem o UK Albums Chart. Dois anos depois, os britânicos já estavam ganhando o primeiro Grammy com Promisses, junto a Skrillex. Esses prêmios vieram como resultado de uma vizinhança cheia de música lá nos anos 80. Cheios de influência do Jazz, Daniel e Joe começaram a arranhar nos computadores as primeiras produções eletrônicas. Hoje já dividem a estante com prêmios da Billboard e contratos publicitários com seus singles Guilt, Promisses e até uma peça orquestral intitulada como Symphony 2808, apresentada pelo duo em colaboração com BBC Phillarmonic Orchestra, dirigido por Joe Duddell em 2011. Nada mal, certo?

Até então, poucos tiveram a coragem de botar a cara à tapa um projeto com tanta força como Nero. Welcome Reality mostra como a vida, de fato, funciona. O trio quer consertar o que ficou pra trás e nós insistimos em ignorar. Seja a confiança, segurança ou até a sensualidade, auto-estima, as sensações banais como o frio na barriga, o medo, a ansiedade, a paixão, e faz com maestria, como professores. No último UFM Brasil, que aconteceu em dezembro de 2011 em São Paulo, o trio se apresentou no palco Arena e mostrou pra os milhares de presentes as razões de todas as indicações para os diversos prêmios para a BBC londrina.

Os mestres do Dubstep, Drum’n’Bass e House emplacaram uma série de remixes de nomes como The Streets, La Roux, deadmau5, NERD (antigo projeto de Pharrel) e até da dupla Daft Punk. E, assim como bons entendedores, sabem que a pressa não levam a lugar nenhum. Apenas com um álbum de estúdio, o grupo diz que trabalha não falta, mas não trabalham com prazo. E nessa fórmula que pretendem que sua música durem por mais tempo possível. E faz sentido. Hoje em dia, o que mais tem é lançamento atropelando lançamento. Uma ótima forma de preservar um nome e dar credibilidade a um trabalho que não baseia à superficiliadade do EDM, por exemplo. Dedicam a maioria do tempo para registrar remixes de seus maiores singles, assim como aconteceu com Won’t You, Me & You, Promisses e Crush on You.

Percebe-se que, apesar de uma carreira que estourou há pouco tempo, estamos falando com um projeto de dez anos e uma maturidade firmada. Ray, Stephens e Watson não estão interessados em sons temporários e famas passageiras. Querem que Nero seja um nome para marcar a história do gênero. O Dubstep está vindo não pra ser uma mão na roda do barulho e sim pra servir de válvula para mensagens. Nero é visceral com a sua.

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ARTISTA: Nero
MARCADORES: Conheça

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King