Radar Rap BR 2020

Preparamos uma lista com dez novos nomes do Hip Hop nacional para você ficar de olho neste ano

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Foto: Felipe Alberto
Fotos: Felipe Alberto

Em uma indústria ainda em formação e engatinhando, como é o caso do Rap no Brasil, é difícil prever quem está prestes a estourar e a fazer sucesso em pouco tempo. Diferentemente do que acontece nos Estados Unidos, nem sempre o caminho percorrido por um artista brasileiro será a difusão no underground por conta de disco ou mixtape, para aos poucos alcançar o mainstream e se estabelecer com um guest verse de um provável equivalente nacional de  Drake ou JAY Z, por exemplo. Podemos, sim, traçar paralelos e comparar casos, como os de Lil Nas X e MC Caverinha, que, em apenas um ano, passaram de quase desconhecidos para sucessos incontestáveis em seus respectivos países, por exemplo. No entanto, essas situações são singulares.

Apesar de nos faltarem determinados indicativos, há artistas que merecem nossa atenção em 2020. Pode até ser que eles não estourem em breve, mas ficando com os olhos (e ouvidos) atentos, a garantia é de muito Rap bom durante o ano.

 

Leall

O carioca Leall despontou durante os últimos anos da década de 2020. A música “Cachorrada”, com participação de VND, conta com 950 mil plays no YouTube e é o seu grande acerto até aqui. Cria das favelas do Rio de Janeiro, o MC é um dos protagonistas do “BRime”, o movimento de Grime do Brasil – seu episódio no Brasil Grime Show é o mais visto do canal. Em 2019, Leall também participou de alguns shows de Baco Exu do Blues, teve apoio da Nike após o lançamento da música “Moda Síria” e promete uma mixtape ainda para o primeiro semestre de 2020. É um MC já bem lapidado tecnicamente no BRime, tem bons refrões e tudo para ser um nome fortíssimo desse ano.

 

Joca

No fim de 2019, Joca lançou um dos melhores álbuns de Rap do ano. A Salvação É Pelo Risco (2019) apresenta 23 minutos de uma interseção entre Rap, Música Popular Brasileira e Funk dos anos 70. “Eu nem sei porque eu faço Rap, meu sonho era cantar com Exaltasamba”, ele canta na primeira faixa. O disco de João Caetano refina a empreitada (por vezes, falha) de alguns MCs brasileiros que misturam Rap com MPB. Joca faz isso sem abandonar o flow afiado, sem deixar de lado o apreço pela rima e nos inserindo no universo de um jovem brasileiro por meio de um amplo leque de referências, que vai de Avatar aos disfarces no cabelo e Freefire. E, acima de tudo, sem colocar um pandeiro aleatório e brega apenas para dizer “ó, isso daqui é Brasil”. Ele tá mais para Movimento Black Rio, Soul Train. Joca também é co-produtor de seu próprio disco e abriu 2020 dividindo line-up com Ana Frango Elétrico (que participa do disco) e Rosa Bege. Demonstra ser um artista já pronto, apenas à espera de ser descoberto pelo público.

 

Underismo

É só ouvir o álbum R3sídu0$ (2018) e o EP Demotape (2019) para crer que o Underismo é das coisas mais interessantes que têm rolado na cena baiana e quiçá nordestina. O coletivo artístico apresenta enorme versatilidade entre seus integrantes, que variam entre MCs, beatmakers e artistas visuais: um experimento artístico completo e autônomo. Mesclando elementos do mainstream e do underground – principalmente com flertes pelo lo-fi –, os meninos já dominam a cidade de Salvador e são, com certeza, dignos de sua total atenção em 2020.

 

Doiston

Doiston é outro artista fora do eixo RJ-SP que ganha cada vez mais tração. Apadrinhado por Don L, o rapper de Fortaleza lançou um dos melhores trabalhos de Trap de 2019, o EP Foi Sal (2019). Região de nomes em grande destaque no sub-gênero, como Raonir Braz, Jovem Dex e Matuê, o Nordeste nos chama atenção pela quantidade de artistas originais que produz – e pode ser que Doiston seja seu próximo trapstar favorito.

