Rio Lado B: Transposição do clichê e a ascenção da cena eletrônica

Mahmundi, Dorgas, Opala, Secchin, People I Know, e Apollo: Os desbravadores cariocas caminham entre sintetizadores e percussões eletrônicas

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Seja dançando até o chão na batida quente de um Funk Carioca ou assoviando versos no violão e bebendo eternamente da infindável e historicamente marcante Música Popular Brasileira, assim como da Bossa Nova e do Samba de caixinha de fósforo, o Rio de Janeiro é conhecido como fonte de diversas sonoridades. No entanto, a cidade vem se mostrado como uma nova esfera munida de destacantes nomes, artistas pontuais que pensam fora da caixa, se transpondo do óbvio e que buscam de fora e em experiências próprias novas maneiras de se fazer música.

Transpondo ao mais do mesmo, músicos independentes vem ganhando força no mercado e chamando atenção de olhares atentos e mais apurados da mídia ao conduzirem uma nova faceta para a música eletrônica. Desapegue-se desde já do típico público e sonoridades encontradas em grandes raves ou boates onde o que reina é o remix de grandes hits sobreposto de efeitos batidos.

O som autoral de Mahmundi vem como primeiro exemplo, e , quase como cabeça de chave dos vários, propornciona desmembramentos a novos grupos na mesma sequência. A trinca comandada por Marcela Vale, acompanhada de Lucas de Paiva e Felipe Vellozo, traz timbres eletrônicos tratados com cuidado e atenção, que se desenrolam por uma sonoridade agradável, tranquila e que aparenta ter sido moldada com a maior naturalidade e ginga possível.

O EP Efeito Das Cores traz um traquejo mambembe que se emaranha de maneira orgânica a sintetizadores e percussões marcadas através das boas faixas Calor Do Amor, Desaguar, Fotografe e Quase Sempre. Como um misto de Rita Lee e Marina Lima reconstruídas e a par do que há de mais efervescente na atualidade, Marcela gosta de brincar com seus sons, mas vem vacinada de regras de quem vive numa cidade grande mesmo à beira mar.

Mahmundi – “Calor do Amor”

Na ascenção de um projeto parte seu, parte do já citado Lucas, a cantora Maria Luiza Jobim se desvinculou da banda Baleia e ruma em um novo caminho com Opala, novidade que daria ainda mais orgulho a seu pai, Tom Jobim. A caçula de um dos grandes nomes da MPB também segue seus passos ao desbravar e se aventurar em um estilo marcado pelo minimalismo e ritmo downtempo. Os doces vocais de Luiza casam graves e agudos à sintetizada composição que emula marimbas, órgãos, pingos d’água além da presença de notas melancólicas e psicodélicas trazidas num teclado afiadamente tocado. Apesar de ter lançado apenas os singles Two Moons, Come Home e um fugaz trecho de This Is Where We Are, um EP autointitulado é prometido ainda para o primeiro semestre de 2013.

OPALA – “Two Moons”

A despretensão calibrada dos rapazes do Dorgas também contribui para a cena e mostra a seu próprio modo que a rotina e a vida devem ser retratadas como uma piada pronta a ser acionada a qualquer hora. Mas, quando o assunto é música, eles sabem muito bem a melhor maneira de aliar o bom humor a uma estrutura sonora de qualidade. Depois do bem construído EP Verdeja Music recheado de guitarras dedilhadas, o mais recente single Hortência promove um momento divertido a ser mostrado num futuro próximo.

Dorgas – “Hortência”

Em aparição mais recente, o multiplataforma Secchin divide agora sua experiência cinematográfica com sua nova experiência musical sob a alcunha de seu sobrenome, por enquanto apenas com o single Night Lights, canção sensível e que traz os vocais de Maria Luiza como diferencial e a idealização sonora facilmente assimilável a nomes como James Blake e Jessie Ware. Paiva produz aqui e ali, mas também experimenta por si só no People I Know, projeto instrumental recheado de experimentações voláteis e saborosas diluídas no fugaz EP Brasil. Numa onda mais hype e a procura de seu lugar ao sol, Apollo desperta curiosidade entre o soturno e a aura fashionista embebidas num arranjo eletrônico para Taste Of Your Lips, faixa dançante que ganha sequência mais palpável ainda neste ano.

Apollo – “Taste Of Your Lips”

A suposta “revolução sonora” é pacífica e vem sido botada em prática de maneira sutil. Tais movimentos mostram que os ditos cariocas de mente aberta de agora (e os que ainda devem surgir) prometem uma disseminação em dosagens regulares e ritmo crescente, já que sua vontade vai de encontro ao criar o que realmente gostam e evitar o típico pastiche que o público já está acostumado a deglutir forçadamente a cada vez que torce o botão de ligar da rádio.

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Autor:

Jornalista por formação, fotógrafo sazonal e aventureiro no design gráfico.