Radiohead no Primavera Sound: Como Foi?

Em apresentação memorável, banda agrada os fãs antigos sem esquecer de “A Moon Shaped Pool”

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Fotos: Foto: J Garcia, El Periódico

Um show de Radiohead, principalmente para um grande fã, garante duas reações opostas: deslumbramento e frustração. A primeira por todos os motivos que serão descritos a seguir e a segunda por ser impossível que eles encaixem todas as canções marcantes que compuseram em mais de 30 anos de carreira sem deixar de fora alguma que seja realmente especial pra você.

O trabalho e a paixão pela música já me levaram para alguns dos maiores shows do planeta, sejam em festivais, em casas pequenas com bandas independentes ou nas grandes turnês de nomes como Paul McCartney, Rolling Stones, Pearl Jam, U2 e companhia. Por isso, digo com certa confiança que uma apresentação de Radiohead tem algo de especial.

Nesse segundo dia de Primavera Sound, em Barcelona, já era possível sentir o clima nas conversas no metrô e ao longo do dia, sobre quais músicas tocariam, além de discussões eternas sobre A Moon Shaped Pool, mais recente disco do grupo britânico. A rapidez com que um grande público já se formou em frente ao palco da banda com muitas horas de antecedência também já era um grande indicativo da expectativa que pairava entre os presentes.

Tudo isso acontece pois Thom Yorke e companhia sempre foram uma das bandas que melhor entendem suas performances ao vivo como parte de sua obra, ou seja, como um fim e não como um meio de divulgação. A maior prova disso é que oito das onze canções presentes em seu último lançamento já haviam sido ouvidas pelo público em outras apresentações e formatos. Não porque nos últimos meses eles decidiram testar as canções antes de lançá-las, como é comum entre os artistas, mas porque Thom Yorke simplesmente não enxergava algumas destas canções em um formato de estúdio, havia composto elas para serem tocadas ao vivo, como é o caso da lendária True Love Waits, tocada pela primeira vez há vinte anos e que muitos acreditavam que nunca estaria em nenhum álbum do grupo.

O mito que foi criado em torno da banda de forma muito orgânica ao longo dos anos, com raras entrevistas, discos que marcam muito bem cada fase de sua carreira e shows em festivais e locais muito bem escolhidos foi intensificado em Barcelona pelo “não uso” dos telões. A banda optou por intercalar projeções etéreas – muito semelhantes à capa do disco – com montagens de recortes pontuais de pedaços dos integrantes e de instrumentos, fazendo com que apenas 10% do público, que estava realmente perto, conseguisse ter uma visão clara da banda. Eu, que sou alto e estava há uma distância média, conseguia ver apenas uma silhueta dançante de Thom Yorke quando ficava nas pontas dos pés. Restava então olhar pro céu e para as cores presentes no telão, concentrar-se na música e curtir.

Sobre o setlist, aviso que fãs antigos ficariam bastante satisfeitos. Arriscaria dizer que, após analisar as faixas tocadas nos últimos shows da banda, este foi um dos que mais priorizou o repertório antigo, com nove – de 23 – lançadas até o ano 2000 e com apenas seis faixas do novo disco, um dos números mais baixos desta turnê, infelizmente deixando de lado Identikit e True Love Waits (duas das minhas preferidas deste trabalho). Vale ressaltar também a presença de Creep, faixa que não era tocada há sete anos pela banda, mas vem entrando em um ou outro show desta turnê. Aqui, entrou apenas no segundo bis e aparentemente não constava no setlist impresso inicial. Obviamente, um dos auges da apresentação, junto com Karma Police e o público cantando “For A Minute There, I Lost Myself” a plenos pulmões depois da música acabar.

O show como um todo foi um espetáculo difícil de esquecer, o público estava realmente entregue, os poucos que conversavam eram repreendidos pelos demais que faziam um silêncio impressionante para escutar faixas como Daydreaming. Algo que me surpreendeu foi justamente o foco da banda em realizar uma apresentação mais hipnótica, deixando os arranjos das faixas mais agressivas e com mais guitarras um pouco mais delicados, como em Burn The Witch por exemplo.

Foi a segunda apresentação de Radiohead que vi na vida, a primeira foi em São Paulo, em 2009, ainda lembrada por mim como o show mais importante que já fui. Este está sem dúvida próximo ao topo, portanto, seja você fã ou não (e conversei com alguns não simpatizantes que também se impressionaram), esta turnê do Radiohead vale bons sacrifícios para assistir. Saio de Barcelona com mais espaço em minha memória reservado por boas lembranças com a banda, mas ainda com um pequeno (porém importante) lugar vazio no coração por não terem colocado Reckoner neste setlist.

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ARTISTA: Radiohead
MARCADORES: Festival, Show

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.