“The Dark Side of the Moon”: 40 anos de um clássico do Pink Floyd

Álbum mais famoso do grupo se mostra atemporal e comemora o seu quadragésimo aniversário demonstrando jovialidade e por que é considerado uma das obras máximas do Rock

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Dificilmente você não escutou esse álbum. Icônico, tem uma capa reconhecida de longe por qualquer fã de música. Para muitos, o melhor disco de Rock já feito. Para outros, um conceito a ser seguido por gerações. Ou simplesmente The Dark Side of The Moon do Pink Floyd. Neste dia 1º de Março, esta obra completa 40 anos desde o lançamento, mas sua idade só demonstra o porquê de ser considerado o trabalho máximo do grupo.

Lapidado como uma peça única na qual faixas se sobrepõe dando uma continuidade e senso de união, é feito como uma trilha-sonora precisa para qualquer momento. Dado a sua percepção de unidade, torna-se complexo escolher qual é a sua melhor música, sendo comum dizer “o álbum todo”. Talvez as canções se adaptem ao seu cotidiano de acordo com o momento vivido, e isso não é algo simplesmente espontâneo, mas parte da origem de suas letras e de como ele foi construído.

O objetivo inicial do grupo era criar um álbum que fosse tangível a todos, mas sem perder as qualidades de produção e criação de seus membros. Todas as letras abordam questões mundanas, como a ganância, passagem do tempo, insanidade, morte e conflitos. “Conceitual” pode ser a palavra utilizada para descrevê-lo, mas também popular, acessível a todos. Produzido por um dos homens mais importantes da indústria, Alan Parsons, o disco é exercício de aprendizado a qualquer jovem que queira se aventurar no meio contendo muito reverb, double tracking, samples e uma gravação em 16 canais que permitiram uma maior flexibilidade do som feito. Conceitos modernos na música eletrônica, como “texturas”, já eram feitos há 40 anos neste álbum.

Aliás, o tempo que se passou entre 1973 e agora,só demonstra a genialidade e o timing perfeito de eventos que culminaram neste disco atemporal e que deve, sem exceção, constar na sua biblioteca sonora. O mais curioso é que, apesar de ser considerado a obra máxima do grupo, também foi o estopim para a continuidade inventiva da banda, permitindo posteriormente a criação de discos como Animals, Wish You Were Here e a obra multidisciplinar The Wall, sendo, portanto, uma contraposição ao que muitos dizem de que “depois do topo, só existe a queda”.

The Dark Side of The Moon foi o maior sucesso comercial do Pink Floyd, vendendo cerca de 50 milhões de cópias no mundo inteiro e alcançado o recorde da revista Billboard de tempo seguido na lista de discos mais vendidos. O álbum ficou 741 semanas consecutivas, entre 1973 e 1988 no chart de LP & Tapes e ainda hoje figura por aí nos mais vendidos da Amazon, iTunes e em diferentes formatos: MP3, vinil e CD. O disco ganhou tamanha repercussão que alguns mitos são vinculados ao trabalho, como a famosa “sincronização simultânea” entre o álbum e o filme O Mágico de Oz. No entanto, toda essa adoração parte da música e uma análise cuidadosa de cada faixa se faz necessária.

Speak to Me começa como uma síntese de tudo o que virá daqui pra frente: sons de máquinas registradoras, vozes confusas, um relógio ao fundo e uma batida de coração que seguirá o disco inteiro. Todos esse sons se juntam e culminam em um grito explosivo que acaba se acalmando através de uma belíssima introdução de guitarra feita por Gilmour. Começa Breathe – relaxante, transporta o ouvinte para outro mundo enquanto o guitarrista canta de forma sincera e profunda: “Breathe, breathe in the air. Don’t be afraid to care. Leave but don’t leave me. Look around, choose your own ground”. A transição entre as músicas se torna cada vez mais natural e, quando Breathe chega ao final, vemos tendências do que virá logo em seguida.

