Oblivion

Apesar dos clichês, filme do criador de “Tron” é uma boa ficção científica apoiada pela bela trilha do M83

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Detesto ser portador de más notícias, mas o mundo vai acabar no século XXI. Lá por 2077, a Terra será invadida por uma raça alienígena chamada, Scavengers. Essas criaturas estranhas dispararão contra nossa Lua, causando sua destruição. Sem seu satélite natural, o planeta Terra terá séries de desastres naturais em grande escala. Serão terremotos, tsunamis, mudanças no clima e, claro, muitas pessoas morrerão. Os Scavengers atacarão nessa hora, quando estivermos às voltas com as intempéries e atônitos. Reagiremos, claro, com ogivas nucleares fritando o planeta, mas destruindo os invasores. O restante da Humanidade partirá para Titan, a maior lua de Saturno e algumas poucas pessoas ficarão no planeta, pois há muito trabalho a fazer.

Este é o conjunto de informações que o espectador de Oblivion (2013) recebe nos primeiros dez minutos de filme. Acompanharemos a rotina do técnico 49, conhecido como Jack Harper (Tom Cruise). Seu trabalho é cuidar da manutenção dos drones, robôs áreos que ficaram patrulhando a superfície do planeta destruído. Além de Jack, temos a presença de Victoria (a bela atriz inglesa Andrea Riseborough), que é esposa de Harper, que vive com ele na plataforma 49 e atua como controladora de sua atividade junto à superfície. No espaço, em órbita da Terra, está a Tet, uma estação espacial que abriga as últimas pessoas que ainda não foram para Titan. Jack e Victoria partirão em 14 dias, assim que terminarem sua missão.

A rotina de Jack na manutenção dos drones é melancólica. Ele tem memórias desconexas sobre a Terra, de um tempo que não viveu. Ele e Victoria tiveram suas memórias apagadas por questões de segurança, visando uma maior eficiência na missão e salvaguardar informações importantes, uma vez que, ainda há Scavengers ocultos na superfície da Terra e podem atrapalhar a última ação humana no planeta, a absorção dos oceanos por meio de enormes plataformas, que reterão a água e a levarão para Titan. Entretanto, mesmo com a proximidade do fim da missão e a iminente partida para tempos melhores, Jack permanece assombrado por estas memórias, nas quais vê a si mesmo e uma mulher no terraço do Empire State Building.

Oblivion é enxuto mas não tem um pingo de originalidade. O roteiro é inspirado na graphic novel escrita por Joseph Kosinski, o diretor de Tron Legacy, que também assina Oblivion. Há uma série de elementos visuais interessantes, sobretudo na primeira parte do filme, em que os interiores da estação de reparos e as amplas paisagens da Terra destruída são bastante exploradas. São dois ambientes estéreis, mas fascinantes, mas diferentes. A estação é limpa, branca, acrílica, cheia de citações de interiores de filmes como 2001 e Solaris. A Terra, ainda azul e bela, é melancolicamente mostrada como uma paisagem desolada, mas não deserta.

Ao longo do filme teremos citações explícitas e implícitas de outras obras de sci-fi, além das já mencionadas, Planeta dos Macacos (a versão de Tim Burton), Matrix, Eu Sou A Lenda, Independence Day, A Ilha, Blade Runner, além do livro Encontro Com Rama, do escritor inglês Arthur C. Clarke, autor de 2001 e 2010. A segunda metade, na qual Jack é apresentado a elementos que vão ajudá-lo a entender o que está realmente acontecendo, traz a sempre boa presença de Morgan Freeman e teria tudo para atrapalhar o ritmo do filme, o que não chega a acontecer. O problema maior de Oblivion, além da falta de originalidade, é a atuação monocromática de Cruise que, sabemos não ser um excelente ator, mas que leva o filme com uma única expressão, oscilando entre o levemente angustiado e o conformadamente intrigado. Andrea Riseborough e a atriz ucraniana Olga Kurylenko (de 007 – Quantum Of Solace) convencem mais em suas interpretações, para não falar em Morgan Freeman, sempre competente e capaz de conferir credibilidade.

O final esbarra na previsibilidade mas há que mencionar a habilidade do roteiro em esconder a verdade absoluta por trás dos eventos até os minutos finais. Temos a idéia do que acontece, podemos até arriscar algo mas os fatos só se revelarão nos últimos quinze minutos.

Toda a ação é revestida por uma belíssima trilha sonora, a cargo do grupo francês M83, que entra na onda do filme e se apropria de grandes trilhas de sci-fi dos anos 80, sobretudo a de Blade Runner, a cargo de Vangelis, além de tangenciar a estética futurista de Jean-Michel Jarre, mantendo o clima tenso e conferindo profundidade a sequências esteticamente belas, como o banho de piscina atmosférico na estação 49.

Oblivion é legal, vale ser conferido no cinema, sempre com a ciência de que não vai mudar sua vida ou lhe fornecer uma nova visão do mundo, mas vai assegurar distração e alguma tensão por cerca de duas horas, nada além do que o próprio filme se dispôe a fazer.

Oblivion, 2013, EUA. Direção e roteiro: Joseph Kosinski Com Tom Cruise, Morgan Freeman, Olga Kurylenko, Andrea Riseborough.

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ARTISTA: M83
MARCADORES: Filme

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.