O Que É Um Hit Hoje?

Em uma época de tantas mudanças na música, não é certo medir os sucessos do presente com mentalidade do passado

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Last Nite, Somebody Told Me, Take Me Out, Seven Nation Army – já faz algum tempo que os maiores hits ditos “desta geração” apareceram, e há quem diga que eles nem são tão hits assim, deixando essa classificação reservada para as músicas que atingem proporções muito onipresentes em todos os cantos do planeta.

Ainda assim, a força que essas faixas possuem ainda hoje nos faz concluir que precisamos rever nossos conceitos quando o assunto é popularidade e sucesso no mundo fonográfico. Se isso precisa ser discutido no mainstream, o assunto é ainda mais urgente quando tratamos a música feita no lado-B da produção.

Pra começar, é preciso uma perspectiva com os pés mais fincados no chão quando conversamos sobre a disseminação da música pela Internet. A rede global passa uma sensação de amplitude que nem sempre se concretiza quando o assunto é o alcance de uma obra, seja ela uma faixa ou vídeo. Sim, estamos sempre prestes a encontrar um Gangnam Style que desafie todas as barreiras geográficas possíveis, mas esses casos ainda são raros.

O mais comum é a criação de informações amplamente compartilhadas entre grupos muito mais específicos de pessoas do que a população mundial absoluta com acesso à Web. Com isso, é comum que algo seja muito popular entre o pessoal que divide os mesmos interesses e, ao mesmo tempo, não seja conhecido fora desse pequeno gueto.

Mesmo assim, foi por causa da Internet que tantas mudanças aconteceram no cenário fonográfico e muitas das nossas medições do que é um hit hoje vem dela. São views, likes e shares que nos dão a dimensão da popularidade de uma faixa, clipe ou banda, às vezes mais do que uma lista publicada em algum site, jornal ou revista nos dizendo quem é o “número 1” da vez.

E esse topo do pedestal parece não perder seu valor para os leitores e ouvintes. O problema é quando ele é estabelecido sem serem levadas em conta as diferenças dos tamanhos dos públicos. Sim, às vezes vemos We Are Young, Get Lucky ou Somebody That I Used to Know ganharem os holofotes de audiências colossais, mas o que mais acontece é vermos o que é um grande sucesso para alguém mal ser reconhecido como tal pelos outros.

Dentro dos novos parâmetros, outro fenômeno é o valor do trabalho da banda e artista sendo definido mais pelo todo do que por uma só música que “estoure” por aí. É difícil pensar, por exemplo, nos grandes hits de Arcade Fire ou Tame Impala, duas das favoritas do pessoal; Alabama Shakes conquistou fama no ano passado e chance de vir ao Brasil em 2013 com sua Hold On sendo a música mais conhecida – e olha que nem clipe ela tem; Ou mesmo SILVA que agora vê sua Moletom ganhar status de queridinha de um público maior, mas já era conhecido há muito tempo pelo pessoal de sua cena.

Daí parecer estranho se alguém tentar dizer que Skinny Love ou Lonely Boy, só para citar duas, não são grandes hits que marcaram esta geração recentemente. Mas é claro que só teremos certeza disso daqui a alguns anos – justamente quando, muito provavelmente, precisaremos rever todos os nossos conceitos novamente para avaliar aqueles que serão “o sucesso do momento”.

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MARCADORES: Discussão

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.