Para Bilhão, Comparações São “Começo de Diálogo, Não Redução”

Felipe Vellozo, metade do duo, comenta conteúdo e semelhanças em sua música

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“Para mim, esse disco é sobretudo de canção brasileira”, disse Felipe Vellozo em certo ponto de uma entrevista ao Monkeybuzz ao citar Bilhão, um lançamento que, desde antes de chegar, fazia comparações saltarem instantaneamente de bocas e dedos de formadores de opinião e outros engajados pela Web e além dela, daí o interesse por essa sua fala. “é sobretudo de canção brasileira, e a gente dá essa cara, esse formato mais estrangeiro, para dar uma refrescada”, explica ele.

“Acho que na estética do som, as pessoas identificaram algo mais gringo, mas acho que tem uma coisa ali que é da canção, e eu não sinto ela estrangeira”, comentou Vellozo, “pera fazer canção, eu escutei os caras da canção – eu escutei o Djavan inteiro, de frente pra trás, de trás pra frente, inúmeras vezes. Mas é engraçado, não é o que a galera fala, né? Fala Real Estate, The War on Drugs, Tops…”.

Bilhão trabalha assim, dialogando o conterrâneo e o estrangeiro, o objetivo e o subjetivo, a letra e o instrumental, tudo da melhor forma com que esta geração tem produzido. “Eu estava querendo falar sobre lua, aí não tem como botar um violão de nylon, não tem como juntar essa estética tão pra dentro, tão mínima, para mostrar um trânsito tão externo”, conta ele, “eu tenho que botar reverb, tenho que botar uma espacialidade no som. Aí acho que o recurso estético da canção gringa veio mais para dar conta do imaginário poético, mas é um disco de canção brasileira, eu acho”.

Justamente por estar conectado a realidades tão diferentes, o músico afirma que as comparações são “um começo de diálogo, não uma redução”: “Se o cara falou que é igual Real Estate, diz mais sobre ele do que de mim, sacou? Diz que ele escuta e gosta de Real Estate, de que tem uma sensação boa, que as coisas que Real Estate constrói na vida dele, ele me vê construindo coisas semelhantes”.

E “diálogo” parece ser a chave para entender o conteúdo do disco, que chega não de forma óbvia, mas com camadas a serem decifradas – ou melhor, interpretadas. “Eu ouço as pessoas falando assim: ‘o tempo passa gordo e devagar o caramba, ele passa rapidão’, aí eu falo ‘então, passa rápido pra caramba, mas pensa se não passa devagar também, quando você dá um beijo na sua namorada’. Acho que a arte tem isso de desvendar mundos”.

A canção que apresentou Bilhão ao mundo, Atlântico Lunar, vem não só para esse exemplo de subjetividade na interpretação, mas como Vellozo enxerga também o momento que a banda vive. Ele conta que a faixa é sobre “como a gente pode viver várias temporalidades em um mesmo momento”, um conceito que retorna também ao que acontece com a estética múltipla que a dupla propõe.

“Bilhão faz parte de um momento da gente ser sempre contemporâneo e das nossas produções serem sempre contemporâneas”, explica ele, “eu escrevo no momento do Real Estate, do The War on Drugs, a gente é contemporâneo. Estou inserido nisso. E o mais legal é você perceber o que está acontecendo não só para fazer o que estão fazendo, mas para saber também o que é que está faltando, sacou?”.

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ARTISTA: Bilhão
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.