Ryan Adams, Incansável

Relembre a carreira do músico, que lança novo trabalho em setembro

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Em pouco mais de um mês, Ryan Adams lança seu décimo-quarto álbum em quatorze anos de carreira solo. Entre 2011 e este ano, o sujeito “deu um tempo” dessa coisa de gravar discos, tirando assim o maior intervalo entre gravações de toda a carreira. Desde 2000, quando deixou Whiskeytown e partiu para uma vida solo na estrada, Ryan manteve a média de um lançamento por ano, chegando a soltar três bolachas só no ano de 2005. Mesmo que não tenha mantido o nível de seus primeiros álbuns, a trajetória deste sujeito é bastante regular, com alguns momentos bastante bonitos.

Ryan nasceu em 1974, na Carolina do Norte, mais precisamente na cidade militar de Jacksonville. Ali ele passou sua infância e adolescência, equilibrando-se entre os estudos e a música. Começou cedo a escrever letras, logo iniciou-se no piano e na guitarra, passando a compor melodias simples e narrativas mais complexas, fruto da influência de leituras de gigantes como Edgard Alan Poe e Henry Miller. em 1991, aos 17 anos, o rapaz fazia parte do obscuro Blank Label, um grupelho Punk local. Aliás, estas pequenas bandas foram o grande motivo de Adams largar o ensino médio e cair na estrada, no circuito local, procurando se encontrar como músico, desta vez, a bordo da Patty Duke Sydrome, que teve duração até 1994.

A próxima banda a contar com Ryan seria aquela que o revelaria para uma audiência bem maior. Ao lado de cupinchas como Caitlin Cary, Phil Wandscher, Eric Gilmore e Mike Daly, teve início a simpática Whiskeytown, direto da região de Jacksonville/Raleigh para o mundo. Era 1995, e os Estados Unidos experimentavam o fascínio pelas bandas de Alternative Country (ou alt-country), lideradas por Uncle Tupelo e Jayhawks. A ideia era atualizar as sonoridades das estradas empoeiradas dos cafundós da América com boas doses de urbanidade Rock e tédio Punk, tudo sob a ótica de falta de futuro e certeza de dureza que os novos tempos apontavam. Whiskeytown logo lançava seu elogiado debut, Faithless Street, ainda em 1995, recebendo elogios da crítica, sobretudo da revista porta-voz do Alt-Country, a No Depression.

O álbum que colocaria a banda no mapa (saiu até resenha em revista brasileira até) seria Strangers Almanac, lançado em 1997, com inflexões pop e lampejos de abordagem Soul, no sentido Dan Penn do termo. Era a estreia do Whiskeytown pela gravadora Geffen, com pompa e ares de revelação da música a poucos passos do estouro mundial. Tal fato não ocorreu devido a rusgas internas o que levou a banda ao colapso logo após um show em Kansas City, no qual Adams demitiu músicos de apoio e quase todos os integrantes, restando apenas Caitlin e Mike Daly. O fato levou à rescisão do contrato com a Geffen e às tentativas de continuar na ativa, com a entrada de novos integrantes e um time de estrelas para participar de um novo disco. Com novo vínculo, desta vez com a Lost Highway, as gravações de Pneumonia correram normalmente mas Ryan Adams já não conseguia ser produtivo numa banda, o que o levou a deixar o Whiskeytown para iniciar sua carreira solo. Por conta de questões judiciais, o disco só seria lançado em 2001, quando Adams já se preparava para lançar seu segundo álbum solo, Gold.

A carreira de Ryan Adams começou com alarde de menino difícil, genioso e com potencial para ser estrela. Elogiado por Elton John, paparicado pela imprensa e com carta branca para criar, ele soltou seu primeiro trabalho ainda em 2000, o belo Heartbreaker. Ainda que fosse um disco plácido e, de certa forma, que conferia continuidade ao que ele fazia com a antiga banda, o álbum falhou em alcançar o público. Esta passagem da audiência específica Indie/Alt-Country para o chamado mainstream só aconteceria mesmo com a chegada de Gold. Antecedido pelo single New York, New York, cujo clipe foi gravado no dia 07 de setembro de 2001, quatro dias antes dos ataques ao World Trade Center, o álbum foi um grande sucesso. Canções como La Cienega Just Smiled e The Rescue Blues conseguiram boas execuções em rádio, levando o nome daquele novo artista Folk/Blues/Country para gente que nunca ouvira falar de Whiskeytown. Elton John deu declarações na imprensa confirmando que Gold serviu de inspiração para que ele compusesse e lançasse Songs From The West Coast, em 2002, simplesmente o melhor trabalho do pianista e cantor em muitos anos.

