Uma Década de “Turn On The Bright Lights”, da Interpol

Há dez anos, era lançado o disco que mostrou a banda ao mundo, sendo considerado até hoje como sua “obra prima”

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Seria fácil falar desse álbum abordando tudo o que já falaram sobre ele – de como ele se parece com isso ou com aquilo, tem referências de tais estilos, de como a instrumentação é impecável, como as canções remetem a uma tal época ou de como tal música lembra alguma de outro artista -, mas, de fato, o que nos sobra de Turn On The Bright The Lights quando saímos do óbvio?

A resposta pode ser diferente para cada um, mas creio que muita gente vê este como um disco único e cheio de pessoalidade – seja pelas letras introspectivas e muito bem arquitetadas ou pela instrumentação obscura. O Interpol trouxe ao seu primeiro trabalho uma abordagem irretocável de seus medos e anseios, o que o tornam depressivo e, de certa forma, angustiante, de uma maneira que muitos podem se identificar. Há muitas coisas escondidas nas entrelinhas que o possibilitam ser entendido de diversas formas, variando de pessoa para pessoa – e isso, mais do que qualquer comparação ou hype, fez dele icônico e aparecendo como um dos mais influentes da época.

Quase um ano após os atentados de 11 de Setembro, ainda existia muita tensão no ar (principalmente em Nova York, cidade natal do quarteto), que pode ser percebida através das melodias e letras aqui presentes. A instrumentação densa também traz essa sensação de conflito, que, se unindo à forte voz e à maneira de cantar de Paul Banks, ajuda a montar esse cenário pesado sob qual ele foi construído. Conforme o disco avança, a sensação claustrofóbica aumenta, culminando em The New, faixa que apresenta uma aparente calmaria e é subitamente rasgada pelas ásperas guitarras, causando certo atordoamento e resumindo perfeitamente a vibe obra.

Diversos artistas despontaram naquela mesma época. Com mais ou menos hype, todos ali brigavam pelo seu espaço e traziam de volta o Rock às paradas. Ao lado de The Strokes e The Vines, o Interpol escalava posições em listas de mais tocadas e discos mais vendidos e emergia do underground como “promessa” ou como “salvação do Rock” – títulos que o quarteto nunca aceitou, assim como a tal hype e as exaustivas comparações a bandas do Post-Punk que a imprensa da época insistia em fazer.

Uma década depois, ainda podemos ver os reflexos diretos de Turn On The Bright Lights e da sonoridade característica do Interpol em grupos como White Lies, Editors e Doves – grupos que talvez não existiriam, ou não encontrariam tanto espaço quanto tem hoje em dia se não fosse por esse quarteto e, ainda mais, por esse disco.

É um álbum sem comparações, sem falhas do começo ao fim, e que elevou o nível das produções no começo da década. Mas, mais que isso, ele foi feito por quatro jovens de Nova York que conseguiram transformar a inquietação que pairava no ar em uma obra madura que não só falava deles, mas de uma geração que era atormentada por seus mesmos medos e anseios.

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ARTISTA: Interpol

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts