Smashing Pumpkins Combina Com 2018?

Banda retorna com novo disco e velhas cobranças

Vocês sabem, Smashing Pumpkins está de volta com disco novo. Já está nas plataformas de audio o aguardado Shiny and Oh So Bright, Vol. 1: No Past. No Future. No Sun, nova incursão de Billy Corgan e sua banda no terreno musical contraditório que ajudaram a criar há quase 30 anos. Com o álbum vêm as tradicionais manchetes superficiais sobre o grupo: o baterista Jimmy Chamberlin está no grupo? A antiga baixista, D’Arcy Wretzky voltou? O antigo guitarrista, James Iha, voltou? E o disco? Repete o nível do início dos anos 1990? Confesso que tudo isso se tornou extremamente chato com o passar dos anos.

Vamos direto ao assunto. Smashing Pumpkins é Billy Corgan e vice-versa. Também é quem ele queira que participe da banda. Ponto. E, sim, Chamberlin está presente e Iha, pela primeira vez em muito tempo, volta ao grupo. D’Arcy segue exilada e parece que Corgan não deseja vê-la por perto ainda por bom tempo. Como bônus, o bom guitarrista Jeff Schroeder, incorporado nos últimos anos, segue firme, configurando o meio-campo com três guitarras, o que é bom. Na verdade, pouca coisa muda com Iha e Chamberlin, uma vez que o maestro é Corgan e ele vem num clima mais ou menos constante desde 2012, quando lançou Oceania. A sequência, com Monuments To A Elegy (2014) e este novo trabalho formam uma trilogia arejada e aparentemente livre de maiores compromissos com expectativas alheias.

Sim, porque deve ser bastante chato gravar seu disco e vir um monte de pessoas desejando que você fizesse o que costumava fazer há 20, 25 anos. O tempo passa, a vida muda, pessoas vêm e vão e torna-se impossível repetir pensamentos e atitudes, a menos que você seja um ator. Corgan, podem gostar dele ou não, é um cara sincero com seu trabalho e leva sua banda a sério numa intensidade suficiente, traduzido no fato de fazer o que deseja. Parece que o sósia de Fester Adams segue transmitindo esta mensagem a quem preste maior atenção: “vou fazer o que estou com vontade, vou fazer o que estou com vontade”, repetindo ad nauseam.

Em termos de Smashing Pumpkins, “fazer o que tem vontade” significa oferecer discos polidos e eficientes aos fãs. A musicalidade do grupo deixou pra trás boa parte do peso guitarrístico de outrora e investiu mais e mais em climas e texturas oitentistas combinadas com uma exótica forma de misturar clichês progressivos com algum lirismo e estética originais, derivadas do gótico, cortesia da mente complexa de Corgan. Não dá pra dizer que Smashing Pumpkins gravam canções progressivas, mas não é mais possível se impressionar com pesos guitarrísticos. A coisa é muito mais contemplativa e baladeira, com momentos de alguma experimentação e/ou aventura em campos que podem ser o da Eletrônica ou algo do gênero. Geralmente é só o velho Corgan com sua voz peculiar, tentando soar como se estivesse produzindo as guitarras do The Cure em 1984/85. É tudo bonito e bem intencionado.

Falaremos em breve de Shiny and Oh So Bright, Vol. 1: No Past. No Future. No Sun, mas um trabalho com título enorme. Já podemos adiantar que ele não tem nada a ver com o que o grupo fazia nos anos 1990. Aliás, se você é fã dos sujeitos, por favor, pare de esperar um novo Siamese Dream (1993) ou um novo Mellon Collie And Infinite Sadness (1995). Nem mesmo um novo Adore (1998) vai acontecer e isso é ótimo. Billy Corgan tem mais a oferecer como artista e já deu provas disso, seja no próprio grupo ou em projetos paralelos legais como o subestimado Zwan ou mesmo em discos solo bastante curtíveis. Podemos dizer que o abóbora líder fica mais confortável usando o nome de seu grupo, o que o faz, de fato, sentir-se em casa.

Com essa tranquilidade e o talento que não lhe falta, Billy Corgan segue na ativa, precisando da tempestade criativa do trabalho coletivo, se atritando de forma controlada, dominando o processo de composição de seu grupo e, de tempos em tempos, dizendo “presente” para seu grande número de fãs. É o bastante.

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Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.