O Teatro da Vila

Conheça o espaço na Vila Madalena (São Paulo) que promove arte e cultura brasileira pelo preço que você quiser pagar. Saiba mais sobre a programação fixa da casa e escolha um dia para fazer sua visita

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Viver numa cidade como São Paulo é estar sujeito a todo tipo de intempéries, desde trânsito, poluição e enchentes até fenômenos não explicados pela ciência moderna como o descaso da prefeitura com a falta de planejamento urbano. Mazelas à parte, a vida na selva de concreto também tem suas vantagens: conhecida pelo seu cosmopolitismo, São Paulo agrega culturas distintas que dão colorido ao tom cinzento da cidade.

Há um ditado que diz: “se perder é mais importante do que se achar numa cidade”. Com esse mesmo espírito de aventura, me propus a explorar São Paulo com o intuito de desvendar lugares onde a arte e a cultura pulsam! Como um amante da música que sou, busco espaços que proporcionem uma relação mais íntima entre público e artista de modo a compartilhar pensamentos e ideias com pessoas envolvidas em projetos criativos.

Um desses espaços onde ideias e histórias de pessoas se cruzam é o Teatro da Vila. Em meio aos bares e restaurantes da Vila Madalena, o Teatro oferece desde apresentações de música popular e instrumental à espetáculos de dança, teatro, palestras e cursos em geral.

A ideia de chamar músicos e artistas para se apresentarem no Teatro parte de uma iniciativa de membros de uma comissão criada por professores, alunos, pais e moradores do bairro para evitar o fechamento da Escola Estadual Carlos Maximilliano Pereira dos Santos, que agrega um pequeno auditório interno onde acontecem os espetáculos. O Teatro adota uma proposta que inverte a lógica comercial, de modo que o espectador atribui o valor a ser pago ao final de cada apresentação. Em 2011 o Teatro da Vila teve 221 apresentações com um público total de 9.540 pessoas.

Uma vez por semana, coletivos artísticos ocupam o Teatro trazendo músicos e artistas selecionados por um comitê gestor por meio de editais abertos. Nas segundas-feiras, o Movimento Elefantes traz toda a elegância e estilo das big bands de jazz que fazem parte do movimento, como a Banda Urbana, Projeto Coisa Fina, Projeto Meretrio, Big Band da Santa, Reteté Big Band, Grupo Comboio, Soundscape Big Band, Orquestra HB, Banda Savana e Banda Jazzco. Pioneiros na difusão da música instrumental no Brasil como o único coletivo de big bands do país, o Movimento Elefantes completa três anos de existência em 2012 e pretende ampliar seus horizontes com novas propostas para difundir a música instrumental brasileira, desenvolvendo novos projetos, promovendo debates e reflexões por meio das atividades do movimento e de suas dez big bands. No repertório das bandas, destacam-se temas autorais e de grandes nomes do jazz, como Moacir Santos, Duke Ellington e Thad Jones. Com a tradicional formação instrumentalcomposta por saxofones, trompetes, baixo, guitarra, piano e bateria, cada grupo desenvolve uma linguagem e sonoridade especifica fundindo estilos ,como o Projeto Meretrio, grupo mais jovem do movimento, que mistura jazz, rock, tango, baião e frevo em seus temas.

Às terças-feiras, as cordas tomam conta do Teatro com o coletivo de violonistas do Comboio de Cordas. Com o objetivo de divulgar a música instrumental violonística contemporânea, o Comboio foi criado em agosto de 2009 pelos idealizadores Leonardo Costa, Muari Vieira e Francisco Andrade (Quarteto Pererê). Dos músicos convidados que fazem parte do coletivo estão desde jovens talentos a veteranos como Alexandre Cueva, Ítalo Peron, Zé Barbeiro, Chico Saraiva, Daniel Murray, Michi Ruzitschka, Bisdré, Cau Karam, Emiliano Castro, Norberto Vinhas e Quarteto Pererê. O Comboio já recebeu mais de 200 músicos com participações de músicos internacionais de países como Índia, Inglaterra, Argentina e Bolívia. Ao final de cada apresentação, há um bate-papo para trocar impressões, comentários e dúvidas. Com isso, o coletivo oferece a oportunidade de discutir diversos aspectos da relação do músico com a sociedade, bem como o processo criativo do artista, elementos técnicos e artesanais dos instrumentos e curiosidades em geral.

Quarta-feira em São Paulo já é de praxe a feijoada no almoço e de noite samba com o coletivo Kolombolo Diá Piratininga! Fundado em 15/05/2002 por Renato Dias, Max Frauendorf e Ligia Fernandes, o Grêmio Recreativo de Resistência Cultural Kolombolo Diá Piratininga tem como missão disseminar características do cenário paulistano do samba tradicional, divulgando o trabalho e a história de artistas da Velha Guarda de São Paulo com apresentações, incentivando à produção de documentários e prestando consultoria. O Kolombolo conta atualmente com mais de trinta colaboradores, integrantes efetivos e participantes que contribuem em atividades como oficinas educativas de composição, percussão, dança e história sobre o Samba Paulista. No Teatro da Vila, promovem o evento Cafezal Paulista – Um Café com Nhô João de Camargo, um roda de samba informal onde são apresentados sambas autorais e suas historias acompanhadas de um café em intenção ao Nhô João de Camargo, mentor espiritual e intelectual do Kolombolo Diá Piratininga.

Às quintas-feiras, o Coletivo Navegantes abre portas para músicos, compositores e produtores empenhados em promover eventos e projetos que contemplem arte-educação, conscientização sócio-cultural, pesquisa, registro e difusão do patrimônio musical, além de fomentar a produção de discos, trilhas, shows e documentários musicais. É importante dizer que por meio da iniciativa das pessoas envolvidas no Coletivo Navegantes é que surgiu o projeto Quanto Vale, que funciona para toda a programação do Teatro, mostrando-se uma solução sustentável.

Fechando a semana, nas sextas-feiras entra em cena a Associação Raso da Catarina com a pluralidade característica do universo do teatro de rua, do circo e das culturas populares. Formada em 2006, a Associação é uma organização voltada à pesquisa e à divulgação das manifestações artísticas promovendo o debate sobre a diversidade cultural. Apresentam-se pelo Raso da Catarina diversos grupos de diferentes estilos musicais que contemplem a própria multiplicidade da cultura brasileira.

Agora só falta escolher por qual dia começar a frequentar o espaço. Para mais informações, visite o site oficial do Teatro da Vila.

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Autor:

Antropólogo batuqueiro. Dependendo do contexto, toca de tudo um pouco ou nada de muito.