O groove orgânico e sinestésico de Céu

O disco “Vagarosa” é a síntese do Pop, MPB e sonoridades do Dub em sua melhor forma

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Céu – Vagarosa

Bandas brasileiras não eram bem o meu forte há pouco tempo. Reconhecer o valor de sonoridades nacionais e conseguir diluir ritmos fora dos padrões que os meus ouvidos já estavam acostumados era um tanto incomum. Talvez por ser ainda mais novo e por ter uma gama de referências muito “nichadas”. Um dos epicentros para a quebra dessa repetição foi o contato com o segundo disco autoral da cantora Céu, intitulado como Vagarosa.

O tal trabalho foi o começo do amadurecimento da cantora e de longe o trabalho mais reconhecido ao redor do mundo de Maria do Céu. Lançado pelo selo Universal Music e recheado com treze canções, este disco traz índices de brasilidades que ressoam pelos quatro cantos do planeta – ritmos que derivam dos subúrbios da Jamaica e tribos da África, passando pelas ruelas de São Paulo e pelas festas animadas e reuniões típicas reverberadas em bares pontuais do Rio de Janeiro.

O interessante do registro é a maneira como tudo é apresentado de maneira tão atual, mesmo bebendo de fontes antigas e já com espaço demarcado: Das percussões tribais de um Fela Kuti, passando pela positividade do Reggae a beira mar e até abraçando-se a um cavaquinho e ao samba quase minimalista batucado numa caixinha de fósforo é que a paulistana discorre suas impressões da música que gosta de fazer.

O período de 2009 até o lançamento de Caravana Sereia Bloom, disco mais recente da artista, foi o mais frutífero de toda a curta carreira da moça. Tendo sido aplaudida por veículos como New York Times, BBC, Billboard, Rolling Stone, e The Telegraph, Céu figurou também como convidada de Late Shows, como do criterioso Jools Holland, colhendo como resultado quase 150.000 mil cópias vendidas de seu material, sendo 100.000 apenas nos Estados Unidos.

O Pop, MPB e o Dub unem-se numa pasta homogênea de pouco mais de quarenta e dois minutos em formato tão orgânica que impressiona. Apesar de ser possível identificar a olho nu cada nuance que Maria trouxe na obra, a experiência final é tão recompensadora pela sinestesia de sons que o esforço de alguns em procurar por pontos fracos é desmotivado pela aura da compilação. Hoje em dia, a cantora ocupa um espaço próprio e é reconhecida como um dos promissores nomes a se manter estabelecido a longo prazo na música brasileira, esbanjando sensualidade com seus collants brilhantes e trajando os rasteiros chinelos coloridos por onde passa.

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ARTISTA: Céu
MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Jornalista por formação, fotógrafo sazonal e aventureiro no design gráfico.