Temples: A Psicodelia Retrô-Mordeninha Desembarca no Brasil

Grupo atesta bom momento do mercado de shows de nosso país, que consegue trazer novidades quase em tempo real

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Fotos: Rodolfo Yuzo/Discophenia

Há pouco mais de uma década, era quase impossível sequer pensar que veríamos em terras tupiniquins o show de uma banda gringa muito bem falada ao redor do mundo, mas que ainda estava em seu primeiro disco. Felizmente, as coisas mudaram e nosso mercado está cada vez mais viável (e propício) para esses artistas ainda iniciantes, mas de média/grande projeção, que podem mostrar seu som por aqui, mesmo carecendo de um extenso portfólio. Reforço o “felizmente”, pois foi devido a esta nova conjuntura que o quarteto britânico Temples pôde se apresentar em São Paulo no último fim de semana (sábado, 16 de maio).

Sinceramente, é difícil acreditar que o grupo tenha somente três anos de estrada. Não só pela qualidade que exibiu no palco, mas por chegar tão longe em tão pouco tempo – e não estou me referindo só ao show no Brasil, mas também por ter sido escalado em diversos dos mais importantes festivais europeus. Ainda que vivamos em uma época que a Internet serve como catalisadora desses processos, são poucas as bandas que surfam a hype sem serem pêgas pela arrebentação e jogadas de volta ao fundo do mar do esquecimento.

Com duas ondas consecutivas surfadas com muita graciosidade, o quarteto passou muito bem pela primeira fase da hype logo com seus primeiros singles, algo que não é raro, é verdade, mas que pode ser também a ruína do artista caso a expetativa criada ali não se concretize no álbum. Sun Structures, disco de estreia de James Bagshaw e companhia, afastou qualquer desconfiança quanto à qualidade musical do grupo, assim como a da consistência de suas faixas em um álbum. Foi uma obra e tanto e também principal fio condutor da apresentação do quarteto.

A ótima Shelter Song, que abre o disco, fechou a apresentação, com direito a uma pequena escorregada de Bagshaw, que perdeu a entrada e começou a rir enquanto tentava voltar.

Tim Bernardes (vocalista e guitarrista d’O Terno) e Luiza Lian também estavam no show e disseram quase em uníssono que gostaram bastante da apresentação, quando perguntei o que estavam achando da primeira passagem do grupo por aqui. “Conheci há algumas poucas semanas, mas achei a banda muito boa. São músicas bem bonitas”, completou a cantora. Elas até mesmo guardam alguns paralelos com os projetos de Tim e Luiza, seja pelo toque psicodélico ou mesmo pelo clima retrô-moderninho das canções. E não precisa ir muito longe para imaginar que O Terno e Temples tenham algumas influências em comum, ainda mais visto o novo disco do trio paulistano.

Voltando ao show e à questão da maturidade, digamos, precoce de seus membros, não há como negar que Bagshaw e companhia parecem estar bem a frente de outras bandas novatas que se apresentaram por aqui em ocasiões parecidas. O toque Glam da música do quarteto está não só no som, mas na presença dos músicos, que assumiam posturas bastante ególatras no palco em alguns momentos (e não digo isso como uma coisa ruim). Ao mesmo tempo, mostraram humildade e bastante jogo de cintura quando uma das guitarras pifou. Improvisaram uma jam estendida até o problema ser resolvido e voltaram ao show. Além disso, a iluminação e efeitos com fumaça dão toque todo especial à apresentação. Detalhes que fazem a diferença.

Mais que simplesmente um bom show, a apresentação foi também diagnóstico de como nosso mercado consegue comportar esses novos nomes em apresentações modestas. Com lotação mediana e muitos fãs satisfeitos, a iniciativa mostrou, mais uma vez, que não é necessário eventos megalomaníacos para que uma banda de médio porte consiga tocar por aqui. Além da questão da proximidade do artista e público, que é outro fator importante quando se fala em shows menores ou fora de festivais. E nada como estar próximo do seu artista favorito sem ter que amargurar longas horas de fila, não é?

Em shows assim – e até poderia chamá-los de intimistas -, plateia e músicos parecem se sentir mais a vontade. O que até mesmo possibilita uma ou outra novidade no set, como foi o caso de Henry’s Cake, primeira música inédita do grupo desde o lançamento de Sun Structures, que aconteceu há mais de um ano.

Ainda que se trate de um show pequeno e quase que só para fãs, a unanimidade de opiniões era clara: a apresentação foi boa. Os superlativos podiam variar entre uma pessoa e outra, seja entre os fãs ou entre os músicos que vieram prestigiar, mas a mensagem era clara e quase sempre muito positiva. Espero que aconteçam mais shows como estes no Brasil (e não só em São Paulo ou Rio) e que o grupo consiga surfar mais algumas ondas para poder se apresentar por aqui de novo, quem sabe, da próxima vez, para um público um pouco maior.

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MARCADORES: Ao Vivo

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts