Redescubra: Interpol

Somando quatro álbuns e mais de uma década de carreira, grupo ainda mantém o posto de um dos mais importantes do Indie Rock?

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Apenas quatro anos separam o quarto e mais recente álbum de Interpol e sua vindoura obra, El Pintor (esperada para 8 de setembro), porém, com a velocidade que coisas acontecem hoje e com a prematura obsolescência de tudo ao nosso redor, ficar um longo período sem novidades é um risco que poucas bandas podem se dar ao luxo de correr. É claro que o trio de músicos não ficou parado neste meio tempo, o vocalista Paul Banks lançou seu segundo álbum solo, Banks (2012), e o baterista Sam Fogarino fez snakes/vultures/sulfate (2013) ao lado de seu EmptyMansions, mas certamente não era isso que os fãs pediam. Todos queriam mesmo um novo disco de uma das mais icônicas bandas d’A Grande Maçã.

Desde o lançamento do seminal Turn On the Bright Lights, se passaram quase doze anos e muita coisa mudou: a banda já não é mais uma aposta, já não é atormentada pelo hype de ser um dos “salvadores do Rock” ou pelo fantasma da ressurreição do Post-Punk do início dos 2000. Com quatro álbuns lançados até então, o grupo se estabeleceu acima de tudo isso e provou ter uma “fórmula” de sucesso que, mesmo depois de tanto tempo, ainda é capaz de dar forma a ótimas músicas e dar vazão ao lirismo enigmático e denso do grupo – mas vale dizer que a tal “fórmula” foi acrescida de outros tantos elementos como tempo, pois a sonoridade do grupo mudou bastante ao longo da década.

Interpol

Como já disse, muita coisa mudou desde então e um pouco daquela potência original e do sentimento claustrofóbico de se ouvir o ótimo debut do grupo se perdeu. Ali, a sinergia entre vocal, letras, instrumentação e clima criado pelo então quarteto em suas faixas foi tão intensa que acabou por criar um dos maiores sucessos não só daquele ano, mas de toda aquela década – e não à toa apareceu em diversas listas de veículos especializados como um dos maiores destaques da época. O temor pós-11 de Setembro ainda pairava no ar (ainda mais em NY) e isso parece ter colaborado (a favor) do resultado único deste ótimo disco.

Situada “no lugar certo e na hora certa”, a obra é realmente incomparável, seja com os outros álbuns da época ou mesmo na discografia da banda.

Em Antics, lançado em 2004, o grupo teve que se provar mais que um simples hype e ser tão capaz quanto seus contemporâneos, que lançavam na mesma época seus segundos álbuns. Diferente, porém tão bom quanto Turn On the Bright Lights, o segundo esforço do quarteto se apega menos ao estilo (no caso aquele tão falado revival do Post-Punk) e consegue trazer maior mobilidade a sua música. De certa forma, é como se Banks e companhia expandissem ainda mais seus horizontes e conseguissem ir mais longe com aquilo que apresentaram dois anos antes. Dessa vez, ele se tornava menos obscuro para adquirir uma cara mais atmosférica ao mesmo tempo em que mais palatável.

Sem entrar no mérito de qual dos dois foi o melhor álbum do grupol, mais que uma sequência, Antics foi o atestado que todos precisavam para tirar o título de promessa das costas de Interpol e o finalmente o consagrar como uma realidade, como uma das bandas mais importantes para o Indie Rock naquele turbulento começo dos anos 2000. Mais uma vez, o fim daquele ano foi colorido em branco, preto e vermelho com a capa do álbum sendo estampada nas mais diversas listas de melhores álbuns de 2004.

Em Our Love to Admire, de 2007, as coisas ficaram ainda mais diferentes. Mais texturizado que melódico ou denso, o terceiro álbum do grupo se mostra saindo de vez daquele caminho obscuro trilhado em suas obras anteriores. A ambientação dramática continua presente, mas parece que desta vez o quarteto investe em um som mais “claro” – se comparado a um filme, a fotografia ao invés de ter o tom característico de romances Noir teria cores mais quentes e brilhantes, ainda que a trama pudesse seguir por caminhos não tão brandos quando a iluminação e os enquadramentos pudessem sugerir.

Vale lembrar que essa foi a grande estreia de Interpol em um grande selo, Capitol Records, e também a melhor marca nas paradas, se estabelecendo no top 20 em diversos países ao redor do mundo. Apesar de o álbum ter realmente vendido mais, não conseguiu o mesmo desempenho com a crítica, que, mesmo bem favorável, parecia esperar mais um clássico como Turn On the Bright Lights ou outro disco tão potente quanto Antics. Essa mudança, a busca por um som mais claro, não obteve tal resultado, mas mostrou a muita gente que mesmo mudando seu som o quarteto sabe produzir ótimas faixas.

Em 2010, Interpol chega com mais novidades. O quarto álbum do grupo continua explorando o ambiente instrumentalmente mais ambicioso e bem arquitetado de Our Love to Admire, ao mesmo tempo em que consegue agregar uma espécie de narrativa entre as dez faixas do álbum. Não que haja personagens e situações que se desenvolvam em uma trama, mas o disco parece contar uma história que começa em uma alegria contida, algo ainda esperançoso, até o outro ponto do movimento pendular, chegando ao final em situação realmente aflitiva e desacreditada.

Assim como em Turn On the Bright Lights o disco consegue emocionar o ouvinte e extrair dele uma vasta gama de reações durante suas faixas. Por mais que sonoramente o álbum possa não parecer tão denso, suas letras e a forma visceral de Banks cantar conseguem trazer de volta um pouco daquele tom mais soturno das primeiras obras do grupo. Uma ótima obra que não teve a devida atenção na época pelo fato de muita gente ainda estar presa àquela sonoridade Post-Punk que fez o quarteto famoso.

Para este ano, o grupo prepara mais um disco e traz algumas alterações importantes. Agora como um trio (o baixista Carlos Dengler deixou seu posto após as gravações de Interpol), Paul Banks assume o baixo, além de continuar nos vocais. Com uma só guitarra, Daniel Kessler tem o trabalho de segurar a bronca sozinho – ainda mais se os teclados e texturas iniciados em Our Love to Admire continuarem presentes.

Até então, sabe-se pouca coisa a respeito e tem-se uma ou outra faixa tocada durante os shows do grupo pra antecipar novidades de El Pintor, mas ao analisar brevemente toda a obra do grupo é de esperar que venha coisa (muito) boa por ai.

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ARTISTA: Interpol
MARCADORES: Discografia, Redescubra

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts