PC Music e os caminhos do Pop

Entre singles, EPs e discos, selecionamos dez que explicam a influência do selo londrino

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Fotos: Divulgação

Em 2013, o músico recém-formado A. G. Cook começou um projeto para colocar em prática conhecimentos de A&R (área da gravadora que cuida de “Artistas e Repertório”) e criou um selo, a PC Music. Angariando artistas entre seus conhecidos da faculdade de artes e da cena cultural de Londres, no mesmo ano, Cook e nomes como Hannah Diamond, Danny L Harle e Sophie passaram a divulgar singles no SoundCloud. Esses lançamentos iniciaram a formação da identidade fofa e cafona – em proporções iguais – da PC Music nos anos que se seguiram.

A escalada foi veloz: durante o ano de 2014, primeiro da label em pleno funcionamento, os lançamentos chamaram a atenção de público e crítica e alguns alcançaram mais de 100 mil execuções, tornando a PC Music um dos selos mais interessantes na ativa, de acordo com publicações como Spin, Resident Advisor, Fact, entre outras.

Essa atenção nem sempre foi positiva. A sonoridade e a estética bem saída-da-facul-de-artes, escoradas em ironia leve e exagero, podem ser interpretadas de jeitos bem diferentes a depender do ouvinte. Os inflexíveis podem dizer por aí que é a “pior coisa que aconteceu com a Dance Music em anos recentes”. É inegável, no entanto, que a PC Music simplesmente aconteceu – e se tornou um dos acontecimentos mais importantes da música Pop ocidental nos últimos dez anos.

O final da década passada comprovou de vez o impacto do selo. Além de reconhecimentos importantes, como o álbum de estreia de SOPHIE ter sido indicado ao Grammy de Álbum Eletrônico do Ano em 2019, artistas produzidos por ou ligados à PC – como Hannah Diamond, Charli XCX, Kim Petras, 100 gecs, Dorian Electra, Caroline Polachek – soltaram grandes trabalhos no mesmo ano. Se um artista foi apontado como o “futuro da música Pop” nos últimos anos, é provável que ele esteja associado à PC Music de alguma forma.

Nesta nova década, é impossível saber o que o tal do futuro do Pop nos reserva, mas uma coisa é certa: todos estarão atentos aos caminhos da PC Music. De olho nesse futuro próximo, reunimos 10 trabalhos lançados pelo selo desde sua formação que resumem, de alguma maneira, a história, os sons, as propostas e as ambições artísticas do selo.

A.G. Cook – “Beautiful” (2014)

A.G. Cook é não apenas o fundador e algo como o Berry Gordy (cabeça pensante por trás da lendária Motown) da PC Music, mas também o produtor de alguns dos maiores hits e faixas mais significativas da label. Um dos primeiros lançamentos do selo foi “Beautiful”, single com capa e som que expressam bem o que ficou conhecido como “Bubblegum Bass” – gênero cuja criação é atribuída a A. G. e a outros artistas associados à PC, como SOPHIE: uma versão hiperbolizada do Pop por meio de uma face mais fofa e feminina da Dance Music, com vocais em pitch alterado, cortados e colados o bastante para se mesclarem a batidas e sintetizadores açucarados.

Kane West – Western Beats (2014)

Mas nem só de Pop fofo vive a PC Music. Ainda em formação, em 2014, a label apresentou diversidade com o lançamento do EP Western Beats de Kane West – pseudônimo do produtor e instrumentista Gus Lobban, um terço do grupo de Pop inglês Kero Kero Bonito. Western Beats continua, é claro, passeando pelos arredores da Dance Music, mas os timbres de Kane West vão mais para os lados de House e Disco. Além do som, a capa do EP em fonte Comic Sans e o nome do produtor são típicos do deboche pós-irônico da PC Music.

Danny L Harle – Broken Flowers (2015)

Se 2013 foi ano de criação da PC Music, e, 2014, ano em que ela decolou, 2015 trouxe a verdadeira consolidação. A prova cabal veio a partir do contrato com a grande Columbia Records, que rendeu o primeiro lançamento da parceria, o EP Broken Flowers, estreia do produtor Danny L Harle. O trabalho de Harle em Broken Flowers é um pouco mais experimental do que a PC Music havia mostrado até então e incorpora transições rápidas e barulhentas a batidas de trance e samples de sons da natureza. O resultado poderia fazer parte da trilha sonora de Zelda.

