Alma-gêmea?

O novo projeto de Tom Fleming chama-se One True Pairing, mas passa longe das paixões açucaradas e aponta para o lado mais áspero dos romances

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Fotos: Jenna Foxton

A expressão One True Pairing, em inglês, significa uma combinação perfeita de duas pessoas, aquilo que talvez traduziríamos como “almas gêmeas”. Sabendo disso, pode não ser tão curiosa a escolha de Tom Fleming em batizar assim seu novo projeto, visto que o romance idealizado é tema frequente na produção musical desde sempre. A surpresa, porém, começa quando vamos ouvir músicas como “I’m Not Afraid” e “Dawn at the Factory” e percebemos que sua visão de mundo está longe de ser utópica, ou mesmo ingênua.

Em conversa com o Monkeybuzz, o músico comentou que a perspectiva realista – e às vezes pessimista – presente no projeto vem por se sentir “bem desconfiado de qualquer narrativa muito fantasiosa, hoje em dia”. Em uma época em que a realidade é tão editada, filtrada e plastificada, Fleming optou por apostar em uma pegada mais sincera em suas canções. “Queria me sentir começando do zero, e tive que pensar no propósito do meu trabalho”, ele explica, “minha voz não estava sendo ouvida e eu tinha o que dizer”.

“O disco não tem só raiva, mas não é um tipo de música que te deixa à vontade” – Tom Fleming

Em suas palavras, “o conteúdo das novas músicas revela que é nossa culpa termos tantas ‘câmaras de eco’ atualmente [fenômeno no qual uma mensagem é repetida dentro de um só sistema para os mesmos ouvintes; Algo como as “bolhas” nas redes sociais]. E há muito com o que se zangar, então eu não queria que fosse um disco que expressasse conforto. Ele não tem só raiva, mas não é um tipo de música que te deixa à vontade”.

O álbum em questão, também chamado One True Pairing, chega exatamente dois anos após o fim da banda Wild Beasts, com a qual Fleming ficou conhecido no filão do Synthpop no Indie. Ao contrário do som do quarteto, sempre volumoso e cheio de camadas, a estética aqui é um tanto mais crua e espaçada, com músicas compostas no violão antes da produção eletrônica. “É um som mais direto e focado”, ele explica, “tinha muita coisa acontecendo em WB e eu queria algo mais esguio. O resultado ficou mais duro, bem mais agressivo”.

Nesse habitat de guitarras típicas do Indie e timbres que conhecemos do Synthpop, sua voz é percebida sempre em primeiro plano. “Foi uma escolha consciente”, comenta ele, “eu tenho um sotaque muito carregado e sinto que meu vocal ocupa muito espaço. Não consigo segurar uma nota por muito tempo, sempre canto quase falando – o que pode ser um defeito, mas acaba sendo benéfico, porque aí as pessoas prestam mais atenção no que eu digo”.

E o desejo de se comunicar é a força que move One True Pairing. “Tenho me esforçado para me manter honesto e me lembrar que estou sempre dialogando com um público”, diz Fleming, “quero manter o discurso direto”. “Não é um disco de singer songwriter, tem muito mais nuances do que isso”, ele explica, também justificando a escolha do nome do projeto não ser o seu. “Meu nome não é tão interessante. Essa não é ‘minha arte’, não é sobre mim”, conta  músico, que revela: “Mas, no fim das contas, só não queria ser confundido com Tommy Fleming, um cantor irlandês muito popular e romântico”.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.