Três de cada

Giovani Cidreira, Jup do Bairro, Maria Beraldo, niLL e YMA nos contam os álbuns que fizeram suas cabeças em 2019

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2019 foi um ano em que cada vez mais se debateu o formato de álbum e sua relevância em nosso tempo. Singles preparados para entrar na próxima playlist pré-formatada por algum algoritmo parecem ser o futuro e essa é uma discussão bem ampla. Mas a gente sabe que os LPs não vão deixar de existir e que muitos apaixonados seguem se envolvendo e se encantando com a beleza de um trabalho com início-meio-e-fim que busca nos mostrar o mundo pela perspectiva do artista.

Os músicos Giovani Cidreira, Jup do Bairro, Maria Beraldo, niLL e YMA são desse time que se apaixonam e se encantam por entre cada faixa de um álbum. Por isso mesmo, eles escolheram três discos cada, representando aquilo que não saiu de seus ouvidos em 2019 – as escolhas são pessoais e não são presas por datas de lançamento. Confira abaixo o que eles não pararam de ouvir:

GIOVANI CIDREIRA

Josyara – Mansa fúria (2018)

Esse é meu disco preferido desse ano. Na verdade, ele foi lançado ano passado, mas continua sendo para mim o melhor disco produzido pelas pessoas da minha geração até agora. O ponto certo entre o ancestral e o futuro, a tradição da música brasileira com o violão de Samba Chula, característico do recôncavo baiano, em contraponto com os novos jeitos de se compor música… Muito livre. Parece um filme desses que se passam num futuro distópico.

Drake – “More life” (2017)

O disco que mais ouvi desde o ano passado, sem dúvida. Esse disco vem mudando meu jeito de compor: métrica, rima, melodias livres. A métrica do Trap aparece de uma forma mais livre, os versos são refrões lindos, como na faixa “Teenage Fever”; tem aquelas músicas super Pop que grudam em você, que te levam para trilha sonora de roupas chic, que seriam chatíssimas, só que não são. Um disco extenso, soa como uma mixtape, me leva pra vários lugares. A faixa “Passionfruit” é algo que eu nunca faria até ouvir desse jeito.

Don L – Roteiro pra Aïnouz, Vol. 3 (2017)

Esse disco sem palavras, com produção do Luiz Café. Gosto deste principalmente pelos temas nas primeiras faixas, fala muito da hipocrisia no meio artístico, o tapinha nas costas, o que fazer pelas coisas que você acredita. Carreira não é arte, não basta tentar mudar o resto, começa por nossa gente.

JUP DO BAIRRO

Nelson Gonçalves – Passado e Presente (1974)

Sem dúvidas, foi o álbum que mais ouvi esse ano. Eu amo muito o trabalho e a trajetória do Nelson Gonçalves. Sua música me traz memórias afetivas muito intensas e me levam a anos atrás para um quartinho pequeno com uma vitrola com meu pai apresentando suas referências. Tenho muita vontade de performar “Naquela Sala”, inclusive.

Klein – Lifetime (2019)

Lifetime é o álbum de estreia da musicista londrina Klein que mistura tudo que eu gosto; horror, é denso, é chique, destroços eletrônicos… É pura magia e eu tenho usado muito esse trabalho como referência.

Linn da Quebrada – Pajubá (2017)

Ainda faz muito sentido falar de Pajubá pra mim. Acho um álbum fundamental, atemporal e que ainda consumo muito. Com certeza um dos trabalhos mais intensos e consistentes que já participei. É a Bíblia Sagrada dos tempos modernos.

MARIA BERALDO

RAKTA – Falha Comum (2019)

É um álbum que eu comecei a ouvir quando procurava referência para uma produção que eu fiz do disco de uma banda de Rock, e eu queria mostrar pra elas possibilidades de misturar som acústico, Rock, Punk e Eletrônico. Esse álbum é majestoso, o som é muito bom e a concepção é inspiradora. Se muito temos discutido sobre liberdades no mercado da música, esse é um álbum que pra mim elabora isso esteticamente. Tem poucas intervenções de palavra, quase nada, e fala muito de liberdade. É um disco foda.

David Bowie – The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (1972)

Esse ano eu fiz (junto com a Mariá Portugal) a direção musical de um espetáculo dirigido pelo Felipe Hirsch que foi escrito por David Bowie,  Lazarus foi escrito por Bowie e Enda Walsh, só com músicas do Bowie. Já o amava, tinha ouvido um tanto, mas nunca tinha mergulhado tão profundamente na sua obra e ele já era uma referência pra mim – difícil (que sorte!) escapar dessa influência sendo ocidental e fazendo música depois que ele passou pela terra. Então ouvi muito Bowie esse ano. Muito mesmo. E ainda me falta tanto a descobrir sobre ele. Muito material, muito conteúdo, muito universo. Escolhi o Ziggy pra colocar aqui só pra representar esses tantos discos dele que eu ouvi; mas esse é de fato um disco determinante na carreira de David. Esse disco ressignificou as noções no Rock e na música, como Bowie fez algumas vezes ao longo da vida, e é a criação da emblemática figura densa e livre de Ziggy Stardust. O mais importante é que é um trabalho muito emocionante e emocionado.

