Yannick Hara: Ascendência Múltipla como a Música Hoje

Rapper paulistano une referências diversas para apresentar sua própria identidade

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Já pensou que estranho nós aqui, em pleno 2017, nos contentarmos com uma só classificação para a música que ouvimos, como se a palavra que alguém inventou no passado definisse toda a produção de um gênero, como se os estilos fossem lineares em forma e conteúdo? É algo que vem à mente no caso de Yannick Hara, rapper paulistano que une diferentes universos estéticos para criar seu som. Não que sua música precise vir acompanhada de inúmeros prefixos, sufixos ou predicativos para que você consiga entendê-la, mas o termo Rap sozinho pode não dar conta – ou melhor, ele pode gerar uma expectativa diferente da realidade que ouvimos em seu primeiro trabalho, Também Conhecido como Afro Samurai (2016).

Se os lugares comuns do Rap costumam balançar um pêndulo entre a crítica social de um lado e a ostentação de outro, Yannick busca inspiração na Cultura Pop para, abastecido pelo universo otaku, compor versos que dialoguem com sua realidade. No caso desse seu primeiro disco, todas as músicas tomam a narrativa do anime de mesmo nome para refletir, através de sua história e personagem-título, a pessoa por trás das músicas.

“O disco é uma busca por uma identidade”, contou ele à redação Monkeybuzz, “eu sou filho de pai negro e mãe japonesa. Quando era criança, eu não sabia quem eu era. No meio da comunidade negra, eu era japonês. Na comunidade japonesa, eu era o pretinho”, comenta. Dessa forma, assim como o Afro Samurai referenciado, o rapper partiu no que ele chama de uma “busca para saber quem eu sou pela identificação com uma obra”.

“Quando comecei a ouvir Rap, tive vontade de fazer um disco, mas não sabia do que falar”, contou ele, “eu não era da periferia, era da classe média, estudei em colégio particular. Vou falar do quê? Eu tinha esse preconceito comigo mesmo”. Foi aí que o anime chegou até ele e trouxe junto toda a inspiração para o álbum de oito faixas, que ele começou a preparar em 2010.

Sob um certo medo de não ser aceito no meio, ele investiu em uma grande mistura, digna desta década, para apresentar seu trabalho. “Na produção do disco, eu quis trazer Rap dos anos 1980 e 90, de Nova York, tipo Wu Tang Clan, que eu gosto bastante, mas também algo dos anos 2000, o Dirty South, que é o atual Trap”, revelou na entrevista, adicionando que a parte visual vai além do referencial otaku, encontrando também referências bastante brasileiras ligados ao Tropicalismo de gente como Glauber Rocha e Caetano Veloso.

“Desde criança, meu pai sempre me incentivou a andar pelas duas culturas”, comenta o rapper, “eu sou as duas coisas, mas eu também sou o Yannick e posso falar sobre isso com propriedade”, explicitando o conteúdo pessoal de sua obra. Para seu próximo disco, já em pré-produção, o filme Blade Runner vem como a fonte principal de inspiração para Hara, que continuará cavando seu espaço em uma época que, justamente pela pluralidade que propõe, aceita e celebra a música também mestiça.

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ARTISTA: Yannick Hara
MARCADORES: Conheça, Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.