Os 35 anos de “Never Mind the Bollocks”, do Sex Pistols

O único disco do grupo faz aniversário sem perder relevância musicalmente e realça sua importância para o movimento Punk

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Never Mind The Bollocks, o primeiro e único disco dos Sex Pistols, completa neste ano 35 anos do seu lançamento, data simbólica comemorada com um boxset cheio de raridades como posters de turnê, DVD e o polêmico single de God Save The Queen, entre outras coisas. Foi em 1977, importante ano para o movimento Punk, que o grupo lançaria o álbum que quebraria os alicerces do Rock and Roll e iniciaria um fenômeno que ultrapassaria as barreiras da música, tendo reflexos na juventude e sociedade ainda presentes até hoje.

Não foram os Sex Pistols que inventaram o Punk Rock como alguns, erroneamente, ousam acreditar. Este estilo de música data aproximadamente da metade da década de 70, como forma de protesto ao que Rock and Roll havia se tornado (solos intermináveis de guitarra e popularização a ponto de na época considerarem o duo clássico de Folk, Simon & Garfunkel, como Rock). Um estilo mais cru e direto se fazia necessário para uma juventude pós-movimento hippie e que começava a enxergar o mundo com menos esperança e amor que os seus pais cabeludos.

Artistas como Television e New York Dolls já se utilizavam de um Garage Rock rápido e direto com poucos acordes, características musicais que viriam a ser parte do Punk Rock como conhecemos hoje em dia. Um single feito por Patti Smith em 1974, com uma gravadora própria, talvez seja o primeiro disco feito sob o lema de “do it yourself”, ou faça você mesmo. Ramones e The Clash, ícones Punk, lançaram discos em 1976, antes do Sex Pistols. Então por que dizem por ai que 1977 é tão importante para este estilo de música?

Os Sex Pistols podem não ter sido os precursores do estilo de música, mas dificilmente a “atitude punk” como conhecemos não tenha passado pelo quarteto. A começar pelo single God Save The Queen, no qual Johnny Rotten declama: “God Save the Queen/She is no human being/and there is no future/In England’s Dreaming”. Dentre os versos, o niilismo de “there is no future” é o que melhor expressaria posteriormente o Punk com sua constante negação de aspectos da vida.

Conhecida como a “música mais censurada do Reino Unido” era o início de um movimento de protesto naquela região e que logo viria a se espalhar pelo resto mundo, encontrando e misturando-se com outras bandas já citadas que abordavam o mesmo estilo de música. A atitude de negação do que era escutado na época encontrava ao mesmo tempo uma atitude contra aspectos políticos e sociais do Ocidente.

Portanto, quando Never Mind The Bollocks foi lançado, todos os artíficios para uma explosão já estavam dados e o disco viria a ser somente seu estopim. Entretanto, resumir esta obra como somente a fagulha da expansão do movimento Punk é um ultraje, pois independente de sua importância cultural, o álbum é um clássico da música.

As faixas rápidas, com duração entre dois e três minutos, eram uma contrapartida aos solos do Pink Floyd de mesma duração. De suas letras, escorriam ironia e protesto, ao mesmo tempo que o jeito único e sujo de Johnny Rotten fazia com que o veneno escorresse na conservadora sociedade inglesa.

Holiday In The Sun começa com os powercords, bateria rápida e Johnny Rotten declamando “I don’t wanna holiday in the sun /I wanna go to new Belsen /I wanna see some history/ ‘Cause now i got a reasonable economy”.Bodies fala de um tabu que existe até hoje, o aborto, com naturalidade, sem se importar com censura ou nada.

No Feelings, Punk-Rock puro com uma letra que diz que não se tem sentimentos por ninguém, exceto por si mesmo. Liar com acordes abafadas e refrões altos é extremamente violenta e deveria render bons bate-cabeças nos pequenos clubes que o Sex Pistols tocava na época.

O single polêmico de God Save The Queen estava no disco, e viria a se tornar uma das maiores referências musicais de Punk-Rock. Problems é uma das melhores músicas do disco, com uma estrutura que viria a ser copiada por diversos subgêneros e bandas posteriormente. Ela é igual a uma panela de pressão pronta pra explodir, transmitindo raiva e violência.

Seventeen é quase uma balada dentre tantas pancadas que recebemos no disco e, mesmo instrumentalmente mais leve, tem Johnny Rotten despejando toda a sua sujeira: “You’re only twenty-nine/ Gotta lot to learn / But when your mummy dies /She will not return”. Pretty Vacant foge um pouco da estrutura direta do disco com uma introdução um pouco mais elaborada pros padrões da obra, mas que mesmo assim é Punk-Rock.

New York transpira a atitude punk e cospe todos os palavrões possiveis em uma música sem delongas ou intermináveis solo de guitarra. E.M.I é a resposta do grupo a sua expulsão da gravadora com mesmo nome após um incidente no ano anterior em que Johnny Rotten havia dito “Fuck Off” ao vivo na TV aberta inglesa. Não sobram respostas diretas à gravadora (“Too Many People Support Us /An Unlimited Amount”) e a suas iniciais são utilizadas como refrão.

Anarchy In The UK já havia sido lançada como single, assim como God Save The Queen. Johnny Rotten diz que ser o anticristo, um anarquista e proclama a destruição da cidade. Concidentemente, o anarquismo viria a ser posteriormente um dos símbolos do movimento Punk. Entretanto, a música por si só é genial e talvez seja o maior clássico do grupo.

Inegavelmente, Never Mind The Bollocks é um marco no Punk-Rock, seja devido às suas letras, à estrutura da música tocada ou por ser simplesmente o único disco de uma das bandas mais importantes não só do movimento Punk, mas também do Rock and Roll. Este disco que completa 35 anos ainda ensina os iniciados no estilo a como se fazer um disco incrível e marcante. Sem inventar o ritmo, mas definindo-o muito bem, o Sex Pistols acabaria entrando para história, assim como o ano de 1977. Depois desse disco a música nunca mais seria a mesma.

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ARTISTA: Sex Pistols
MARCADORES: Punk, Punk Rock

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.