Qual o Impacto da Compra de Selos Independentes por Grandes Gravadoras?

Após grandes aquisições recentes de selos, analisamos quais podem as consequências dessas aquisições na liberdade criativa do cenário Indie

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Na semana passada, Stephen Cooper, CEO do Warner Music Group declarou acreditar que a compra de selos independentes por grandes gravadoras tende a crescer muito neste ano. Não é segredo nenhum que na última década as gravadoras estão procurando maneiras de se reinventar e conseguir manter sua fatia de mercado em meio a evolução da distribuição de música digital e da produção independente no mundo.

No ano passado, a Universal comprou o selo EMI, tornando-se a maior potência da indústria fonográfica mundial. Porém, as autoridades antitruste dos EUA e da União Europeia, responsáveis por proibirem ações que prejudiquem a livre concorrência em um determinado setor, exigiram que o grupo vendesse a Parlophone, casa de nomes como Coldplay, Blur e Pink Floyd.

Aproveitando a deixa, no mês passado, a Warner anunciou que compraria o selo por 487 milhões de libras, notícia que deixou os interessados por música animados, já que a Warner passaria a ser o terceiro grande grupo a entrar na concorrência com a Sony e a Universal, tornando o mercado mais competitivo e fértil para bandas e novos lançamentos.

Com isso, entre os selos independentes, a recepção causou repercussão bastante positiva, já que especialistas acreditam que no cenário musical atual, com essa grande disputa entre os três grandes grupos, uma maneira que estes encontrarão para se destacar e se diferenciar dos demais poderá ser a aquisição de selos independentes. Além disso, se considerarmos estes selos também como concorrentes das grandes, com três competidores na liderança ao invés de dois, o mercado fica menos monopolizado, abrindo mais espaço para novos entrantes.

Martin Mills, do site americano Beggars Music, que possui parceria com selos como a 4AD, Matador e XL Recordings, acredita que tais aquisições trarão grandes benefícios para o mercado. E Charles Caldas, da Merlin, empresa responsável por negociar os direitos dos artistas de alguns dos maiores selos independentes conta que com apenas duas grandes empresas dominando o mercado, a perspectiva de surgirem novas e melhores opções de consumo de música digital ficava cada vez menor e com essa aquisição a esperança voltou. Ele aposta que os serviços de distribuição digital estarão mais livres para continuar o trabalho de reinventar a indústria musical.

O grande medo de alguns céticos com todas essas aquisições é de limitarem a liberdade dos selos e dos artistas em lançarem novos trabalhos. Cada uma dessas empresas negociam de maneiras distintas com os artistas, alguns oferecem ajuda na produção, possuem estúdios próprios, boas equipes técnicas, outras ajudam mais na distribuição e comunicação, portanto é difícil generalizar. Porém, o ponto em comum entre todas as empresas que trabalham com bandas independentes é o trabalho de curadoria que fazem.

”Todos vão ouvir algo que a Sub Pop ou a Secretly Canadian lançarem pois provaram durante anos que possuem ótimo gosto para música”

Conversamos com Beth Martinez da Danger Village que faz um trabalho de relações públicas para artistas independentes e ela acredita que está sendo criado um novo modelo na indústria fonográfica: “Se uma banda pode contratar um RP e distribuir sua música online, a maior vantagem que um selo tradicional pode trazer é ser conhecida como um formador de opinião. Por exemplo, todos vão ouvir algo que a Sub Pop ou a Secretly Canadian lançarem pois provaram durante anos que possuem ótimo gosto para música”.

Se esse trabalho de curadoria for interferido nessas negociações, é possível que o conceito e o grande diferencial de ser um selo independente se perca e os danos para a música poderão ser grandes. O que nos resta é continuar acompanhando como a indústria se comporta e continuarmos torcendo para que nossas bandas favoritas continuem com toda sua liberdade criativa preservada.

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MARCADORES: Selo

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.