Quinze Novos Artistas Europeus Para Conhecer

Monkeybuzz esteve no Trans Musicales, festival francês acostumado com descobertas musicais

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Fotos: Nicolas Joubard

A dificuldade em manter curadoria e objetivos de um festival ao longo do tempo é notória. O que dizer quando a missão de um evento é criar espaço para novos nomes musicais, quase desconhecidos em seu próprio continente e, ainda assim, ser o ponto de partida para futuros artistas de uma geração? O Trans Musicales, tradicional festival musical de Rennes na França, chegou em 2016 à sua 38ª edição focado em seus princípios e conseguiu, ao longo de quase quatro décadas, revelar nomes e apresentar artistas antes do estrelato, como Nirvana e Stromae, por exemplo, sem colocar “headliners” em seu cartaz. O Monkeybuzz esteve na capital bretã a convite de Bureau Export, ONG francesa que promove o intercâmbio entre artistas e profissionais da música francesa, para descobrir o quais novidades podem vir do Velho Mundo.

Enquanto o Trans Musicales é gigante – espalha-se por casas de show famosas de Rennes e conta com uma edição noturna em galpões de um antigo aeroporto desativado – o Bars En Trans, evento colega, porém independente, é minimalista e espalhado por diversos bares. Com shows em palcos de diferentes tamanhos, públicos e formatos, o Bars En Trans é outra porta de entrada para novos artistas e proporciona experiências mais intimistas com músicos que podem, em breve, estar disputando a atenção de milhares de pessoas. Ambos aconteceram simultaneamente entre os dias 1 e 4 de Dezembro e tornaram Rennes o ponto de encontro de descobertas. Entre tantas apresentações, selecionamos os quinze nomes europeus que chamaram a nossa atenção e que você deve conhecer.

Adam Naas

A voz pulsante e delicada do músico parisiense o coloca rapidamente entre os candidatos a hits de sucessos futuros. Vê-lo ao vivo consolida tal constatação: seus trejeitos de artista e atitude de palco são ideias para concertos intimistas, porém suas músicas podem ser reverberadas em arenas. Cantando em inglês e com composições elaboradas, Adam não tem vergonha em ser Pop sem ser redundante e tem a chance de ser visto ao vivo em São Paulo na Semana Internacional de Música de 2016.

Aquaserge

Uma das grandes surpresas do Trans Musicales, o grupo captura a identidade da “música de autor francesa” e a mistura com elementos percussivos africanos e arranjos brasileiros em uma formação interessante que transporta o ouvinte para outra década – assistir a seus vídeos é um bom exemplo dessa “máquina do tempo”. Como se Serge Gainsburg tivesse tomado ácido, o grupo é psicodélico na medida certa e, ao mesmo tempo, distinto, fugindo de clichês.

Barbagallo

Conhecido como “baterista do Tame Impala”, o músico também fez parte de outras bandas, como Aquaserge, antes de se aventurar em carreira solo. Acompanhado de uma ótima banda, Barbagallo canta enquanto despeja suas batidas quebradas em um Pop Psicodélico grandioso cantado em francês. Troca-se guitarra por violão e concentra-se sobretudo em ótimas linhas de sintetizadores. Agora, após hiato de sua banda australiana, poderá mostrar seu trabalho solo pelo mundo.

Feynman

Eletrônico e experimental, o produtor francês sabe utilizar-se da escola musical do país para criar a sua própria paisagem sonora e explorar as pistas de dança de forma pouco usual. Seu primeiro disco, Air, é um passeio interessantíssimo e nada óbvio – ao vivo, percebe-se que suas músicas sabem segurar pista e, ao mesmo tempo, fazer a audiência viajar.

Fishbach

Talvez uma das artistas mais poderosas de sua geração, a novata Fishbach realizou quatro concertos seguidos em um teatro de Rennes na chamada oficina criativa do Trans Musicales. A curta residência – feita também por Stromae em 2010 – mostrou uma cantora performática e uma apresentação teatral chocante. Seu som flerta com os anos 1980, misturando Post-Punk com Synthwave, e consegue deixar densas canções acessíveis para dança, o que nos faz imaginar que sua carreira será seguida de muito sucesso. Uma artista de mão-cheia que segue o instinto dinâmico das artes francesas.