Clube da Esquina – Clube da Esquina II (1978)

Se tem um disco que me acompanha é esse. Meu companheiro fiel. É o que me dá vontade de ouvir quando estou em movimento, é meu som da viagem, do avião, do carro, do ônibus, do trajeto. Meu pai me disse uma vez, acho que parafraseando alguém, que a vida se faz na viagem. Então esse é o álbum da minha vida nessa fase. E na maioria das minhas fases. Me emociona muito, me acolhe, me agrada, me ensina, só canções espetaculares, melodias lindas e particulares, letras incríveis, arranjos chiques e originais, e a voz do Milton nos meus ouvidos – não só dele. É muito pra mim.

niLL

niLL – Lógos (2019)

O Lógos é um disco que tanto como produtor e criador dele, quanto como ouvinte é uma parada que me agrada, por que ele é bem ousado, ele transita por vários cantos e cantos que se interligam. Isso é sensacional! Eu geralmente faço coisas que eu sinto falta de ouvir, então ele vem bem nessa cavidade aí: faz falta isso pra mim no cenário e aí eu resolvi fazer. Então, o clima de cyberpunk e tudo mais, uma parada mais futurista, junto com a direção artística, junto com o universo da loja de brinquedos, dá um clima muito único e uma identidade especial para o disco. Então, não tem nada no país ainda igual ao Lógos e isso faz dele uma obra muito especial.

Gorillaz – The Now Now (2018)

Eu acho esse trabalho impecável pelo fato de ele levar a gente ao ponto do ecstasy musical de Damon Albarn, acho que isso me pegou de surpresa neste trabalho. Estudei muito esse disco, ouvi muito, então ele foi com certeza o que eu mais me apeguei esse ano. O fato de ter um clima que o Gorillaz ainda não tinha utilizado, acho sensacional, incrível.

Flying Lotus – Flamagra (2019)

Eu gostaria de ter colocado outros discos na lista, mas como a gente escolheu três, eu coloquei os que eu realmente mais ouvi esse ano. E por isso entra o Flamagra, do Flying Lotus, um grande produtor. Ele faz parte do movimento experimental, ele tem uma onda só dele, uma identidade própria e isso eu valorizo demais. E esse álbum, por si só, é uma aula de produção e de direção musical, de criação de álbum, é uma aula! Eu estudei muito esse disco, ouvi bastante. Ele tem participações peculiares: num mesmo álbum você encontra o Thundercat e na sequência tem Little Dragon, isso é sensacional.

YMA

Weyes Blood – Titanic Rising (2019)

É disparado meu disco internacional preferido do ano. Virei fã da Weyes Blood há uns anos quando meu parceiro e produtor Fernando me apresentou o segundo álbum dela, Front Row Seat to Earth (2016). Passamos um tempão só ouvindo ele. De alguma forma, sentia que o próximo seria um mergulho ainda mais profundo. E literalmente foi! Me identifico com as temáticas das letras, os arranjos são impecáveis, as cordas me emocionam, a voz dela hipnotiza meus ouvidos, a gente mergulha e afunda junto. Posso ficar por horas ouvindo esse disco. Isso é raro, ainda mais hoje em dia com tanta coisa sendo produzida, quero conhecer tudo e às vezes acaba que fico só na superfície dos discos. São poucos que me atravessam como o Titanic Rising.

Ana Frango Elétrico – Little Electric Chicken Heart (2019)

É um disco que parece um quadro que vai sendo inventado, pintado e escrito. Ana cria imagens, momentos e situações únicas. É musicalmente sensível, dadaísta, de bom gosto, chic, rock’n’roll, solta e admirável. Me ganhou de cara. Você ouve o disco e já sai cantando “Suas narinas sangram chocolate, você está comendo chocolate” e por mais estranha que possa ser essa imagem, a sensação que ela cria, junto com a melodia e arranjo de metais, é completamente contagiante, louca, perturbadora e deliciosa (risos). É mais ou menos como eu sinto. Ainda não consegui ver o show, mas é um disco que me faz querer ver o show. Dá vontade de cantar junto, vê-la tocar guitarra, bater a cabeça com os metais, dançar.

Rita Payés & Elisabeth Roma – Imagina (2019)

Sentimental que sou, sempre me volto para músicas melancólicas, intimistas, letras profundas, acordes menores dramáticos ou progressão de acordes que emocionam e elevam a alma. Imagina tem tudo isso, ouvi bastante esse disco para ficar quietinha comigo mesma. Rita além de cantora é também trombonista e filha de Elisabeth, que por sua vez é guitarrista clássica. É muito bonito esse encontro musical entre mãe e filha. Sou mãe há 6 anos, desde então a maternidade tem sido um tema muito presente na minha vida. O repertório do disco não é autoral, inclusive maior parte das músicas eu já conhecia, começa com “Imagina”, de Chico Buarque, e na sequência vem “Melodia Sentimental”, de Villa-Lobos, que é uma das músicas que mais amo na vida. O timbre de voz da Rita é muito lindo e me arrepia, Elisabeth faz arranjos belíssimos. Enfim, é um disco sofisticado e cheio de sentimento.

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