Uma Medida Para Todas as Coisas Acústicas

Com seu primeiro disco, José González estabeleceu um novo patamar para música voz e violão

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

José Gonzáles – Veneer (2003)

Sem querer, nós estabelecemos bases de comparação quando temos contato com algo que muda nossa perspectiva sobre um assunto. É a experiência que você tem em um lugar e nenhum outro será o mesmo, alguém que você namora e, quando vai ver, acaba comparando sempre que conhece uma pessoa nova, ou mesmo algo mais trivial, como uma refeição em um restaurante que define um novo padrão. Com música voz e violão, isso pra mim aconteceu com José González lá por 2007 ou 2008, não me lembro bem.

Foi nessa época que conheci, meio que de uma só vez, seus dois álbuns (Veneer, 2003, e In Our Nature, 2007). Confesso ter ouvido meio que só isso por um bom tempo, em uma paixão que depois transportei para sua banda Junip. Esse sueco filho de argentinos sabe mesmo conquistar o ouvinte, tanto com as letras confessionais-reflexivas, quanto com melodias incríveis e dedilhadas. Na verdade, parece que ele sabe estabelecer um contato real de uma alma (a dele) com outra (seja essa minha ou sua).

Tem quem chame seu estilo de Folk, mas eu preciso chamar de “Voz e Violão” mesmo, já que prefiro relacionar o gênero ao que é de fato mais folclórico ou influenciado pelo meio (principalmente o romantismo da natureza). Com González não é assim, a gente sente ele fazer algo muito contemporâneo mesmo só com o timbre das cordas e seu vocal tímido.

E Veneer é isso, é uma coleções de músicas propriamente deste século – e o design da capa já diz muito sobre isso. E o trabalho é tão contemporâneo que sua faixa mais famosa é um cover de Hertbeats – não de um figurão Folk, mas da Eletrônica e sintetizada The Knife.

Muita gente veio até o álbum pela cover, mas ficou pelas músicas autorais. Se Crosses (a primeira que ouvi, antes mesmo de Heartbeats) já seria motivo suficiente para você respeitar o cara pra sempre, a sensibilidade de letras como a de Hints vem quase como um bônus para o que já estava bom, mas é a interpretação emocionada de músicas como Save Your Day que te fazem ficar com o coração na mão e perceber que este não é qualquer disco acústico.

Aliás, só pra te situar, ele foi gravado no apartamento do cara enquanto ele estudava seu phD em bioquímica. Essa figura fascinante que se esconde por trás da barba e do vocal intimista deixa sua obra ainda mais curiosa.

Não sei o que Veneer vai te comunicar, mas sei que o disco tem chances de virar também a base de comparação para todos os próximos compositores que vierem com canções acústicas até seus ouvidos.

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MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.