New Age Japonesa

Conheça a origem, a evolução e a influência do movimento esotérico japonês

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Quando pensamos no movimento New Age, a primeira coisa que nos vem à cabeça são as músicas da cantora irlandesa Enya e sua trilha sonora típica das aulas de alongamento e Yoga da academia. Pois é, de fato, a aura mística de suas músicas deve ser o maior expoente de um movimento que tem origem no final dos anos 60 e que é embasado por um cenário hippie em ascensão no qual associava o esoterismo de suas práticas com o clima musical favorável para a meditação e à paz interior. Mas, você sabia que, não só o movimento pode ter expoentes muito mais longíquos do que as planícies nórdicas da Irlanda, como também mantém influências exercendo seu poder até hoje, e muito mais próximos do que parece? Vamos dar uma olhada na origem do movimento New Age japonês, assim como em sua evolução e, enfim, como chega até nós num contexto cultural completamente diferente.

Kitaro

Kitaro talvez seja o artista japonês com maior projeção mundial, figurando entre os maiores nomes do estilo, como Yanni ou mesmo a própria Enya. Ganhador do Grammy e do Globo de Ouro, foi um pioneiro do estilo e a paixão pelos sintetizadores guiou sua carreira dentro do cenário. À seu modo, Kitaro fugia do esoterismo ocidental e passou a incorporar elementos de sua própria cultura em suas músicas. Gostava também de apresentações ostentosas, com grandes cenários e ao lado de orquestras sinfônicas, à moda de muitos dos artistas de música eletrônica daquela época, como por exemplo, o francês Jean Michel Jarre que transformava seus shows em ocasiões grandiosas dignas de abertura dos jogos olímpicos. Seu maior feito reside na trilha sonora do documentário Silk Road, uma obra grandiosa que levou 17 anos para ser concluída e que narra a influência das rotas comerciais na cultura da civilização japonesa.

Masakazu Yoshizawa

Masakazu Yoshizawa, assim como Kitaro, teve destaque em sua carreira em dois pontos: primeiro, no uso de instrumentos típicos japoneses dentro no fenômeno do New Age internacional (por exemplo, as flautas de bambu shakuhachi, shinobue, hichiriki) e em segundo, na participação determinante em algumas trilhas sonoras (o multi-instrumentista tem em seu currículo participações em Jurassic Park, Bruce Lee e Tartarugas Ninjas). Associou-se com muitos outros artistas importantes ao longo de sua carreira, entre eles outro japonês de destaque: Osamu Kitajima

Osamu Kitajima

Osamu Kitajima foi outro grande multi-instrumentista e produtor que graças ao cenário favorável acabou se destacando mundialmente. Todavia, embora Kitajima tenha seguido pela música New Age, como podemos ver na sua apresentação Thru Cosmic Doors (o título, aliás, entrega todo o jogo), sua música evolui aos poucos vindo de um caminho menos meditativo, graças talvez, à ampliação de seu universo com o produtor Chris Mancinelli, de quem acabou se tornando um parceiro permanente. No começo de sua carreira, o músico vivia na Inglaterra, e sob a influência do Rock Psicodélico de Syd Barret, Donovan e dos Beatles adota o pseudônimo de Justin Heatcliff e grava seu próprio álbum do estilo! O resultado? Ótimo!

Bônus: Riyuchi Sakamoto

Vindo do mesmo universo dos sintetizadores que seus contemporâneos e conterrâneos, Riuychi Sakamoto talvez tenha sido um dos artistas mais inventivos de sua geração. Foi um dos grandes responsáveis por derrubar a barreira New Age e se aventurar por paragens eletrônicas diferenciadas. A amplitude da evolução atingida por Kitajima atinge outro nível em Sakamoto, que chega a outra esfera da música eletrônica. O grupo ao lado do qual estreou, o Yellow Magic Orchestra, fazia uma mistura de música Techno abstrata com hits grudentos, mescladas ao imaginário Pop japonês que lhes rendeu um impulso inicial que fez do grupo um dos artistas eletronicos seminais de maior influência mundial. Mas é ao lado do austríaco Fennesz que Sakamoto encontra sua faceta contemplativa, embora fora da aura mística da New Age. A parceria lhes rendeu excelentes álbums de música eletrônica ambiente que influenciam até hoje, grandes artistas eletrônicos, do Drone até à Glitch Music.

Duvida? Pois bem, recentemente, eu equiparei alguns trabalhos recém-lançados de três grupos ocidentais contemporâneos que acabaram de estrear, que graças à sua semelhança formam um cenário de música techno-mística de timbres esfumaçados e, por alguma razão, puxados ao ambiente tropical. Além do jovem Deon Custom, que por alguns momentos lembra muito às trilhas sonoras dos videogames de Sigeru Miyamoto, temos Jensen Sportag, que busca o caminho da dupla Fennesz e Sakamoto assumidamente. Além deles, o artista sul-africano Jean-Philip Grobler, responsável pelo St. Lucia, talvez nem conheça a semelhança de seu When The Night com os pioneirismos da Yellow Magic Orchestra, embora misturados à anos de mudanças na história da música eletrônica.

Conhecendo ou não, como sempre digo e repito, trilhar o caminho preciso da influência de um estilo musical é difícil, senão impossível, mas a mágica da história da música mundial está aí, e, hoje em dia com seus estilos e subvertentes evoluindo em progressão geométrica, só podemos agradecer às semelhanças subjetivas da música espalhada em todos os cantos do globo.

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Autor:

é músico e escreve sobre arte