Uma bateria eletrônica aliada a sintetizadores começa uma das canções precursoras da música eletrônica: On the Run. Instrumental, remete a um aeroporto e uma pessoa correndo para buscar o seu vôo. Os passos são feitos pelo chimbal e gritos esparsos dão a sensação de que tudo não passa de um sonho. Boom, uma explosão acaba a faixa e inicia a talvez a faixa mais inspiradora de todo o disco. Com uma letra sobre a passagem do tempo, Time inicia com uma introdução feita na bateria e teclado. Um metrônomo ao fundo dá a sensação de um relógio funcionando, tique-taque. Tudo vai crescendo em volume, intensidade e quantidade de notas tocadas. Gilmour continua nos vocais, e o seu lirismo é capturado entre uma guitarra swingada e versos como “Waiting for someone or something to show you the way”, e “Home, home again I like to be here when I can. When I come home cold and tired, it’s good to warm my bones besides the fire”. Sua voz é dividida, entretanto, com o tecladista Richard Wright, e as vozes são curiosamente parecidas, deixando tudo fluir de uma forma espetacular. Com um solo inspiradíssimo na guitarra, é uma criação feita por todos os membros, um crédito único em todo o disco o que acaba chamando a atenção.

The Great Gig in the Sky começa sem ser percebida com um composição lindíssima no piano e que aos poucos é acompanhada por uma guitarra em reverb. Vozes que parecem ter sido tiradas de um excerto cinematográfico ou radiofônico são colocadas antes da mais surpreendente e bonita utilização de uma voz. A cantora Clare Tory grita emocionada, um sopro de vida que exala sensualidade e uma vibração jamais vista até então, constituindo a interpretação puramente da alma, Soul da música.

Virando o disco, chegamos ao seu lado B, que inicia com uma máquina registradora, moedas caindo e Money, com uma introdução cromática no baixo de Roger Waters e uma guitarra que fica ecoando com alguns acordes ao longo da canção. A Ganância é abordada de forma crua – “Money, get away. Get a good job with more pay and you’re okay. Money, it’s a gas. Grab that cash with both hands and make a stash” -, uma critica direta ao capitalismo a qual é consumada em um solo explosivo. Us and Them é a grande balada do disco. Conduzida no piano era, segundo a minha mãe e qualquer um que viveu a sua adolescência nesta época, a “música dos bailes”, aquela que você escolhe a sua “paquera” e pega pra dançar junto. Quer mais clima do que uma performance solo de saxofone no meio da música? Coros de vozes trazem ainda mais sentimento à canção.

Any Colour You Like é a grande viagem psicodélica da obra. Toda instrumental, tem um sintetizador etéreo que passa de um ouvido a outro. A banda parece transcender e tem um “entrosamento” ímpar, parecendo perceber o que cada um quer fazer o seu instrumento. Ao final, a jam carregada de improvisação traz um acorde limpo de guitarra e inicia uma canção que aborda o lunatismo sendo fortemente inspirada no antigo líder e fundador da banda, Syd Barret. Brain Damage põe pela primeira vez nos vocais o baixista Roger Waters, versando sobre o seu amigo que acabou se perdendo em sua própria loucura. “The lunatic is on the grass. Remembering games and daisy chains and laughs”.

O mesmo continua no papel e faz a transição natural para a música que diz o porquê do nome do disco. Eclipse é, na verdade, uma constatação natural após o uso de algo droga alucinógea de que tudo é lindo. “All that you touch. All that you see, All that you taste, All you feel”. Antes de acabar essa obra prima, Water versa sussurrando “There’s no dark side of the moon really. Matter of fact it’s all dark”. Fim.

É difícil não se emocionar a cada vez que o disco é colocado para tocar, assim como é quase impossível não se apaixonar logo na primeira escutada. Atemporal, genial, inspirado, único – poderia ficar versando uma série de adjetivos positivos e correlacionados, mas nada poderia impressionar mais do que aproveitar cada detalhe desta obra máxima. A sua idade indica que o tempo passa, e assim como na letra de Time, “The sun is the same in a relative way but you’re older”, o Sol continua o mesmo, você está mais velho mas continua soando belo como se tivesse sido feito para este momento.

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ARTISTA: Pink Floyd

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.