 

Budah

A partir da segunda metade desta década, o R&B Contemporâneo vem se fundindo com mais solidez ao Rap nacional. Nesse contexto, com frequência, as minas são relegadas apenas a performar os refrões, suprimindo talentos  em favorecimento de malabarismo vocal. Budah traz esperanças e aspirações para além desse lugar estereotipado, tal qual nomes mais consagrados, como Drik Barbosa ou Tássia Reis, por exemplo. Dona de belo domínio vocal e de habilidade de composição acima da média, a capixaba faz parte do time da gravadora Altamira e, com alguns singles já lançados, nos deixa ansiosos por um trabalho completo.

 

nabru

Take ousado, mas vamo lá: é como se por um capricho geográfico, Cecília Meirelles nascesse em uma quebrada de Belo Horizonte em vez de em Rio Comprido, no Rio de Janeiro. O cotidiano é a matéria-prima para as crônicas de nabru, que já tem duas mixtapes lançadas e um EP colaborativo com o produtor gvtx. Lirismo dedicado, ritmo e musicalidade são os elementos que compõem o “lo-fi de favela, pagode underground” da MC – com certeza um dos pontos mais fora da curva (no melhor dos sentidos) no Rap nacional. O cenário precisa de mais coisas assim.

 

NGC Borges

Se você acompanha Rap nacional e não estava trancado em uma caverna no último mês, com certeza ouviu falar do Borges. Integrante da Nova Gangue das Casinha – de onde vem a sigla NGC – é dele a música “AK do Flamengo”, que só não foi hit do ano, porque o ano acabou. Surfando na boa fase do time carioca, a faixa foi lançada em dezembro e já conta com 9 milhões de plays no YouTube. Com pouco mais de 16 anos, Borges é um dos destaques da atual geração do chamado No Melody no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro. No Melody, como o nome anuncia, é uma vertente que utiliza beats “sem melodia” sobre a percussão, deixando os graves guiarem a faixa. Obstinado, já lançou sua primeira faixa neste ano: “PROIBIDÃO 2020”, cujo clipe, em pouco mais de um mês, ultrapassou a marca de 4 milhões de visualizações no YouTube.

 

RT Mallone

Já até falamos dele aqui no Monkeybuzz! RT Mallone é um desses rappers que devem ter rimado logo que aprenderam a primeira palavra. Assinado com a Artefato, o mineiro de Juiz de Fora possui uma mixtape lançada, mas vem se consolidando com o primeiro disco, Roho Tahir (2019). Lançado em agosto do ano passado, foi destaque nas sempre disputadas listas de Rap por aí e recebeu elogios de nomes consagrados no cenário (e especialistas da arte de rimar), como Emicida, Rashid, Don L e BK’. Para 2020, ele já planeja parcerias com MCs e beatmakers, como Sant e El Lif Beatz, além de um documentário sobre seu disco e um novo trabalho de estúdio. Olho nele.

 

Ebony

Ebony é outra artista que teve ascensão meteórica em 2019. Fui – segundo palavras dela – a primeira pessoa a entrevistá-la no Brasil. A garota que encontrei em março, cheia de curiosidade sobre como funcionava esse lance de ser entrevistada, se tornou, em poucos meses, um dos nomes mais singulares do Trap no Brasil. Músicas gravadas em casa e no celular logo ganharam versões de estúdio devido ao potencial que a carioca nascida em Queimados, e de apenas 18 anos, demonstrara. Ebony é ácida com as palavras, é ousada e sabe que é acima da média. Enquanto os caras fazem praticamente versões das músicas uns dos outros, ela traz originalidade até para os temas saturados do Trap. E você precisa se lembrar: ela vai matar seu trapper favorito num feat.

 

Sãocria

O duo de Volta Redonda é um manifesto. Em meio a beats noventistas e inspirados em J Dilla, a voz rouca e granulada de Jmka embala rimas como se um preto-velho falasse por meio de um corpo negro de 24 anos. Tudo isso, mesmo escorados na tradicional linguagem do Boom Bap, sem parecer ultrapassado; nem com tons de autoajuda, que poderiam soar como rapper-professor e ouvinte-aluno. Sãocria é hoje o mais próximo do revivalismo e da atualização do Rap dos anos 90 que tá rolando na gringa com a galera da Griselda Records e do Danny Brown no último disco, por exemplo. Integrantes da Calmob, em 2019 participaram da mixtape do coletivo e em neste ano já lançaram o segundo volume do EP Clarivivência.

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