“Think Tank”: Os dez anos do – até então – último disco do Blur

Deixando o Britpop de lado, banda mergulhou em uma experimentação musical e temática trazendo elementos orientais em seu som e letras anti-belicismo e introspectivas

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Pois é, já faz 10 anos desde o último lançamento de estúdio do Blur. Em 2003 a banda londrina lançava Think Tank, um disco que até hoje divide opiniões dos fãs a respeito de sua representatividade na discografia do grupo e também na questão de gosto pessoal. Muito dessa divergência se faz por causa da mudança até certo ponto abrupta entre o que se estava acostumado a ouvir nos primeiros discos do Blur. Se Damon Albarn e cia foram um dos responsáveis pela popularização do Britpop, em Think Tank a sonoridade fugia desse estilo e caia de cabeça numa mistura estiílista, resultando em uma obra bem dinâmica e contemporânea.

Com referências de Trip Hop, Eletrônica e Rock “Alternativo”, o novo som do Blur se moldava de tal maneira muito em virtude da divisão das atenções de seu líder com seu novo projeto, Gorillaz. A banda virtual teve seu álbum de estreia em 2001 e esse processo de gravação com certeza foi uma das influências para a nova sonoridade que a banda “principal” apresentaria em 2003. Além disso, uma viagem ao Marrocos foi um elemento presente durante o processo de gravação de Think Tank, resultando em mais novidade no som, como a presença de percussões e elementos de cordas tradicionais árabes e que podem ser percebidos no single Out of Time. Tal riqueza musical com certeza é o ponto forte da obra, e sua complexidade, ainda mais frente à ruptura de com o estilo de costume do ouvinte, é um dos pontos de maior discussão, gerando divergências e discordâncias a respeito da percepção pessoal do valor da obra.

Na questão temática, o álbum carrega em si uma carga politizadam mesmo que não tão escancarada em suas letras, mas sim nos discursos e postura que Albarn apresentaria na época. Outro elemento visto na obra é essa questão cosmopolita e incessante caracterizada pelos diferentes elementos que se apresentam em suas faixas. A capa feita com uma obra do artista urbano Banksy solidifica tais elementos ao comunicar visualmente o ímpeto anti-dominador e repressor que o artista tanto passa através de suas obras. Na transmissão através de letra e melodia – fora como dito anteriormente o ambiente que cerca o álbum – vemos com a temática anti-belicista levada a frente por Albarn com letras como “Everyone is dying/Stop crying now here comes the sun” (“Todos estão morrendo/Pare de chorar agora, aí vem o som”) em Sweet Song ; e ”I tried to quit/But my heart won’t buy it/I have got family/The caravan comes back for me” (“Eu tentei desistir/Mas meu coração não vai comprar essa/Eu tenho família/A caravana volta por mim”) em Caravan, tudo isso em meio a um clima depressivo e doloroso mas com aquele verde de esperança, como vemos nos versos “Where’s the love song/To set us free?/Too many people down/Everything turning the wrong way around/And I don’t know what life will be/But if we stop dreaming now/Lord knows we’d never clear the clouds” (“Onde está a canção de amor/Para nos libertar?/Muitas pessoas abatidas/Tudo indo pro lado errado/E eu não sei o que será da vida/Mas se nós pararmos de sonhar agora/O Senhor sabe que nós nunca iremos clarear as nuvens”) em Out of Time.

No geral, Think Tank se apresenta como um disco sonoramente apenas diferente e que vem como parte do momento de construção do Gorillaz e das reflexões pessoais de seu líder, resultando em uma obra de análise tanto no âmbito sonoro quanto para uma no de ambiente e bastidores de sua produção. Completando dez anos de vida, com ele completa-se também o mesmo tempo de ócio na produção de novidades de estúdio do Blur, tempo este que acabou sendo tomado pela produção de discos do Gorillaz e das carreiras solos de Albarn e Coxon. Por divergir do seu estilo característico, o Britpop, e que sai de sua zona de conforto em busca de experimentações musicais e temáticas, a banda até hoje tem com Think Tank uma peça digna de discussões que podem durar por pelo menos mais uma ou duas dezenas de anos.

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ARTISTA: Blur
MARCADORES: Redescobertas

Autor:

Marketeiro, baixista, e sempre ouvindo música. Precisa comer toneladas de arroz com feijão para chegar a ser um Thunderbird (mas faz o que pode).