Os primeiros (e os próximos) saltos de Bebé Salvego

A jovem artista de Piracicaba projeta seus novos voos como compositora/produtora e fala sobre a parceria com o baterista Sérgio Machado Plim em “Bebé”, seu disco de estreia

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Fotos: Wallace Domingues

Em Bebé, o primeiro disco da cantora piracicabana Bebé Salvego, os sons das atmosferas elásticas transitam entre temas como autodescobrimento e introspecção. O projeto foi contemplado pelo PROAC em 2019, e vem sendo trabalhado desde então. Lançado em julho deste ano, o registro conta com produção do baterista Sergio Machado Plim, conhecido por seu trabalho em bandas como Metá Metá, e acompanhando artistas como Criolo, Tulipa Ruiz, João Donato, Emicida, entre outros.

O encontro entre Bebé com Sergio aconteceu quando a artista tinha apenas 12 anos, e os dois mantiveram contato até se cumprimentarem após um show do Metá Metá em Piracicaba. “Falei para ele: e aquele som? Foi realmente um amadurecimento, olho pra trás, vejo como eu era e quem eu sou. O Sergio faz parte disso”, diz em entrevista ao Monkeybuzz. Hoje aos 17 anos, e cursando o terceiro colegial, a cantora se imagina estudando produção musical ou algo relacionado à música.

“Tenta Me Entender”, a segunda faixa do disco, deu o tom das nove músicas que viriam a seguir. A partir de notas no celular, Bebé desenvolveu a letra para a melodia improvisada. “Coisas que escrevi quando era pequena, no momento em que comecei a me interessar por feminismo e por querer me entender melhor. O processo de solidão da mulher preta”, diz sobre a música. A última a ficar pronta foi “Vácuo”, que chegou a ter quatro versões. “O mais difícil foi achar uma densidade para a letra desse som. A gente queria conversar com as coisas martelando na nossa cabeça, a simulação que vivemos. Além de que a batera do Serginho é meio descompassada, difícil de entender”, comenta sobre a track.

Além do músico e produtor musical, Bebé conta com participação de Bruno Rocha, nas letras e na direção do videoclipe “Saltos de Realidade”, Ana Frango Elétrico, Fabríccio, Vitor Milagres e Lello Bezerra. Filha de uma produtora executiva com um violonista, a jovem também tem um irmão músico, o Felipe Salvego, que deu uma força em algumas letras das músicas.

“Ao mesmo tempo em que eu compunha desde os oito anos, nunca peguei firme para gravar, então foi um processo de autoconhecimento e amadurecimento”, conta Bebé. Sem os encontros com Sérgio após o início da pandemia, o jeito foi finalizar as faixas no quarto e manter contato pela internet. “Fiquei trancada dentro de casa fragmentando melodias. Mandava para ele, chegava uns grooves, beats e programações”, lembra.

Mesmo sendo um disco com uma sonoridade que bebe do Indie Pop e do R&B, Bebé conta que seria impossível desassociar as suas criações da sua bagagem como cantora de Jazz. Como referências, cita o saxofonista estadunidense Wayne Shorter, assim como a produtora inglesa Micachu, além de prestar atenção ao som industrial e se interessar por sonoplastia. “Apesar de ser um disco Indie, ele tem a minha raiz, fui entendendo que tem um pouco do Jazz. Tem todas essas conexões da improvisação das melodias e coisas do Hip Hop também”, explica.

“Ao mesmo tempo em que eu compunha desde os oito anos, nunca peguei firme para gravar, então o disco foi um processo de autoconhecimento e amadurecimento. Um marco por me lançar como compositora, mas também como produtora musical”

Fã das cantoras americanas Ella Fitzgerald e Billie Holliday, Bebé também quer entender mais sobre o papel e o lugar das musicistas, como no caso de Alice Coltrane e Esperanza Spalding. Mesmo imersa em música desde cedo, Bebé não se enxergava no papel de compositora ou produtora. Entretanto, o primeiro beat que produziu no Ableton virou a base da faixa “Sinais Elétricos na Carne”, e a sua pesquisa de batidas e sons se tornou um projeto paralelo, o Salvegod. “A proposta desse som é confundir a cabeça. Sinais representa o barulho e o som da eletricidade no nosso corpo”, escreveu em post no Instagram.

Para Bebé, a questão da pouca representação feminina na produção musical tem a ver com as referências ou a falta delas. “Geralmente são os homens se ajudando, um ensina pro outro e eles não chamam a menina que está se interessando para participar. Nunca imaginei que estaria me conectando com isso”, conta. O ponto de virada foi conhecer a turma do selo Bastet, um espaço seguro para errar e aprender sobre programas de áudio.

“Principalmente pra galera da minha geração – e para as meninas –, acho importante ter ambientes assim para valorizar o processo de composição, que expandam a nossa consciência de que a gente pode fazer também. Sinto que está bem saturado: ter uma expectativa midiática do que ter o processo de entender a sua escrita, composição, sonoridade”, reflete.

No caso da artista, que vem acumulando experiência desde a infância, seja em casa ou quando participou do programa The Voice Kids e chegou a ser entrevistada no Programa do Jô, o disco representa um universo de possibilidades. “Um marco por me lançar como compositora, mas também como produtora musical”, explica.

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ARTISTA: Bebé

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