Real oficial

Yuki Kikuchi é o fotógrafo japonês que caiu nas graças das estrelas do Indie (Mac DeMarco e The Garden inclusos) e seu novo livro registra de maneira inteligente e autoral a sua trajetória até aqui

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Na última vez em que falei com Yuki Kikuchi, o fotógrafo oficial de algumas importantes bandas Indie, ele estava sonhando em publicar o seu o primeiro livro. Dois anos depois, sonho realizado – Real Recognize Real é uma compilação impressa de seus cliques nos arredores dos artistas que acompanhou ou ainda acompanha. Entre 2014 e 2019, por exemplo, o japonês estava ao lado do canadense Mac DeMarco e da dupla estadunidense The Garden. Ao longo dos anos, Yuki acumulou mais 2000 registros feitos com sua análogica Contax T3 – a mesma “point and shoot” que ficou famosa nas mãos do Frank Ocean. No entanto, sua mira transcende o espaço do palco.

Os jovens fãs desses artistas também capturam o olhar do fotógrafo cujo livro tem 98 páginas e foi lançado na última Tokyo Art Book Fair, no final de julho. “Queria ir para além da performance. Então, tenho imagens do dia a dia com as bandas. Acho que, pelas fotos, dá para perceber o meu próprio crescimento e a minha relação com eles. Eu contemplei as fotos de show no livro como uma forma de agradecimento para essa molecada”, contou-me a respeito de seus critérios de edição para Real Recognize Real. “Gosto de como os fãs do Mac são simpáticos e calorosos, assim como ele. O público do The Garden costuma imitar o estilo de roupa deles que são bem estilosos. Mas, o legal mesmo, é que ninguém se importa tanto com as roupas encharcadas de suor quando o mosh está rolando.”

Morador da agitada Tóquio, o fotógrafo (que é também jornalista) frequenta shows há muito tempo. Desde criança, na verdade. Por isso, não demorou para começar a escrever sobre eles. Sua carreira começou assim, mas pouco depois ele já estava se jogando em turnês pelo país. No ano passado, Yuki organizou os shows de Boy Pablo e do Mourn, por exemplo. Em 2019, está planejando datas ao lado do Girlpool. A fotografia surgiu pra valer em sua vida depois de um momento específico. O ano era 2014, e Yuki trabalhava como repórter em um festival chamado Burgerama, do selo californiano Burger Records. Calhou de conseguir um passe de “Pit” (onde ficam os fotógrafos durante uma apresentação, com visão privilegiada) e registrou as apresentações com uma câmera emprestada.

“Olhava os fotógrafos se amontoando e desesperados para conseguir a foto perfeita, se empurrando e se encarando – uma vibe muito estranha. Eu não estava nem aí para aquela situação, só estava curtindo clicar”, relembra. A falta de treinamento formal somada ao estilo vibrante e ao olhar sensível do jovem chamou atenção dos músicos. Primeiro veio DeMarco, mas, na sequência, as portas se abriram para outros nomes famosos do Indie. DIIV, Connan Mockasin, Homeshake e Frankie Cosmos estão entre alguns deles. “Não posso dar conselhos técnicos, mas gosto de fotos de show em que você percebe que o fotógrafo realmente gosta de música e está feliz em estar lá. Recomendo não tentar capturar a ‘foto boa’, mas aproveitar o momento”, explica sobre seu approach.

Ao passar dos anos, foi se adaptando ao novo talento, que leva lado ao lado de seus outros projetos. Ser multi e curioso, também o leva a explorações musicais autorais, que compartilha no Youtube. Tudo isso, enquanto planeja um próximo livro – “uma mistura de romance, ensaio e diário, ao mesmo tempo”. Aproveitei o papo, inclusive, para perguntar se ele poderia indicar alguns fotógrafos e músicos de lá que seriam legais da gente conhecer por aqui:

Há uma cena em Tóquio. Há uns cinco anos, zines ficaram muito populares e muitas pessoas ao meu redor começaram a publicar. Na época, nem eu, nem nenhum dos meus amigos conheciam o trabalho de Ryan McGinley, Wolfgang Tillmans, Juergen Teller, Peter Sutherland, Larry Clark, Ari Marcopoulos. A gente é da geração Flickr e Tumblr, então há essa grande influência na popularização da fotografia em filme e de zines.  

Câmeras analógicas são um formato antigo, certo? Na nossa geração, filme e câmeras analógicas pareciam algo novo. Ninguém pensava que estava tirando ótimas fotos usando equipamento desse tipo – só começamos porque parecia legal. Como pessoas jovens que estão pirando em vinil hoje em dia. Não sei se é melhor ou pior começar a fotografar espontaneamente, mas foi o que me pareceu novo e legal na época. Cinco anos se passaram e amigos estão fazendo capas de revistas e ensaios de moda para Paris Collection. Fotografia ‘point and shoot’ não está mais tão popular em Tóquio agora – coisas mais comerciais é que estão mais populares.  

Juro que não é porque ele que me emprestou a minha primeira câmera, mas eu amo as fotos do Shusaku Yoshikawa. E Shiori Ikeno, que é muito sincera e louca, tem fotos ótimas.

FOTO: Shiori Ikeno

Posso expandir e falar sobre bandas asiáticas em geral? Uma banda taiwanesa chamada Sunset Rollercoaster, eles já estão ficando famosos ao redor do mundo, e acabaram de lançar um novo EP. Acho que o som que eles fazem é uma nova abordagem ao City Pop do final dos anos 1970. Há tantas pessoas copiando Yamashita Tatsuro, mas acho que você consegue sacar a cena de Taiwan nesse EP.

Da Coréia do Sul: Chiyoon Hae. O álbum é incrível e não paro de escutar. A música é um mix de melodias de baladas tristes com Lo-fi americano, é realmente algo único. E eu que fiz um dos clipes deles (risos)

Do Japão, quero te apresentar Naoya Takakuwaw. Inicialmente, ele fazia Indie Rock, mas agora ele está numa vibe mais Jazz com inspiração em Damo Suzuki do Can e fazendo um som mais minimalista. Tenho o sentimento que nunca sei o que ele vai lançar a seguir, mas é isso que gosto nele.

Siga o trabalho do Yuki aqui.

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