Os Ecos de Novas Frequências

Percepções e conclusões a respeito de festival que inúmera diversas questões enquanto abre outras possibilidades musicais

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Fotos: Luisa Puterman

O que pode ser música? O que será música? O que é um festival? O que esperar de uma experiência sonora? Qual a importância da música na vida? Qual o papel dos festivais? Como transmitir experiências? O que é pertinente? E o que é ouvir? Estas são apenas algumas das muitas perguntas que ecoam após dias e dias de exposição à novas frequências.

O Festival, que aconteceu no Rio de Janeiro nos últimos quinze dias, trouxe consigo uma infinidade de questões que permeiam a realidade da produção musical contemporânea. Talvez, inclusive, essa seja uma das principais vocações do Novas Frequências: estabelecer situações que repensam a música. Nesse sentido, e para um melhor entendimento do que passou, é fundamental rastrear a estrutura curatorial que idealizou 25 eventos em seis lugares distintos da cidade.

Segundo Chico Dub, curador do Festival Novas Frequências, “a quarta edição possui diversos eixos curatoriais, recortes esses que se cruzam e estabelecem novas conexões. O mais extenso deles reúne artistas que de alguma forma se apropriam de células rítmicas e melódicas de outros continentes que não os seus para desenvolverem a sua própria sonoridade. Há ainda um passeio pela música contemporânea do Reino Unido, de Portugal e do Brasil; um flerte com a música minimalista; novas abordagens para instrumentos convencionais; um amplo panorama do que há de mais fresco na música eletrônica experimental; e também arte sonora manifestada através de gravações de campo e soundwalks”.

Uma possível forma de enxergar esses eixos curatoriais é entender, através das programações específicas, cada lugar que abrigou o festival. O Audio Rebel, responsável por receber os shows nas segundas e terças-feiras das duas semanas de line-up é um estúdio, que após a dissolução do Plano B (loja de discos que organizou inúmeras apresentações de música contemporânea no Rio de Janeiro) se tornou uma referência para os músicos e produtores da cena independente. Os shows, todos internacionais, que aconteceram na Audio Rebel se assemelhavam a uma espécie de ritual, onde a atividade principal foi escutar. Inclusive disseram que a Rebel é o Cafe OTO brasileiro, lugar em Londres que acontecem inúmeros shows. Artistas como Ashley Paulo, Rashad Becker, Keith Fullerton Whitman, Mark Fell e Luis Fernandes ocuparam o intimista e adequado palco do estúdio e exploraram muito bem a atmosfera amigável que o espaço reverbera.

Ambas as quartas-feiras do festival ocuparam o Teatro Municipal Sergio Porto, um espaço generoso que em ambas ocasiões apresentou performances pianísticas bastante agradáveis. O projeto português Quest, o brasileiro OCO e o compositor ucraniano Lubomyr Melnyk se revezaram para ilustrar como diferentes gerações, influências e intenções podem se utilizar do antigo piano para comunicar sons atuais.

As outras noites aconteciam no teatro do Oi Futuro Ipanema. Uma mistura de vários tipos de performances exploraram como influências de outras culturas podem servir de substrato para pesquisas e projetos sonoros. Como por exemplo nas apresentações de Aki Onda, Frisk Frugt, Tarab Cuts e Laraaji.

Sem trégua, o fim de semana ainda continha uma intensa programação vespertina. Aos domingos na Casa Daros (como pode ser visto no texto Frequências Novas No Brasil) e aos sábados no POP, um lugar de conversas e cursos que abrigou o TalkingSounds, uma série de encontros com curadores, produtores e compositores. Nesse espaço, ideias, processos criativos e concepções curatoriais questionaram os pensamentos que regem os rumos da música contemporânea. Com apoio do Britsh Council ingleses como Alasdair Campbell (Counterflows Festival) e Graham McKenzie (Huddersfield Contemporary Music Festival) dividiram suas experiências e angústias em diálogos dispostos a entender certas histórias, escolhas e estruturas que fazem outros festivais acontecer.

Todas essas palavras objetivas escondem certo otimismo subjetivo em relação ao futuro e a importância da música nos tempos que virão. Em suma, o Festival nada mais é do que uma celebração à existência do som e suas infinitas possibilidades formais. Nesse sentido, o Novas Frequências, se mostra ser uma oportunidade importante para curiosos que buscam aprender, acumular e conhecer o valor de novas experiências. Afinal, o novo está sempre por vir, resta-nos estar de ouvidos sempre abertos.

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Autor:

Alguém que convive e trabalha com som