Velhas Bandas, Novos Sons

Quais são as causas que levam um artista a mudar de estilo?

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Evoluir é um processo natural. Permanecer estanque nos mesmos motivos durante muito tempo pode ser, inclusive, prejudicial, afinal, se alguém permanece produzindo exatamente a mesma coisa por 20 anos, deveria se preocupar, não? Nas palavras menos amenas do filósofo Mário Sérgio Cortella: “ser do mesmo modo de uma maneira persistente não é sinal de coerência, é sinal de tacanhice mental”.

Você pode estar se perguntando os motivos de eu começar este artigo filosofando tão pretensa e vagamente. Explico: é justamente para contextualizar um assunto que já foi muito polêmico, pois, há não tanto tempo assim, quando os gêneros musicais não eram interpenetrados por tantas subvertentes, o trânsito de uma banda para outro estilo podia causar um frenesi bastante negativo. É claro, isso ainda costuma acontecer nos gêneros mais baixos dos redutos da música underground (e o Death Metal que o diga, amigos), mas, antigamente não era necessário descer à recônditos tão submersos para topar com os defensores mais fanáticos do rótulo e da definição.

Por isso, escolhemos arbitrariamente algumas bandas para mostrar como a mudança da sonoridade de uma banda pode vir de vários lugares, ter motivos diferenciados – da real preocupação em se reinventar até mesmo por imposições comerciais de uma gravadora -, pode suceder ou falhar (ambas tentativas louváveis, convenhamos), e como uma mudança drástica pode acabar, por fim, destacando o grupo no cenário musical por conta do seu resultado. Pois bem, rumo ao destino inveitável do amadurecimento. A elas:

Beastie Boys

Nosso primeiro exemplo diz respeito justamente às mudanças drásticas que acabam salvando a história do grupo. Beastie Boys nasceu como uma banda de Punk Rock. Originalmente chamada The Young Aborigines, mudou seu nome definitivamente com a entrada de Adam Yauch para o grupo em 1981 – (Yauch faleceu, aliás, em 2012, dando uma pausa indeterminada nas atividades da banda). A herança do Punk com certeza teve sua influência no Rap do grupo, que ficou marcada por inúmeros motivos, inclusive por ser o primeiro grupo de Hip Hop de sucesso formado por brancos.

Radiohead

É quase covardia citar Radiohead quando se fala de reinvenção e evolução. Mas, nascida num Rock Alternativo de auto-negação, que se sintetiza na música símbolo Creep, Radiohead assume o flerte com os sons digitais ao longo de sua carreira (o título OK Computer diz muito, não?) que culmina na música eletrônica alternativa de Kid A, álbum que re-consagrou o grupo e até hoje parece sempre à frente de seu tempo como um grande exemplo bem sucedido de uma carreira improvável.

Red Hot Chilli Peppers

Vindo de um Rock funkeado completamente esquizofrênico, Red Hot Chilli Peppers desenvolveu o próprio estilo ao longo da carreira seguindo a veia Pop e, após o sucesso massivo do álbum Californication, parecia atravessar um período de ressaca a partir de By The Way, assustadoramente famosos e com um cansaço aparente que resultou num Pop Rock manso, (por vezes, infelizmente, exageradamente comercial). Depois de inúmeras crises, que culminou com a saída definitiva do guitarrista John Frusciante, os Chilli Peppers parecem recuperar o gás e retomam suas influências Funk do início de carreira.

Kings of Leon

Um rock caipira de visual excêntrico (e convenhamos, bem mais legal) com influências do Indie, na época, liderado por The Strokes – que acabou denominado Southern Rock -, até o flerte com o Post Rock megalomaníaco (meio U2 wannabe), Kings of Leon, à maneira de RHCP, foi abraçando seu lado comercial sem dó, provocando uma mudança sonora sutil, não estivesse escancarada pelo apelo visual do grupo e chega no seu último lançamento com uma espécie de resumo da carreira com a tentativa de retomar o estilo que a destacou.

Sufjan Stevens

Vindo do Folk estadunidense interiorano com sua estreia (A Sun Came!), passando por experimentações eletrônicas análogas ao calendário chinês (Enjoy Your Rabbit), chegando até à “Great American Novel” de Michigan, Sufjan Stevens figura nessa lista como exemplo de um fluxo criativo intenso, em que a reivenção é apenas o modus operandi inevitável da uma produção prolífica.

Bônus: Dee Dee Ramone

Douglas Glen Colvin, o Dee Dee Ramone, está aí para mostrar que, por incrível que pareça, o salto do Punk Rock para o Rap não é tão incomum assim. Contudo, diferentemente dos Beastie Boys do começo da lista, a incursão de Dee Dee pelo mundo do Hip Hop não foi bem sucedida. Estafado pelas turnês exaustivas e pelo estilo de vida pesado dos Ramones, chegou a lançar um álbum sob a alcunha de Dee Dee King. Infelizmente (ou não) o álbum foi rejeitado pela crítica e pelo público, encerrando a carreira e voltando para o Punk de onde supostamente não deveria ter saído.

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Autor:

é músico e escreve sobre arte