William Fitzsimmons: Sensibilidade Acústica

Relembre a obra do músico, que lança novo trabalho neste mês

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William Fitzsimmons é uma dessas pessoas que nos fazem pensar sobre a influência do meio na vida das pessoas, assim como na sensibilidade “espiritual” delas. Sem querer parecer determinista de propósito, vamos aos fatos: filho de um casal de cegos, cresceu num ambiente em que os estímulos sonoros (principalmente os relacionados à criatividade e à sensibilidade artística) eram muito mais influentes que os visuais. Aprendeu em casa os primeiros trejeitos na digitação do órgão, construído pelo próprio pai. Multi-instrumentista, aprendeu a tocar piano e trombone e foi autodidata na execução do violão (assim como demais instrumentos de cordas, como banjo, ukulele e bandolim). Além deste ambiente da infância, o Fitzsimmons adulto é terapeuta, com mestrado relacionado à área de doenças mentais, o que, obviamente, amplia sua visão em relação aos (tantos) problemas emocionais das pessoas.

De fato, não supreendente que tenha sido no violão dedilhado do Folk que Fitzsimmons (vindo do interior dos Estados Unidos) encontrou seu alicerce de criação artística, pois, além de contribuir para a expressão de sua personalidade introvertida e melancólica, o instrumento mantém certa propensão ao uso das belas harmonias acústicas e da voz sussurrada, o que acaba transformando sua música em algo de fato terapêutico.

Seus primeiros álbuns, Until When We Are Ghosts (2005) e Goodnight (2006), foram totalmente produzidos em casa, e contavam apenas com um violão, voz e uma delicada percussão eletrônica. Mas, apesar de ficar conhecido como um artista acústico que utilizava elementos eletrônicos em suas músicas, me parece que esta opção não se dá necessariamente por uma vontade declarada de transgredir as barreiras conceituais da própria arte (elaborando propositalmente um discurso de conflito entre a música acústica e a eletrônica), senão por uma conveniência das condições de elaboração do álbum, afinal, uma percussão simples e digitalizada favorece muito a solitude do compositor nas canções (Fitzsimmons compôs, gravou e produziu todo seu material sozinho).

Algumas músicas de seus primeiros álbuns figuraram como trilha sonora do seriado da ABC Grey’s Anatomy, o que alavancou sua fama e lhe rendeu comparações a alguns exemplos do que há de melhor no estilo, como Sufjan Stevens, Elliot Smith e Iron & Wine

A partir daí, começando com o trabalho de 2008, The Sparrow and the Crow, seus álbuns passaram a ser elaborados em estúdio, com uma produção um pouco mais incrementada. Novos instrumentos passam a colaborar, como o piano, novas vozes, bateria e até mesmo guitarras (mesmo que sempre limpas e cristalinas). Mas Fitzsimmons nunca abandonou seu estilo e em sua carreira é possível observar um desenvolvimento muito sutil, uma evolução delicada, sempre guiada por sua maneira doce, suave e gentil de cantar e tocar (é fácil de perceber a força de seus vários vídeos tocando ao vivo, que parecem colocar o músico muito à vontade no ambiente que lhe pertence).

Nesta onda, a promessa do lançamento de seu novo trabalho é para o final deste mês. Lions já conta com algumas prévias (como o clipe de Fortune, abaixo) que comprovam que podemos esperar mais do mesmo, com o músico atuando no que sabe fazer de melhor. Para ajudar, conta com o apoio de outra pessoa que não deixa nada a desejar quando o assunto é sensibilidade artítica: Chris Walla, guitarrista do Death Cab for Cutie é quem comanda a produção. Pois bem, é hora de rever a discografia do rapaz e estar de coração preparado para mais de sua bela sensibilidade acústica neste ano.

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Autor:

é músico e escreve sobre arte