O lado produtor de Steve Albini

O músico obteve seus maiores êxitos atrás da uma mesa de som e, ao longo de seus quase 30 anos de carreira, criou um estilo próprio de fazer suas produções

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Se você não está familiarizado com a cena underground americana dos anos 80 e 90, é provável que não conheça o lado performer de Steve Albini. Mas é importante saber que o cara esteve envolvido com algumas bandas nessa época, como Big Black, Rapeman e Shellac (única que ainda continua na ativa), que ajudaram a desenvolver muito de sua sensibilidade e versatilidade como músico. Por mais que esses grupos tivessem como grande característica a sonoridade crua, pesada e às vezes freak, seu lado como produtor mostra uma amplitude maior de seu talento.

Ao longo de quase 30 anos atrás de uma mesa de som, Steve criou o “estilo Albini” de produzir. Não que isso seja uma fórmula, ou algo parecido, mas existe uma espécie de “processo” em suas gravações e também na escolha de bandas com que ele trabalha. O primeiro passo para uma produção assinada por Albini é a identificação dele com a sonoridade e ideias do grupo, o que faz do produto final algo mais sincero e autêntico.

O segundo passo é deixar essas bandas à vontade e não “interferir” demais no som e na proposta que elas trazem quando chegam aos estúdios. Seu papel é potencializar o produto final, não transforma-lo no que em sua cabeça soaria melhor. Outro ponto que o diferencia de outros tantos produtores é o fato de gravar de maneira analógica e em poucas sessões, mais uma vez reforçando a autenticidade do produto final e a identidade da própria banda.

Apesar de sempre estar envolvido em bandas com um som pesado, o cara já trabalhou com artistas que tem uma sonoridade bem diferente do que ele está acostumado a tocar ou mesmo produzir. Um dos seus mais trabalhos mais ambiciosos foi o segundo álbum de Joanna Newsom, no qual, deixando o Rock de lado e explorando o Folk, ele conseguiu traduzir muito bem nas faixas da moça o espírito aventureiro e único dessa obra, que ganhou inúmeros prêmios e apareceu em diversas listas de melhores discos da década de 2000. Ys é um álbum incrível e expansivo, que conta com arranjos angelicais e uma orquestração impecável, e que também mostra a versatilidade de Steve como produtor.

Outro bom exemplo disso foi o EP My Father, My King da Mogwai. O Post-Punk etéreo e costumeiro da banda ganhou algumas ondas de distorção e um peso maior nesta obra que tem seus mais de 20 minutos (o EP é formado somente por esta música). Na cacofonia sonora que fecha esse incrível single, dá pra notar a mão de Albini operando a mesa de som e potencializando o “barulho”.

Steve já produziu tanta coisa desde o começo de sua carreira que você provavelmente já ouviu alguns deles e nem sabia – até por que ele se nega a ter qualquer tipo de vinculo com suas produções, seja por royalties ou por créditos. Obras como In Utero (Nirvana), Surfer Rosa (Pixies), Rid of Me (PJ Harvey), Walking Into Clarksdale (Jimmy Page & Robert Plant), Gypsy Punks Underdog World Strike (Gogol Bordello), The Weirdness (Iggy & the Stooges) e Further Complications (Jarvis Cocker) são algumas dessas figurinhas carimbadas que nem sempre nos damos conta de que os produziu.

Em 2012, Albini fez algumas ótimas produções que mais uma vez mostram sua faceta mais roqueira e três delas merecem destaque. A primeira é Ugly, quinto álbum, da Screaming Females que mostra uma mistura (muito bem feita) entre College Rock, Punk e Surf Music, e que ganha um tempero extra com a bela apresentação vocal da vocalista Marissa Paternoster. O segundo destaque vai para a volta do The Cribs com In the Belly of the Brazen Bull no que mais parece ser um greatest hits de faixas inéditas. E, por último, a talvez melhor produção de Steve neste ano, Attack on Memory do Cloud Nothings. O visceral disco da banda de Dylan Baldi ganhou um incremento e tanto com a produção de Albini, mudando da água para o vinho. O amadurecimento na sonoridade foi um dos maiores fatores pelo qual este grupo ressurgiu na mídia durante este ano.

Seja com artistas conhecidos ou com novos nomes da cena independente, Steve Albini consegue trazer à tona tudo o que essas bandas têm de melhor e potencializa-las em suas gravações e faz isso dando o controle musical para as bandas, o que é extremamente difícil de encontrar hoje em dia.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts