O Amor e a Sensibilidade de Four Tet

“There Is Love In You” permanece como a obra mais atemporal do produtor britânico

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

There is Love In You

Entre os diversos desafios que um músico enfrenta quando vai compor, manter-se solto permanece como um verdadeiro Golias a ser vencido. Obviamente, essa afirmação depende dos anseios aos quais o compositor se propõe – uma faixa de Rock ou Pop pode manter-se em suas estruturas básicas e chegar ao objetivo desejado, por exemplo. A música Eletrônica talvez seja o estilo no qual tal proposta seja a mais complexa a ser alcançada. Como se manter livre, orgânico e imprevisível quando seus elementos intrínsecos são programáveis? Construir um loop ou uma batida pode ser muito simples, mas transformá-la em algo além de seu ciclo permanece desafiante.

Dentro do leque cada vez mais exponencial de produtores de Eletrônica, alguns conseguem traduzir sua programação em imprevisibilidade, seu caráter sintético em naturalidade e sua levada programada em algo espiritual. Caribou, Flying Lotus, Floating Points e Todd Terje são alguns desses exemplos. O produtor Kieran Hebden, mais conhecido como Four Tet sempre esteve ligado de alguma forma ao mundo orgânico da música, passando desde Fridge, seu projeto de Post-Rock, até a sua carreira solo como um todo.

Como porta de entrada para quem desconhece sua sonoridade particular e quase rústica devido ao uso de samples de elementos “vivos e em movimento”, There Is Love In You (2010) é o caminho certo. Poucos discos Eletrônicos lançados nos últimos anos permanecem tão relaxantes e naturais quanto a obra de Kieran – movimentos mundanos, como translados rumo ao trabalho ou caminhadas na rua, se tornam películas orquestradas por canções bastante delicadas e imaginativas. O seu leque de elementos ee elementos m cada faixa não chega a ser megalomaniaco, tampouco loops são deixados de lado, no entanto, algo em sua sonoridade nos faz transitar por diferentes estados emocionais sem naúseas. Comece pela canção sonhadora The Unfolds para entender o que estou falando.

Obviamente, o passado no Post-Rock do produtor leva a construção de tais canções cinematográficas, mas imaginá-las como peças de apresentações noturnas e fechadas é extremamente paradoxal. Como se pode animar um clube se a ideia principal é o escapismo? Sing, que pode ser vista na maravilhosa apresentação abaixo, nos mostra que tal abordagem solta combina muito bem com um ambiente enclausurado quando acompanhado de improvisação e sensibilidade audiovisual. Assim, faz sentido colocar o produtor como um dos mais importantes e imaginativos dentro de uma cena que conquista e descarta fãs através de sua previsibilidade.

Como um todo, There Is Love in You, funciona mais como um álbum completo do que um coleção de faixas – seu andamento, nada linear nas inspirações e somente nos sentimentos propostos pode levar à dança na ótima Love Cry, à meditação em Circling, ao transe em Plastic People (uma ode orgânica à vida noturna) e às lágrimas na belíssima She Just Likes to Fight – filhote de Mogwai com Explosions in the Sky de Kieran. Por fim, sua abordagem atmosférica o traz perto de atos contemplativos como Brian Eno, mas também de experimentos complexos de Aphex Twin. No entanto, as inspirações de Four Tet nesta obra o fortalecem e se materializam em um retrato sensível e delicidado da música Eletrônica que poderá ser ouvido daqui há 20 anos e ainda fazer sentido por ser justamente, solto, amoroso e nada elementar.

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ARTISTA: Four Tet
MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.