The Strokes Vê Albert Hammond Jr. “Pular a Cerca” Mais uma Vez

Uma geral na carreira do guitarrista, prestes a lançar seu terceiro disco

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Não posso deixar de perguntar a vocês, leitores: já tiveram a curiosidade de ouvir algo composto pelo pai de Albert? Albertão Hammond teve, pelo menos, um hit dourado e de âmbito mundial, que se chama It Never Rains In Southern California, lançado em 1972. É tão conhecida e teve tanta execução em rádio e clipes na TV que até meu sogro, um seríssimo senhor de setenta e poucos anos de idade, aprecia a melodia. Pois bem, essa é uma digressão necessária para confessar a vocês que, lá em 2000, quando me deparei com a estreia de The Strokes, a figura de Albert Hammond Jr sempre me chamou atenção muito por imaginar qual a formação musical do tímido guitarrista e sua relação com o pai, família e tal.

O fato é que Albert Hammond Jr tem uma simpática carreira fora de sua banda de origem. Todos os integrantes de The Strokes dão suas puladas de cerca em termos de projetos paralelos, mas talvez ele e o vocalista Julian Casablancas sejam os mais consistentes em termos de proposta. Além disso, os dois são amigos de longa data, desde que se conheceram na mesma escola, na Suíça, onde estudaram. Em 1998, The Strokes já existia, sendo Albert o último a entrar para o grupo. O lançamento de Is This It, primeiro álbum da banda, foi um acontecimento mundial. Era o chamado “Rock do novo milênio” ou algo assim, uma vez que a imprensa musical especializada, começando pela inglesa, saudou a chegada do grupo americano como a vinda do Messias.

O que o quinteto formado por Julian, Albert, mais o baterista Fabrizio Moretti, o baixista Nicky Fraiture e o guitarrista Nick Valensi propunha era uma espécie de purgação dos excessos adquiridos pelo Rock nos últimos tempos, desde o advento do Punk de da New Wave, as duas vias de inspiração para as canções dos sujeitos. Discutível, certo? The Strokes recuperava certo balanço dançante nas músicas, não há como negar, também executava essa versão do que existia no início dos anos 1980 com certa personalidade, mas sua proposta tinha pouca originalidade. Mesmo assim, funcionava bem como contraponto aos delírios distópicos de Radiohead, de seus filhotes, sendo Coldplay e Muse os mais promissores, bem como sepultava espectros pós-Grunge que ainda vagavam por aí.

Dito e feito, The Strokes conseguiu cravar sua marca na produção roqueira que se desenhava, ainda que isso significasse conviver com um sem-número de filhotes e subclones por todos os cantos. Aos poucos, os cinco empreenderam algumas transformações em sua sonoridade, algo que já se nota no segundo disco, Room On Fire, lançado em 2003, mas que seria mais evidente em First Impressions Of Earth, de 2006. Este foi o ano em que Albert resolveu colocar em prática suas ideias de gravar um disco por sua conta. Suas influências comportavam mais do que estava previsto no cardápio “strokiano”, especialmente John Lennon, Powerpop setentista e alguma coisa de The Beach Boys. Yours To Keep foi lançado em outubro do mesmo ano na Inglaterra e só chegou aos Estados Unidos em março do ano seguinte. O primeiro single, Everyone Gets A Star guarda semelhanças guitarrísticas e de andamento com as canções de The Strokes, mas a voz é decididamente diferente, dando alguma sensibilidade extra, uma vez que Albert não é um vocalista treinado ou talentoso. Seu esforço e timbre consequentemente normal acaba soando como um ponto a favor. Outro single extraído do álbum é a simpática e setentista Back To The 101, gravada com participação de Sean Lennon, causando um bom efeito interessante, mesmo que seu refrão tenha uma citação a Love Vigilantes, de New Order. A influência do pai de Sean está escancarada em outra canção, a singela Blues Skies, com voz e violão saturados de climas e ambiências beatle.

The Strokes entraria em recesso após a gravação e turnê do terceiro disco, o que permitiu que Albert levasse adiante essa coisa de compor, tocar e cantar sozinho. Passou o ano de 2007 se alternando entre estúdio e os últimos shows da turnê com sua banda e dedicou-se a burilar as canções do próximo álbum solo, Como Te Llama?, que seria lançado em julho de 2008, sendo antecedido pelo single GfC, que chegou aos ouvidos do mundo em maio do mesmo ano. A canção tem pegada guitarreira mas intercala os momentos mais poderosos com um inteligente uso do silêncio, enquanto a pequena voz de Albert passa pela letra e melodia de forma bastante apropriada. Aliás, o uso da guitarra é um bom referencial por todo o disco. As pequenas fatias instrumentais que ele perpetra ao longo das canções se tornaram marca registrada “strokiana”, mas aparecem aqui de forma mais discreta, além disso, Hammond aproveita para solar, algo que não faz na banda principal. Ampliando ainda mais o leque de influências, Albert dá uma visitada no estilo vocal de Lou Reed logo na abertura do álbum, com Bargain Of A Century, enquanto novamente o fantasma de John Lennon assombra em Lisa, cheia de guitarradas e andamento travado e algum parentesco com linhas de baixo funkeadas surge em Victory At Monterrey. Ainda que perca em luminosidade, se comparado com o álbum anterior, Como Te Llamas? tem seus bons momentos, que levaram Albert a excursionar pela Europa, abrindo shows de Coldplay em 2008/09.

Dois anos depois, lá estava The Strokes com novo álbum. Angles inaugura uma fase louca e imprevisível na carreira da banda – a meu ver, seu melhor momento. Sai o formato engessado de canção – algo que se tornou padronizado após dez anos de carreira – e entram mutantes sonoros que saqueiam sem saber a produção de gente graúda como Talking Heads ou Gang Of Four, pegando o que vê pela frente, desconhecendo, tateando, inventando. Essa doideira experimental – sob controle – no estúdio criou monstrinhos como Macchu Picchu, Games e mesmo Under Cover Of Darkness (mais normal para os padrões da banda), e traz guitarrismos inesperados, cortesia do entrosamento Hammond Jr/Valensi. Essa maluquice sonora teria continuidade em 2013, ano de lançamento de Comedown Machine, quinto e – até agora – último álbum do quinteto. Abraçando o oitentismo com amor total, a banda se permite soar como INXS logo na abertura, com Tap Out, obtendo bons resultados e tendo nas guitarras o grande atrativo da faixa. Outras canções como 80’s Comedown Machine, Chances e Happy Ending se servem sem cerimônia deste buffet sonoro, talvez mudando a sonoridade de The Strokes em definitivo. O futuro dirá.

Albert Hammond Jr segue ativo. Lançou no mesmo ano um EP, AHJ, para esquentar os tamborins de sua base de fãs e dizer que está em estúdio preparando novo disco. Tal notícia se materializará no fim deste mês, quando Momentary Lapses chegar aos ouvidos ávidos dos admiradores. Três faixas já foram apresentadas, Side Boob, Losing Touch e Born Slippy, crocantes e sinceras, gerando expectativa em todos. Você já sabe que lerá tudo a respeito desse novíssimo álbum do rapaz por aqui, certo? Enquanto isso, aproveita pra dar uma repassada nos trabalhos anteriores tentando adivinhar o que Albert está tramando.

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MARCADORES: Novo álbum

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.