Quando Phoenix Deixou Mozart de Lado

“Wolfgang Amadeus Phoenix” permanece como a obra-prima do quarteto francês

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Phoenix – Wolfgang Amadeus Phoenix

Se existe um álbum impossível de ser descrito sem alguns exageros é Wolfgang Amadeus Phoenix, até porque ele é uma hipérbole por si só. Sendo assim, com sua licença e permissão, preciso afirmar que a obra-prima que Phoenix lançou em 2009 conquistou seu direito de figurar no Olimpo da indústria fonográfica ao compilar dez brilhantes faixas que beiram a perfeição. Ou, em termos mais humanos, ele merece como poucos estar em sua lista de favoritos.

A natureza do álbum é esse exagero, uma grandiosidade, de músicas muito densas sonoramente e que conseguem ser leves mesmo assim. Ele te chama pra dançar e cantar ao mesmo tempo em sua pouco mais de meia-hora de duração, a começar com Lisztomania já na abertura.

Faço aqui uma pausa para comentar o que alguns (mais mal humorados) certamente estão pensando. Sim, essa música já foi superutilizada em playlists, baladas e como trilha em vídeos do YouTube. Mas, cá entre nós, isso é totalmente justificável, já que se trata de uma faixa tão excelente assim. Se você já enjoou dela, tente se lembrar como foi a primeira vez que você ouviu estes acordes e batidas.

Sim, perfeição. E o melhor de tudo é que ela pode ser a mais famosa, mas não é necessariamente a melhor. Nem pior, na verdade. É que você começa a ouvir o disco e a qualidade simplesmente não cai. Ou, mesmo se você acha que caiu, logo repara que todas as faixas (sim, todas) tem muitas qualidades.

Nem digo isso de leves impressões minhas, mas de ver a reação de todo mundo que ouve o disco ou o quanto eu analisei cada faixa naquela época (foi preciso Arcade Fire lançar The Suburbs e Sufjan Stevens seu Age of Adz pra eu ouvir outra coisa além desse e de Strict Joy – e isso já era 2010).

1901, por exemplo, é a sequência certa para Lisztomania. Ela “não deixa a peteca cair” ao continuar as melhores qualidades da anterior, seja na mistura bacana de sintetizadores e guitarras ou nos versos tão musicais (como “Past and present they don’t matter now the future’s sorted out”) sob o sotaque carregado de Thomas Mars e a percussão sempre tão marcada.

Phoenix – 1901

Daí, quem achava que o disco seria um grande “mais do mesmo” estava totalmente enganado, já que Fences aponta para um outro lado. Ela também é dançante, mas com um groove diferente e uma pegada mais tranquila que as anteriores, porém que não se repete ao longo do álbum.

E, no fim das contas, você percebe que Wolfgang Amadeus Phoenix é construído em torno dessas diferenças das faixas, sendo sua qualidade a maior característica que elas tem em comum.

Tem a odisseia Love Like a Sunset dividida em duas partes (a primeira delas instrumental), o Pop contagiante de Lasso e a intensidade de Countdown, que pode até lembrar 1901, mas não se parece em nada com Lisztomania. Nessa variedade toda, o disco fica marcante sem ser cansativo.

Além de seu aspecto musical, como já contei, outra coisa interessante nas letras do álbum é o quanto elas criam cenas bem visuais com palavras simples. São metáforas que conseguimos facilmente ver como uma pintura, fotografia ou mesmo em um filme – talvez pelo relacionamento do vocalista com a cineasta Sofia Coppola.

Seja no “I stand outside under broken leaves” de Rome ou no verso que batiza Love Like a Sunset, parece que os versos estão ali na música mais pela sonoridade das palavras em inglês (uma língua estrangeira para os franceses da banda), mas que conseguem passar esse significado mais visual, ou mais literário, no todo.

Por fim, resta falar que mesmo as músicas que menos nos chamam a atenção de primeira podem virar favoritas com o tempo: Girlfriend e Armistice, que juntas tem a missão de concluir o disco e te convidar para o replay – uma tarefa que elas e as outras tiram de letra.

E é por coisas assim, desde a brincadeira com o nome do compositor Wolfgang Amadeus Mozart (um ataque de egocentrismo ingênuo do quarteto) até os versos e melodias que ficarão grudados na sua mente pra sempre, que Phoenix criou uma obra que nunca ficará velha (para o seu próprio azar, já que será a medida pela qual todas as outras criações da banda, a começar por Bankrup!, ser]ao medidas).

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ARTISTA: Phoenix
MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.