Ladylike Lily

Fofo e delicado, o Folk de Lily é quase um disco extra do filme Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Cantora local de Rennes, sabe utilizar-se de suas melodias em francês para criar sozinha um show fluído e encantador. Tem uma voz de fácil associação e seu EP de 2015, Dans la Matière, é repleto de ótimas canções. Provavelmente, deve fugir do regionalismo bretão para alcançar grandes palcos franceses em 2017.

Laura Cahen

Folk torto, sinuoso e com cara de trilha-sonora, a música de Laura pode ser muitas vezes introspectiva demais ao vivo. No entanto sua atitude de palco, voz aveludada e ricas melodias em francês tornam a experiência de ouvi-la interessante e nos fazem desejar o lançamento de seu primeiro disco, que sairá no começo de 2017.

Noiserv

Emotivo e, principalmente, melancólico, o concerto do músico português no Bars en Trans define bastante a personalidade de seu povo. Apesar de suas músicas serem majoritariamente cantadas em inglês, eventualmente algumas palavras em português surgem em composições de Pop Experimental que colocam Noiserv para tocar sozinho diversos instrumentos ao mesmo tempo – acordeão, violão, xilofone e sintetizadores são loopados e permitem um bonita “cama musical”.

Not Waving

Noise, Eletrônico e Experimental, o som desse produtor italiano é complexo e nada constante. Sua performance no Trans Musicales foi acompanhada de projeções sincronizadas que deixaram a audiência paralisada. Seu ótimo disco Animals, de 2016, é um bom ponto de partida para suas texturas quebradas.

Rejjie Snow

Irlandês, mas sem o sotaque característico do país, o rapper poderia ser facilmente confundido com algum membro do coletivo de Tyler, The Creator, Odd Future. Com apenas uma mixtape (Rejovich) e alguns singles lançados, o músico se mostra um compositor de hits de mão cheia como D.R.U.G.S e Pink Beetle. Ao vivo, Rejjie é acompanhado por uma ótima banda, algo que torna a experiência de seu show de Hip Hop muito mais interessante e próximo ao R&B. 2017 promete ser o seu ano, quando seu primeiro disco será lançado.

Requin Chagrin

Em face a tantos nomes com guitarras reduzidas e sintetizadores em excesso, surpreende ver um som voltado ao básico. Funcional, a banda traz toques ensolarados e composições que devem agradar aos fãs de Tops e Alvvays.

Sônge

Pop moderno e excêntrico, a novíssima cantora alterna-se entre Trap e Dance para criar uma performance misteriosa. Ainda em início de carreira, Sônge destaca-se quando escolhe o francês ao invés do inglês para cantar e pode ser considerada uma pedra preciosa que ainda precisa ser melhor lapidada. Porém, não estranhe vê-la em trilhas sonoras publicitárias em breve.

Super Parquet

Talvez o nome mais regional, mas ao mesmo tempo expansivo do Trans Musicales, o grupo Super Parquet é um choque temporal. Ao misturar Música Celta com música Eletrônica, os franceses proporcionam releituras de melodias quase cinematográficas que poderiam figurar nas trilhas sonoras de Game of Thrones e Senhor dos Anéis, por exemplo. Talvez por essa colisão é que consigam se comunicar tão bem com o público e façam um show tão poderoso.

Unno

Hip Hop, batidas quebradas, música Eletrônica e bastante trabalho de voz são alguns dos elementos dessa mistura francesa cantada em inglês. Com uma linguagem contemporânea na qual a incorporação de elementos estranhos combina como o shuffle de um iPod, Unno fez um dos shows mais elogiados do Bars en Trans e já nasce ambicioso.

Yuksek

Está com saudades do Electro de lives poderosos, como de LCD Soundsystem ou The Rapture? Esse produtor francês mostrou que, ao ser acompanhado de uma grande banda, consegue tocar em arenas facilmente. Intenso, seu concerto segue a metodologia das bandas acima ao colocar público em transe, mas também coloca todos para dançar quando chega ao House contemporâneo. Acompanhado do ótimo compositor e pianista francês Chassol, seu show foi um dos grandes momentos do Trans Musicales e seu novo disco é um dos mais aguardados pela imprensa francesa. Para quem ama Disclosure, Yuksek é também um prato cheio para renovação musical.

Estes nomes e mais alguns que vimos em Rennes estão na nossa playlist “Novos Artistas Europeus”.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.