O álbum seguinte enfrentaria problemas para ser lançado. Considerado extremamente anti-comercial, Love Is Hell era formado por um feixe de canções soturnas, tristes e executadas com instrumental minimalista. O carro chefe era uma impressionante versão de Wonderwall, a clássica canções do Oasis. A gravadora estava relutante e colocando dificuldades para soltar o álbum, quando Adams decidiu entrar em estúdio para gravar algo mais fácil, com a condição de que o álbum seria lançado de qualquer maneira. Com o sinal verde dos executivos, ele saiu do estúdio em duas semanas com um novo trabalho, Rock’n’Roll, lançado logo em 2003. A gravadora impôs que Love Is Hell fosse comercializado sob a forma de dois EP’s, com a primeira parte surgindo no mercado em novembro de 2003 e a segunda no mês seguinte. A fiel base de fãs de Adams fez com que o álbum fosse lançado em seu formato original em maio do ano seguinte, quando Ryan já montava uma banda para acompanhá-lo no estúdio. Nascia The Cardinals.

O ano seguinte seria de total pico criativo para o rapaz. Ryan Adams And The Cardinals assinava Cold Roses, um álbum duplo, logo em maio e Jacksonville City Nights em setembro. Adams ainda encontrou tempo para soltar 29, em dezembro, totalizando três lançamentos em doze meses. Mesmo que as canções de 29 já estivessem gravadas desde o ano anterior, a produtividade de Ryan era altíssima. Em 2006 ele excursionou pelos Estados Unidos e Europa, encontrando tempo para entrar em estúdio com The Cardinals para integrar a banda de apoio para o novo álbum de Willie Nelson, Songbird. Adams também atuou como produtor do disco, que fez bastante sucesso, com destaque absoluto para a faixa título, uma versão emocional do clássico de Fleetwood Mac.

Em junho de 2007, as prateleiras das lojas de disco recebiam mais um lançamento de Ryan Adams, Easy Tiger, que chegou ao sétimo posto na parada da Billboard. Quatro meses depois ele lançaria Follow The Lights, um EP com três faixas, entre elas uma versão de Down In A Hole e uma regravação para o dueto com Norah Jones, Dear John. Ryan levaria um ano para lançar material novo, no caso, Cardinology, que encerrava seu contrato com a Lost Highway e o início de sua carreira como artista realmente independente e ele experimentaria essa absoluta liberdade lançando Orion em maio de 2010 por seu recém-criado selo Pax Am, anunciando-o com um disco conceitual de Heavy Metal sobre ficção científica. Em dezembro do mesmo ano, Adams lança III/IV, novamente com a presença de The Cardinals.

O último trabalho de Adams foi Ashes & Fire, lançado pela Capitol Records no início de 2011 e chegando ao sétimo e nono lugares, nas paradas inglesa e americana, respectivamente. Apesar de estar vivendo com mais estabilidade e casado com a cantora e atriz Mandy Moore, Adams foi diagnosticado com a Doença de Méniére, uma espécie de surdez, que comprometeu seu trabalho por algum tempo. Entre 2009 e 2010 ele lançara dois livros de poesia Hello Sunshine e Infinity Blues e permanecera ativo musicalmente, mesmo já sentindo os primeiros efeitos na audição. Seu novo álbum chega cheio de expectativa em setembro de 2014. Enquanto isso, Adams produziu os discos de Fall Out Boy, Ethan Johns e Jenny Lewis e arregimentou nova banda para entrar em seu estúdio para registrar as canções de seu primeiro disco homônimo em tanto tempo de carreira.

Oscilante entre Folk, Rock, Blues e Country, sempre com toques pessoais e personalidade suficiente para manter-se com lugar de destaque no cenário musical mundial, Ryan Adams é um personagem inquieto, genial, prolífico e capaz de surpresas. O sujeito não foge dos palcos e dos estúdios, pavimentando em catorze anos (e mais três com o Whiskeytown) um caminho sólido e consistente. Estamos no aguardo dessa novíssima bolacha.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.