Hannah Diamond – “Hi” (2015)

Desde o começo, Hannah Diamond apareceu como uma das artistas mais importantes para definir a identidade da PC. Isso porque a cantora, dona de alguns dos primeiros lançamentos da label – como os singles “Pink and Blue” e “Attachment” –, tem como marca registrada não apenas a voz suave e doce, quase infantil, mas também as letras sobre o amor na era digital. “Hi” discorre sobre relacionamentos online, segundo Diamond, “não com uma pessoa específica, mas com todas as pessoas com quem você interage.” O refrão diz: “Eu não quero estar sozinha no meu quarto, escrevendo mensagens que você não vai ler.”

GFOTY – Call Him a Doctor (2016)

A canção Pop pós-irônica, distorcida e exagerada chegou ao seu máximo com o EP de estreia da cantora Polly-Louisa Salmon, ou GFOTY (uma abreviação de Girlfriend of the Year). Call Him a Doctor é um misto de canções que parecem parodiar os clichês estéticos e temáticos da música Pop dominante nas paradas (a letra de “The Argument” é uma junção de palavras que não fazem sentido juntas, supostamente tirando sarro das letras fúteis de hits Pop). E, ao mesmo tempo, apresentam propostas sonoras que poderiam expandir a paleta do que é considerado Pop (como mostrado na barulhenta “Lemsip”).

Danny L. Harle – “Super Natural” (2016)

Assim que a PC Music passou a voar alto, as colaborações com artistas mais populares começaram a pipocar de jeito cada vez mais intenso. Em 2016, SOPHIE e Hannah Diamond tiveram participações no EP Vroom Vroom, de Charli XCX. No mesmo ano, Danny L Harle lançou o single que, não surpreendentemente, se tornaria o maior de sua carreira até então: “Supernatural”, com participação de ninguém menos do que Carly Rae Jepsen. O produtor também trabalhou com Caroline Polachek (do Charlift) e Clairo nos últimos anos.

Tommy Cash – “Little Molly” (2018)

Embora a label flerte com tendência do Hip Hop em diversos momentos, o único artista que se define como rapper na PC Music é o estoniano Tommy Cash. “Little Molly” é, como o nome sugere, uma ode a drogas que não fica longe do lugar em que muitos dos rappers mais ouvidos na última década estiveram – performada com um irritante toque de deboche, sobre um beat que começa com pianos, graves e hi-hats também bem reconhecíveis. Mas, como já é do costume de A. G. Cook, explode em viradas e ruídos ao fim da música. Dialogando com sua faceta de rapper, Tommy é também um artista conceitual cujas performances e instalações trabalham ao redor dos temas de sexualidade e violência exacerbadas. E, pois é, não é pra todo mundo.

Umru – Search Result (2018)

Umru é uma cara relativamente nova na PC Music (Search Result foi seu primeiro lançamento pelo selo). Mas sua mistura contemporânea de Pop com glitch e graves estourados, que acabou conquistando espaço em trabalhos como Charli (2019), de Charli XCX, e Flamboyant (2019), de Dorian Electra, se tornou rapidamente um dos sons-assinatura da label. Em Search Result, Umru ainda trouxe novos nomes para os holofotes que iluminam a PC Music, como Laura Les, metade do 100 gecs, e a cantora australiana Banoffee.

Hannah Diamond – Reflections (2019) 

Reflections é um dos poucos discos cheios lançados pela PC Music e o primeiro de Hannah Diamond, que até então contava com só com singles e EPs, apesar de ser um dos maiores nomes do selo. A consolidação do trabalho de Diamond veio em boa hora: 2019 foi o mesmo ano em que Charli XCX lançou, finalmente, seu tão aguardado terceiro álbum de estúdio, e foi o ano de estreias solo de artistas como Caroline Polachek e Slayyyter. Com o futuro do Pop se desenhando para a próxima década, Hannah Diamond e PC Music deram sua contribuição final com Reflections.

Planet 1999 – Devotion (2020)

Esse último lançamento é uma espécie de aposta, já que o EP completo será lançado somente na sexta-feira, dia 6. Mas pelos singles já disponíveis (“Spell”, “Party” e “Replay”), vale a pena esperar pelo primeiro lançamento da PC Music nesta nova década: o trabalho de estreia do trio Planet 1999. O projeto parece ser um pouco menos pop-estranho do que o normal para o selo e conta com uma sonoridade mais suave, mas não menos moderna – uma espécie de Slowdive dos anos 2020.

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