Uma lenda chamada Godspeed You! Black Emperor

São muitas as histórias que fazem a banda canadense de Post-Rock parecer um mito, o que combina muito bem com seu som

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Um nome retirado de um documentário japonês, alguns poucos discos – todos com títulos bizarros – com apenas uma ou outra faixa (embora cada uma tenha cerca de 20 minutos), uma constante troca de membros e uma década sem lançar nada novo. São muitos os fatores que fazem a canadense Godspeed You! Black Emperor ser uma das mais lendárias bandas das últimas décadas.

Ainda assim, pouco teríamos para falar sobre ela não fosse a altíssima qualidade de seu som, que passeia durante os muitos minutos das poucas faixas por tantas transições de ambientes sonoros, fazendo com que cada uma delas seja uma narrativa sensorial completa, todas muito belas, como filmes que se projetam na mente após tantos estímulos auditivos.

Foi esse alto nível nas composições que tanto prolongou a adoração da banda, que nunca saiu de fato do underground. Se a descrição que introduziu este artigo não foi o bastante para você entender o aspecto cult que a banda tem, saiba que seu primeiro lançamento, a cassete All Lights Fucked on the Hairy Amp Drooling (1994), teve tiragem de 33 cópias e, com exceção da fita em posse da Constellation Records, elas estão todas desaparecidas.

Essas pequenas histórias sobre o grupo não apenas criam uma aura mítica ao redor dele, mas combinam muito com seu trabalho. Tem a ver com os muitos elementos presentes em seu som e a beleza da complexidade do Post-Rock, estilo ao qual a Godspeed You! Black Emperor está ligada ao fazer suas músicas expansivas e quase surreais. Bom para quem ouve Mogwai e bandas dessa pegada.

A impressão que tenho é que suas faixas instrumentais são metalinguísticas. Música sobre fazer música, “arte pela arte”, grandes exercícios de composição e execução ao vivo. A complexidade de seu som cresceu tanto que a banda deixou de ser um trio para ter dez membros ativos em seu segundo trabalho, F#A#∞ (1997)(lê-se “F sharp A sharp infinity”).

Durante os próximos anos, o grupo não deixou de ganhar novos adeptos, nem mesmo com seu hiato declarado um ano depois do lançamento de Yanqi U.X.O. (2002), logo após ter sido confundido com um bando de terroristas durante uma turnê nos Estados Unidos (é sério). A década seguinte testemunhou a disseminação do trabalho da banda no underground e sua reunião em 2010, que teve como consequência o lançamento de ’Allelujah! Don’t Bend! Ascend!, seu recém-lançado disco.

Se em uma época sem Internet rápida (a década de 1990), a banda conseguiu ganhar tantos admiradores e mais seguidores ainda no período em que nada foi lançado, o novo álbum deve tratar de trazer mais e mais público para a Godspeed You! Black Emperor, que segue investindo em um trabalho de alta qualidade que não a deixa perder a aura mítica que tem e sempre terá.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.