Tarantino e a Música Nipo-Californiana de “Kill Bill”

A viagem por diferentes cenários e estéticas nos filmes é acompanhada pela ótima trilha feita por dois compositores diferentes, um para cara volume da saga de vingança da Noiva

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Assim como nós aqui, Quentin Tarantino é um grande fã da boa música e isso faz com que ela desempenhe um grande papel em cada um de seus filmes. Sua quarta produção, Kill Bill (2003/2004) foi lançada em dois volumes e suas trilhas-sonoras foram feitas por pessoas diferentes, para seguir a individualidade de cada um dos filmes sem perder a cara de ser uma obra total.

Durante a história, a protagonista (chamada de A Noiva em boa parte dos filmes, interpretada por Uma Thurman) viaja pelo Japão, México e na região dos Estados Unidos que faz fronteira com esse país para encontrar (e matar) seu ex-namorado Bill (David Carradine). Aproveitando esses cenários, Tarantino se inspirou no cinema que fez escola décadas atrás nessas duas regiões do globo, com as artes marciais no Oriente e as produções de western em Hollywood.

Canções em japonês e em espanhol se misturam tanto a melodias tiradas da música popular, quanto a referências de trilhas clássicas, como a presença de composições de Ennio Morricone e Bernard Herrmann. Um dos grandes méritos do filme, além de combinar tantos elementos sem ficar fora de equalização, é ter criado momentos tão icônicos, como a melodia de Herrmann assobiada por Elle Driver (Daryl Hannah).

Essa música foi usada originalmente no filme A Morte Tem Cara de Anjo (1969) e muita gente acredita que ela foi composta para Kill Bill. A trilha original dos filmes foi trabalhada por The RZA (do Wu-Tang Clan) e pelo cineasta Robert Rodriguez, que fizeram a música dos volumes 1 e 2 respectivamente.

Aí o primeiro filme brinca com a vibe urbana das metrópoles japonesas, misturando eletrônica com rap (bem Wu-Tang Clan mesmo), enquanto o segundo resgata a herança cultural de Rodriguez, tanto do cinema hollywoodiano, quanto do México, e abusa das guitarras e metais nas sequências passadas no deserto.

Foi a primeira vez que Tarantino trabalhou com uma trilha sonora composta originalmente para seus filmes, e dizem que ele ficou muito satisfeito com o resultado. Ainda assim, músicas que já existiam antes foram inseridas na produção e criaram cenas memoráveis, como a abertura do primeiro filme com Bang Bang (My Baby Shot Me Down) de Nancy Sinatra e o show da banda japonesa 5.6.7.8’s no bar em que os capangas de O-ren Ishii (Lucy Liu) se reúnem.

Além de uma ótima história de vingança, com humor, sentimento e aventura na medida certa, Kill Bill é um exercício de linguagem cinematográfica tanto no aspecto prático (com tomada dificílimas de serem feitas), quanto no teórico (nas escolhas estéticas e na própria ideia de se construir uma narrativa quase mitológica e de brincar com o realismo nas sequências).

A música faz parte desse universo, seja assobiada ou tocada em cena, seja como a trilha que acompanha a jornada da protagonista até encontrar e matar Bill. Essa obra de Tarantino dá material suficiente para fãs de cinema e fãs de música conversarem por horas – além de ser muito divertida de assistir.

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MARCADORES: Trilha-Sonora

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.