Um músico e suas livres associações nas zonas de contato da arte (sempre às quartas-feiras).
WILHELM SCREAM
Florist, James Blake e o grito
Florist é uma banda do Brooklyn, cuja sonoridade “sussurrada, intimista e confessional” a coloca no espectro do indie, do folk e da americana. O grupo acabou de lançar um álbum autointitulado, o quarto trabalho de sua discografia.
Embora mantenha mais ou menos as mesmas características dos trabalhos antecessores da banda, Florist, o disco, possui um diferencial. Com 19 faixas, o registro é quase um documento que atesta o processo criativo da banda em uma casa alugada no Hudson Valley. Com o equipamento montado, a banda conviveu, ensaiou e gravou material. Algumas faixas são mais tradicionais, outras mostram pequenos improvisos e, outras, paisagens sonoras.
Emily Sprague, artista à frente do projeto, deu uma entrevista na qual declarou que se interessa quando uma sentença, mesmo tendo apenas cinco palavras, é capaz de gerar uma centena de emoções. Ainda assim, a linguagem é capaz apenas de arranhar a superfície de uma experiência: “eu sinto que preciso ser capaz de explorar o som e comunicar as coisas sem a necessidade de palavras”.
Wilhelm Scream é um efeito sonoro famoso na indústria do cinema, que se tornou uma piada interna da sonoplastia. Em 1951, um filme da Warner Bros. chamado Distant Drums, dirigido por Raoul Walsh, exibe uma cena na qual um soldado, ao atravessar um pântano, é mordido e arrastado para debaixo d’água por um jacaré. Seis gritos curtos de dor foram gravados depois, na pós-produção, em uma única tomada, para serem usados nessa cena. A gravação foi arquivada na biblioteca de efeitos sonoros do estúdio e, posteriormente, reutilizada em muitas produções da Warner Bros.
Anos depois, um sonoplasta chamado Ben Burtt, adotou o Wilhelm Scream como sua marca registrada, incluindo o efeito em todos os filmes da trilogia original do Star Wars, assim como Indiana Jones, entre outras produções. Não se sabe quem gravou o grito original, mas, ao que tudo indica, o autor da voz ressonante, que viaja pela história do cinema, é um músico chamado Sheb Wooley.
Em 2011, o produtor inglês James Blake viria a estourar no mundo da música com seu debute autointitulado. O single de lançamento, e segunda faixa do disco, é “The Wilhelm Scream”. Talvez inspirado pela recorrência do som e pelo seu teor trágico, o músico repete a mesma estrofe diversas vezes ao longo da faixa. Enquanto se repete, no entanto, a música se aprofunda e evoca uma avalanche de emoções.
