Novo Jazz: Bandas novas que modificam o estilo à seu favor

Conheça bandas contemporâneas de integrantes jovens que usam o Jazz como base para seu som próprio

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O nascimento do Jazz – o estilo musical que vem da região de New Orleans misturando blues notes, polirritmia e improvisação com espírito de Swing – data do início dos 1900. Todavia, não vou me alongar neste ponto, pois muito já foi dito sobre o Jazz. A questão é que, assim como todas as outras formas de estilos de arte, o Jazz continuou evoluindo desde sua origem que conta mais de 100 anos. É claro, muitos tentam preservar seu estilo original, outros, apropriam-se de seus elementos e mantém apenas algumas características essenciais, embora seja plenamente adaptado às novas tendências contemporâneas. Está nas origens do Jazz tal maleabilidade, e este, em suas várias formas, aceita praticamente todo tipo de instrumento. Conforme evoluiu, aceitou a recontextualização em diversos universos. Se a época mais prolífica para isso aconteceu a partir dos anos 70, com o fenômeno de nome sugestivo de “Jazz Fusion” (que misturava assumidamente elementos do rock & Roll, Funk e R&B), num estilo que sempre foi difícil conceituar estritamente, que dirá atualmente, em que vivemos cercados dos fantasmas da era pós-moderna.

Pois bem, feitos os preâmbulos, vamos dar uma olhada em algumas bandas de Jazz (ou que utilizam seus elementos como princípio criativo) que tem ganhado destaque atualmente:

Virta

Virta é uma banda de mistura Jazz (ou, segundo os mesmos, Scandinavian Jazz) com Post-Rock. Um exemplo perfeito de apropriação contemporânea do gênero. Eles apareceram por aqui no Mbuzz no meio do ano, na seção Ouça e, desde então, nunca mais saíram da minha playlist pessoal. Está tudo aí, Post-Rock instrumental, elementos eletrônicos, pedais de loop, trompete e fliscorne. Desde o lançamento de seu EP Tales From the Deep Waters, marcaram seu nome como grande expoente, tanto da música Escandinava quanto do Jazz contemporâneo.

Dale Cooper Quartet & The Dictaphones

Dale Cooper Quartet é um quarteto que gosta de botar uma pressão na descrição de seu gênero: Dark Jazz, Doom Jazz e o fúnebre Funeral Jazz estão entre os nomes escolhidos. Mas, na verdade, sua música não é tão sombria assim. A fórmula está lá: tratamento eletrônico da música ao vivo (os queridos samplers e loops) enquanto o lado orgânico dos instrumentos se encarrega da trilha jazzística. Fãs de David Lynch, gostam de imaginar que suas músicas são trilhas para seus filmes, o que contribui para a aura soturna de suas músicas

E já que estamos no assunto, temos mais um projeto que endossa a cena de Dark Jazz (talvez graças ao selo Denovali, de que ambos fazem parte, e é, aliás, um grande responsável pela difusão do Jazz Contemporâneo). Enfim, o projeto a que me refiro é um só, divido em duas facetas. São elas: The Kilimanjaro Darkjazz Ensemble e The Mount Fuji Doomjazz Corporation. Enquanto TKDJE é a banda que toca composições estruturadas para a gravação do álbum, TMFDJC é seu alter-ego, que improvisa ao vivo sob a base das anteriores. Jazzístico, não?

BADBADNOTGOOD

Aproveitando a atmosfera obscura dos grupos anteriores, mas mudando completamente de contexto, vamos falar do BBNG, que seria um típico Jazz Trio formado por bateria, baixo e piano, não fosse sua união graças ao amor pelo Hip-Hop partilhado pelos integrantes – além dos detalhes na formação do grupo, afinal, o piano, na verdade, é um sintetizador Prophet ’08 e a bateria aposta pesado no uso de samplers de seu pad, além, é claro, do detalhezinho sórdido da máscara de porco, marca registrada do grupo.

Os BBNG ficaram conhecidos por conta de suas versões instrumentais das músicas do Odd Future e MF Doom, e, quando surgiu o vídeo de uma sessão com a participação de Tyler, The Creator, acabaram firmando seu nome. Aliás, dizem justamente que o Jazz é a inspiração do Hip-Hop atual

Faz sentido.

Flying Lotus – Bônus Track

Já que estamos no universo do Hip-Hop, ao final do artigo chegamos com o estilo bastante diluído em diversas influências. Embora na Flying Lotus o Jazz habite um universo exclusivamente eletrônico, ainda marca sua presença sutil como background sonoro do projeto. Steven Ellison, o FlyLo é um produtor e rapper norte-americano que mescla os universos do Jazz e do Hip-Hop para compor suas trilhas eletrônicas experimentais.

Pois bem, de estilos que preservam características quase intactas do gênero em suas origens, chegando até à fusão contemporânea, servindo como base de Hip-Hop ou até de música Eletrônica Experimental, o Jazz e suas variantes sobrevivem preservando sua característica essencial: a abertura, a colaboratividade e a adaptação a novos cenários.

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Autor:

é músico e escreve sobre arte