The Velvet Underground & Nico – Os 45 anos de um clássico

Relembre este importante marco da música alternativa e experimental que completa seu 45º aniversário e saiba por que este disco se tornou um ícone

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Você provavelmente já se deparou com a capa desse disco por aí. Camisetas, pôsteres, vinis, ou exposições, de alguma forma ou outra, você já teve contato com o “álbum da banana”. A capa da obra, feita pelo gênio Andy Warhol, se tornou tão icônica que provavelmente mesmo quem nunca colocou os ouvidos nessa preciosidade sabe que se trata do disco homônimo de estréia do The Velvet Underground & Nico.

Lançado em 1967, completou seus 45 anos em 2012 e receberá uma box set comemorativo, o qual incluirá seis discos com versões mono e estéreo do clássico, além de gravações ao vivo e o filme em preto e branco realizado por Warhol, A Symphony Of Sound. Nada mais justo para um dos álbuns mais influentes na música de todos os tempos.

Precursor do Rock Experimental e do Art Rock, o disco também abordou temas polêmicos como o uso de drogas, sadomasoquismo, e desvios sexuais de conduta através de suas letras. Em muito devido a estes temas pouco usuais, foi barrado em diversos estabelecimentos de venda e teve pouco sucesso comercial na época em que foi lançado. No entanto, segundo o músico e produtor Brian Eno, “o disco vendeu pouco mais de dez mil cópias, mas todos que o compraram formaram uma banda depois”. Talvez isto resuma um pouco de sua importância.

Formado pelo então jovem Lou Reed, John Cale, Sterling Morrison e Maureen Tucker, o Velvet Underground teve o seu nome retirado de uma revista pulp sobre a contracultura sexual. Como empresário, tinha o expoente artista Andy Warhol, que conseguiu transmitir a sua notoriedade para a banda, que começava a despontar como uma interessante revelação musical. Nico, do título do álbum, era uma cantora alemã que já havia participado de concertos e algumas gravações com grupo e que, a pedido de Andy, se juntaria ao Velvet para seu primeiro LP.

Ao longo de onze faixas, nos deparamos com psicodelia e experimentação que influenciaram diversos grupos e estilos, como o Rock Alternativo. A criatividade do grupo residia, e muito, em John Cale, que se utilizava de diversos métodos e instrumentos alternativos de produção de som como a viola por exemplo. Lou Reed, outro grande fã de experimentação, desenvolveu o que se chamaria de Ostrich Guitar ou “guitarra avestruz” em uma tradução. Não se trata de um novo instrumento, mas de uma nova forma de afinar a guitarra, na qual todas as cordas são afinadas na mesma nota – como Ré, por exemplo. Tudo isso ganharia forma no disco.

Começando pela arte original, desenvolvida por Warhol, em que os dizeres “descasque devagar e veja” levavam os ouvintes a encontrar uma banana descascada logo abaixo. Um capa interativa e subversiva ao mesmo tempo para época, algo extremamente revolucionário. Sunday Morning, que abre o disco, traz em um xilofone o aspecto sonhador de uma doce manhã de domingo, como o título sugere. Os vocais de Lou, ecoam com os efeitos utilizados como drone, que leva os tons de voz a persistirem na música. De forma quase desprentensiosa, um solo de guitarra aparece e continua fazendo o ouvinte sonhar.

I Am Waiting For My Man, é agitada, e tem na bateria simples, constante o ritmo necessário de alguém que esta esperando pelo fornecedor de drogas. A guitarra repete a mesma frase o tempo todo, criando quase um looping que deixa o ouvinte entorpecido. Vale ressaltar o estilo de Lou Reed cantar, declamando quase uma poesia, e que se tornaria o seu símbolo em sua posterior carreira, aparecendo na canção.

Nico, com seu sotaque europeu, dá o toque especial de Femme Fatale, uma canção sexy sobre a mulher que vai destruir o seu coração, e que deve ser evitada. Venus In Furs é a música mais épica do disco. Sua letra é baseada na obra de Leopold Von Sacher-Masoch e tem como tema central o sadomasoquismo. Em termos musicais, utiliza-se da Ostrich Guitar para criar um efeito hipnotizante, semelhante a um encantador de serpentes. A psicodelia transpira durantes os cinco minutos de canção.

Run, Run, Run não poderia causar outra sensação que a de uma balada na estrada, uma grande perseguição de carros valendo a vida. Os solos de guitarra aumentam e diminuem seu volume e intensidade, deixando a fluidez da música semelhante à aceleração de um carro. All Tomorrow Parties, música favorita de Warhol, traz a viola de Cale conjutamente com a Ostrich Guitar de Lou. Nico canta suavemente, enquanto ambos “batalham” com seus efeitos opostos, como uma maré que sobe e desce constantemente na lua cheia.

A faixa Heroin procura explorar os efeitos da droga de mesmo nome, descrevendo os estados alucinógenos quando utilizada. “I don’t know just where I am going, but I gonna try”. A canção vai acelerando e desacelerando aos poucos, até um momento que a explosão da música aparece no final da mesma, semelhante ao êxtase da droga. Lou Reed procurava, através do Rock, incorporar o lirismo de livros que abordavam os mais diversos temas, pois para ele não havia problema em misturar música e literatura, mesmo que polêmica.

There She Goes Again traz Nico nos backing vocals, em uma canção que aborda uma figura masculina sendo abandonado de novo pela mesma mulher. I’ll Be Your Mirror é terna e bela, quase uma declaração de amor sendo cantado pela germânica Nico. Simples com seus dedilhados na guitarra, tem um ritmo sexy e dançante, mesmo que aparentemente calmo e lento.

The Black Angel’s Death Song traz sons dissonantes, psicodélicos e que procuraram tirar o ouvinte de seu ponto de equilíbrio. Nela podemos ver mais claramente o estilo peculiar de Lou Reed. Quando chegamos a última canção, já estamos totalmente contaminados e entorpecidos pelos sons que nos foram apresentados. European Son, em seus mais de sete minutos, traz uma guitarra vibrante e constante, com diversos efeitos sendo jogados aos poucos. Como uma casa sendo destruída, escutamos sons de vidros sendo quebrados, um solo de guitarra confuso e bagunçado, tudo para para criar uma atmosfera explosiva na faixa que encerra o álbum.

Seminal, o disco de estréia do Velvet se tornaria um icone da Pop Art, ao mesmo tempo em que influenciaria diversos artistas e gêneros musicais. Oscilando entre o experimentalismo e a psicodelia, todos construidos a partir do Rock, o grupo estaria para sempre marcado na indústria fonográfica como um divisor de águas. Se você ainda não ouviu o “disco da banana”, agora talvez seja a hora de relembrar essa clássico da música que completa 45 anos em 2012. Descasque e veja.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.