Peaches: a Multiartista Revolucionária

Canadense é um dos maiores ícones da Eletrônica por usar palco como vitrine de novidades tecnológicas

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Feminista, politizada, engajada e exagerada são alguns dos vários outros adjetivos bem positivos que eu poderia continuar listando Merrill Beth Nisker: uma quarentona tresloucada conhecida por Peaches. A canadense hoje residente em Berlim trata-se de um dos maiores ícones do Electroclash. Há anos ela vem misturando letras com alto conteúdo sexual, sintetizadores, guitarras e muitas luzes high-tech, o que a tornou uma das mais peculiares e divertidas artistas Eletrônicas underground dos últimos tempos, conhecida por suas performances repletas de tecnologia, anarquia e, claro, lascívia. Com um figurino sempre bem pautado no exagero, Peaches consegue misturar uma irreverência típica de uma figura única que quer mostrar que bebe da mesma fonte que Iggy Pop e Shunda K bebem, do Rock ao Pop, do Eletrônico ao Hip Hop.

A produtora nasceu em berço Folk com um falatório bem sujo, juntou forças com Chilly Gonzales no projeto The Shit e hoje serve como referência na indústria Pop e na cena Eletrônica, não só com suas composições, mas com suas produções, seu talento em cima do palco, sua habilidade em tocar todos os instrumentos e ainda a ousadia de trazer novidades tecnológicas em cada performance que só uma Björk da vida iria entender. E talvez eu citei esse último nome, amplamente conhecido por sua esquisitice, porque essa característica empurra nossos artistas a um nível que não estamos tão acostumados. Peaches produziu seus quatro álbuns, compõe suas músicas, além disso ela escreve peças e é diretora de teatro, já fez turnê no mundo inteiro, e traça um caminho cheio de controvérsias dentro de sua carreira que é de se encantar. Merrill é uma daquelas artistas completas que vão do comercial ao conceitual, que sabe mastigar a teoria para a rádio e sabe fazer uma apresentação com última tecnologia diante de um público imenso de um festival que não sabe o que está acontecendo.

Há 14 anos, foi lançado Teaches of Peaches, álbum que projetou a cantora na cena musical e rendeu boa parte do que estourou a artista. As faixas Fuck The Pain Away e Set It Off já foram utilizadas em trilhas sonoras de vários filmes e episódios de seriados, como Ugly Betty, The L World, True Blood e South Park. As músicas aqui são super densas e guturais, embasadas em samples de pick ups, tons de baixo e muita energia de bateria. Após o Teaches of Peaches, a cantora produziu o Fatherfucker (2003), o Impeach My Bush (2006) e, por ultimo, lançou o I Feel Cream, em 2009, focado principalmente no conceito de “Quem é Peaches e o que ela faz?”, foi quando ela se envolveu com os maiores nomes do eletrônico, trabalhando com Soulwax, Simian Mobile Disco, Digitalism, Shapemod e Drums of Death. Enquanto lá trás ela buscava trazer o elemento surpresa, com as quebras de expectativa, aqui os elementos organicos que traziam a atmosfera do trabalho.

É difícil categorizar Peaches em um só gênero visto que a produtora não consegue se enxergar em um só estado por muito tempo. Por essa diversidade toda que já foi chamada para colaborar de nomes que vão de Yoko Ono até Christina Aguilera, passando até pelo penultimo trabalho do Major Lazer, Free the Universe. Além disso, a cantora, vira e mexe, faz vídeos pro seu próprio canal de youtube mostrando um pouco de sua tour e de da “realidade Peaches”, mostrando o dia-a-dia, seus sets, seus figurinos, as performances no palco e a energia do público. Uma jogada de marketing excelente, já que é impossível ver um vídeo desse e não desejar fazer parte da insanidade e psicodelia musical que um show desse nível trasmite. “Sendo Peaches você pode ser o que você quiser”, sempre enfatiza a cantora. Peaches sempre se fantasia (dos figurinos mais bizarros possíveis), toca harpa com lasers, interage com o público, sobe em pickups, é a típica porra louca que possa ter dado asas a retardatalhas, como Ke$ha ou Lady Gaga, por exemplo.

Os “ensinamentos de Peaches” perduram muito além da música. A produtora vai fundo no seu ativismo a luta pela igualidade de gêneros, pega sua expertise e seu curso em direção em teatro para montar os maiores espetáculos que envolvem música Eletrônica politizada e sexualizada, traz consigo as maiores inovações no mundo da tecnologia para o palco em forma de instrumento, sintetizadores, instrumentos, canhões de luz, projeções. Tudo isso para mesclar o que consumiu nas últimas décadas no Punk, no Disco, no Pop, para montar, na música eletrônica, o EletroClash que misture todos esses elementos que ilustram sua história. Peaches é velha guarda, daquele tipo de artista que vai pro estúdio, grava cada instrumento na mão, produz cada faixa, compõe cada letra, pensa em cada marcação no palco, bola cada estratégia de iluminação de palco, cada ideia nova a ser implementada, tudo para conseguir plantar uma semente de discórdia ou reflexão em sua audiência. Peaches é uma inspiração.

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ARTISTA: Peaches
MARCADORES: Electroclash

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King