Os Anos 80 nos Dias de Hoje

Traçamos como alguns dos estilos mais proeminentes da década chegaram à nova geração – alguns sofrendo uma completa mutação e outros se mantendo quase inalterados

Loading

Uma grande constante na cultura Pop é a sua própria reinvenção, que geralmente se dá a partir da “reciclagem” de elementos antigos em novas sonoridades, apropriações de gêneros e estéticas moldadas no passado (exatamente por este processo) e trazidas ao presente em uma nova roupagem. Você não precisa enxergar muito longe para notar que isso forma um ciclo e que invariavelmente você está ouvindo os desdobramentos musicais de coisas que seus pais ouviram há algumas décadas.

Por mais que haja essa “moda do retrô” nos rondando durante a última década, basicamente ela sempre existiu (porém, sem tanta evidencia midiática quanto há hoje em dia). Sim, a nova música (ou melhor, qualquer arte – ou ainda, qualquer extensão do pensamento humano) sempre se referencia no que já foi criado para, a partir daí, dar asas à imaginação e se transformar em algo necessário à sua época. Um dos maiores exemplos disto vistos em nossos dias é o resgate às sonoridades dos anos 80. Ainda que haja a crítica quanto à falta de originalidade (uma das mais comuns quando se trata de resgates), eu te digo que (paradoxalmente) é a partir dela (a cópia) que a música evolui.

Sim, há fartos exemplos disso vindos de outras décadas, mas em especial os anos 80 tem um quê caricato (vindo das mais diversas vertentes da Música Pop) que hoje os fazem ser reinventados a partir de uma nova perspectiva. Não há mais Guerra Fria, muitos dos problemas políticos da época foram resolvidos (criaram-se outros, mas isso não vem ao caso agora) e, é claro, a Internet mudou tudo – afinal, artistas e ouvintes constroem suas referências musicais com apenas um click. Para ilustrar melhor essa ideia, separamos alguns exemplos de como velhos gêneros (famosos principalmente nesta década) foram “reformados” pela nova geração.

Post-Punk

Antes

Mais conhecido pelo obscurantismo trazido ao Punk no fim dos 70/começo dos 80, esse é um dos gêneros mais homenageados por revivals desde sua criação. O que ficou famoso através das faixas de Gang of Four, Joy Division, The Cure, Echo & the Bunnymen e Bauhaus (pois é, são todas bandas britânicas e não è à toa que a Inglaterra é considerada o berço do gênero) foi redesenhado por outros tantos desde o fim dos anos 90 até hoje em dia. Interpol, Editors, White Lies, The Cinematics, She Wants Revenge e outras tantas mantiveram essa chama acesa e trouxeram o gênero à nova década com muito de seu frescor original.

Recentemente, o gênero ganhou um novo boom com o quarteto inglês Savages e seu ótimo debut, Silence Yourself. Apesar de não mexer nas estruturas básicas do gênero, as meninas trouxeram grande potência e atitude – criando algo que por mais que não soe como “novo”, é sim uma das grandes novidades de 2013. Desta nova geração vale também conferir o som de: Black Marble, Holograms e Iceage.

Depois

Synthpop

Antes

Hoje em dia, este é um estilo altamente difundido no Indie e Electro Pop (STRFKR, Pasison Pit, Toro Y Moi, Neon Indian e mais uma infinidade de outras bandas se encaixam nesses novos neologismos estilísticos), mas sua gênese está também no fim dos anos 70/começo dos 80 e tem com seus principais pilares nomes como Yellow Magic Orchestra, Human League, Depeche Mode, Gary Numan e mais outros tantos que caíram de amores pelos sintetizadores e pelo clima robotizado do Kraftwerk – com a diferença que o Synthpop é uma humanização do que o quarteto alemão iniciou e isso se nota principalmente pelos vocais altamente melódicos.

Assumindo diversos formatos a partir de sua criação, o gênero já brincou com tudo que é influência desde então; pelas mãos do The Knife ganhou toques étnicos, Chromatics adicionou pitadas do Shoegaze e com Ariel Pink o estilo ganhou formas mais psicodélicas e experimentais, além do toque do R&B pelas mãos do Autre Ne Veut e vamos parar por aqui, pois (virtualmente) essa lista é interminável. Como nosso novo destaque para o estilo, elegemos Glass Candy e seu Synthpop à moda antiga e que conversa muito bem com as pistas de dança. Prince Innocence, Kavinsky e Small Black são outros nomes que valem a pena serem conferidos.

Depois

MPB

Antes

Tudo bem, a MPB não se formou tampouco se consolidou nesta década. Na verdade, com a ascensão do Rock como nova força criativa, o estilo ficou em segundo plano nesta época. O fim da ditadura e a abertura política refletiram diretamente nesta nova postura e consequentemente nas novas bandas que surgiram durante os anos 80 – com o fim da imposição nacionalista e elitista quanto ao que era considerado música popular brasileira, o estrangeirismo tomou de assalto o país (fenômeno que persiste ainda hoje). Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Vinícius de Moraes, Edu Lobo e outros tantos nomes continuavam a produzir, mas acabavam ficando eclipsados pelas novas descobertas internacionais por parte da juventude.

Não foi um hiato produtivo, mas certamente um hiato criativo que conduziu o estilo até a última década onde, por mais desfigurado que tenha se tornado, continuou a promover a brasilidade em nossa música, dentro dos moldes propostos na época da ditadura. Los Hermanos, Tiê, Tulipa Ruiz, Marcelo Janeci e Cícero são os alguns dos responsáveis por este revival apelidado de “nova MPB” – o que faz sentido visto que elitização desse tipo de sonoridade ainda continua forte. Esses ótimos nomes além do termo “MPB” carregam o “Indie” como prefixo de sua musicalidade e continuam promovendo nosso patrimônio sonoro – Ana Larousse, Pélico e Wado completam nossas dicas dentro do gênero.

Depois

Loading

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts