Quem Merece Ser Headliner dos Grandes Festivais?

Hoje o mundo inteiro virou seus olhos para o line up do Coachella. O festival assustava os produtores do Lollapalooza Brasil (e seus adeptos) pelo fato da possibilidade de choque entre as datas, ou seja, quem tocasse lá (e todos sabem que os maiores e melhores sempre estão presentes) não pisariam em solo brasileiro. Acontece que as datas não são as mesmas mais e, inclusive, headliners do festival catalão estarão presentes também no festival do deserto de Indio. Muse, por ser headliner de sábado, tem o nome em maior destaque, acima de Pet Shop Boys, Queens of the Stone Age e Pharrell Williams. Arcade Fire, headliner de domingo, tem fonte maior que Beck e Disclosure. Sem contar nomes como Capital Cities, Naked and Famous, Mogwai, Solange, Banks, Tiga, Foxygen, não receberem merecida atenção. O fato, que deixa muitos fãs com raiva e produtores incrédulos, anda bastante recorrente. O que significa essa discrepância? Quem define e como é definida a ordem desses flyers?

Deixemos um pouco a diagramação do Coachella de lado e analisemos um pouco o line up recém-lançado no final do ano passado. Dois dias, duas atrações principais: Muse e Arcade Fire. Duas atrações secundárias: Sound Garden e Nine Inch Nails. Até aí tudo bem? Analisamos a segunda linha e nos surpreendemos com alguns detalhes. Imagine Dragons e Phoenix com maior visibilidade que ninguém menos que os pais do Rock Progressivo, os percussores da sintetizadora em estrutura Rock, New Order, na terceira. Ellie Goulding acima de Savages e Cone Crew Diretoria acima de Digitaria. Não estou pontuando gosto musical aqui, e sim relevância durante o ano associado à proposta do festival.

E então agora voltamos para Coachella: OutKast é o hype do momento por declarar retorno (até então sem saber até onde vai essa junção). Mais uma vez Ellie Goulding aparece na frente de artistas como Bonobo, AFI e Flume. Zedd maior que Chomeo. E ali, quase que imperceptível na quarta linha, Duke Dumont, um dos grandes nomes de 2013. Os dois sábados estão organizados da seguinte forma: Foster the People (apenas lembrando que depois de muito tempo sem ouvir falar da banda, há confirmações de um álbum em 2014) na frente de Cage the Elephant, CHVRCHES e Banks (com seus incríveis trabalhos no último ano). E, pra fechar, os domingos, Lana Del Rey desbanca Motorhead, Flosstradamus, apesar de ser uma grande aposta para 2014, passa mais confiança que Chance the Rapper e suas incríveis rimas de 2013.

Tudo isso se baseia no que? Obviamente que tudo vem como uma jogada de marketing forte associada a jogos de interesses para o próximo ano. Enquanto o marketing musical procura trazer evidência a nomes que estão com número de popularidade maior (e não necessariamente um trabalho de qualidade recém-lançado), o jogo de interesse vem para poder moldar uma cena musical internacional no próprio ano. Sim, o Coachella, como um dos maiores (se não for o maior) festivais do ano, tem uma influência massiva em como as tendências se construirão em 2014. O evento serve como holofote de evidência para muitos projetos. Várias bandas usaram do Coachella para fazer seu retorno, para testar próximos singles ou até divulgar um próximo trabalho. Uma boa oportunidade para uma novidade ou criação de mercado, quem se esquece do holograma de Tupac em 2012? Lembram também do estouro que foi ver pela primeira vez Get Lucky do Daft Punk? Diante de tudo isso, preciso falar que o Lolla, em sua proporção, também influencia o Brasil (e, por consequência, Argentina e Chile)?

Além disso, há também todo o marketing de cada banda entrando em ação. Aproveitar a oportunidade de estar diante de 75 mil pessoas, as mais antenadas em música, formadores de opinião, críticos, músicos, jornalistas, etc, é inteligente e quase obrigatório. Arcade Fire, com seu Reflektor, atingiram a vaga de competência, mas Muse já disse que álbum novo somente em 2015. E outra, será que The 2nd Law trouxe barulho suficiente pra levá-los como atração principal de dois festivais notáveis? Especulações já sairam sobre um possível lançamento de material no primeiro semestre e teste nos palcos do deserto. Assim como a surpresa do “novo show” do Arcade Fire, retorno de projetos servindo de inspiração, estreias de novos e talentosos nomes como HAIM, Lorde, Disclosure, Banks, cada um com a responsabilidade de aproveitar a chance de desenhar o futuro em 2014 em poucos minutos ali em cima e disputarem uma vaga e fonte maior no ano seguinte.

Mas e quando a estratégia mais parece desleixo da produção? O Rock in Rio 2013 deixou passar um incrível palco eletrônico despercebido. Enquanto anunciavam David Guetta, Gesaffelstein, Brodinski e Tiga ilustravam a tenda eletrônica no outro extremo da cidade do rock. Isso pra não citar mais nomes. Claro que o francês-Guetta tem uma popularidade que se encaixa bem mais suave na proposta comercial do RiR, mas será que é realmente válido deixar passar um bom braço eletrônico (talvez ainda mais ousado que o line eletrônico do próprio Lolla desse ano) com indiferença? Acredito que não só eu, como muitos, iriam na Barra. Não pra ouvir os hits de rádio do Palco Principal, mas sim nos deliciarmos na nova obra de arte de Aleph.

Apesar de todas as estratégias, marketing e políticas envolvidas, artistas bons estão com devido (quase) mesmo espaço, dividindo (quase) o mesmo tempo de apresentação e (muit raramente) as mesmas condições de som. O festival californiano se mostrou mais versátil e aceitou uma invasão pesada da Austrália no festival, a produção do Lollapalooza, mesmo com severas críticas do público brasileiro, mostra o dedo do meio para todos provando que acertou com o line up do Coachella. E esse, por último, continua fazendo história, prestigiando novos nomes e sendo referência em música e produção cultural no mundo. Afinal, o Sol californiano é justo para todos.

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Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King