Zudizilla: tudo agora

“Eu acho que o hip hop não é sobre até onde tu pode chegar, mas sobre quantas pessoas vão tá contigo lá”; o rapper conta como as contradições fazem parte do álbum “Zulu Vol. 2: De César a Cristo” e fala sobre sonhos imperiais, vícios e “não ficar cristalizado em um lugar conceitual”

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Fotos: Alile Onayale

Encontro Zudizilla em uma chamada de vídeo no final de uma tarde que a temperatura caiu drasticamente em São Paulo, cidade que o gaúcho escolheu para residir junto com sua família. Agradecido pelo frio e planejando comprar um vinho após a nossa conversa, o rapper fala sobre a dualidade que foi norte para o seu disco Zulu Vol. 2: De César a Cristo, lançado em março deste ano.

O projeto, que sucede Zulu, vol .1: De Onde Eu Possa Alcançar o Céu Sem Deixar o Chão, é a segunda parte de uma trilogia em que o artista mistura histórias pessoais com a do personagem Zulu para desenvolver vivências e desejos. Logo de cara, Zudizilla afirma que ainda não conseguiu fazer o trabalho que ele realmente gostaria, mas que sente que está caminhando para isso. “Para mim, ele é muito distante daquilo que eu faço e que eu quero fazer como artista. Eu sou muito mais complexo do que o Volume 2”.

Continuando uma saga que começou em 2019 com o Volume 1, no qual o personagem está em busca de um lugar de pertencimento, no segundo volume Zulu encontra esse lugar – cercado, entretanto, de questionamentos, arrependimentos e (novas) metas. Nas canetadas, Zudizilla questiona relações de afeto, a necessidade de sempre se provar suficiente e o sentimento de estar em desvantagem e ter que correr atrás do prejuízo, ao passo que ressalta a importância de estar ao lado de quem te faz bem e colabora para que o cotidiano fique mais leve. As contradições também são percebidas na sonoridade do álbum, divido em lados A e B, com referências – às vezes, em uma mesma faixa – que passam por jazz, samba e funk.

O álbum parte dessa inquietação, da dúvida e da vontade de mudança, o que move as duplicidades de desejos e personas do disco. “César com certeza não tocaria o foda-se naquilo que mais ama por quem mais ama. E Cristo abandonaria qualquer coisa pelas pessoas que ama. Então ali eu já trago onde está colocada toda essa narrativa. Eu sou César, mas também sou Cristo. Solitário e amoroso como Cristo, mas com sangue no olho e ganância igual César. O lance é achar o equilíbrio entre os dois para que eu consiga ser só Zulu.”

Ora César, ora Cristo, Zulu busca, a partir das contradições internas e externa, encontrar o melhor para si e para as pessoas ao seu redor. Logo na primeira faixa, “AFORTUNADO”, um sentimento de raiva é exacerbado pela vontade de proporcionar uma melhor situação para a mãe – enquanto em “OYA”, o rapper pede perdão pela forma como a tratava quando jovem. E “SALVE” mantém a toada temporal-familiar, com Zudizilla mostrando preocupação com o legado que deixará para seu filho, Dayo.

“SONHOS IMPERIAIS” ressalta o caminho que vem traçando na arte e mostra  seu lado ambicioso, enquanto “RAN UM NEFER” é um mantra sobre disciplina e foco. A pressão de ser César ou Cristo – ou César e Cristo – segue em “TELA EM BRANCO”, em que os vícios são colocados como pequenos antídotos em meio à rotina. “A pior coisa é ter vícios, e eu tenho que agradecer porque é o que me sobra. Esse personagem está neste lugar de tanta pressão na cabeça que ele agradece aos vícios que ele tem”, conta o artista.

Além do disco, a história chega com o curta-metragem Vozes do Silêncio, dirigido por Kaya Rodrigues e Luis Ferreirah, que conta sobre a vivência de pessoas negras no Rio Grande do Sul. Zudizilla adianta que pretende explorar outras linguagens em seus próximos trabalhos. “Nisso, pensei que o primeiro ato poderia ser um disco, o segundo um filme e o terceiro um livro. Para tentar explorar a relação de outras mídias como forma de expandir o som e de chegar nas pessoas”.

Lançado em parceria com o Edital Natura Musical 2020 via Pró-Cultura RS LIC e com produção assinada pelo próprio Zudizilla, o disco conta com participações de Wesley Camilo, Coruja BC1, Monique Brito, B.art, Thiago Ticana, Emicida, Serginho Moah, Filiph Neo, NP Vocal e Eduardo Freda.

Entre vícios, sonhos imperiais e horas douradas, Zudizilla explora seu ritmo e lirismo na medida em que tenta se encontrar como artista, pai e homem. Aqui, ele fala sobre a produção da trilogia, sua influências e por que tudo tem que ser agora.

Eu quero começar perguntando como você desenvolveu essa ideia da trilogia do disco. E como foi fazer o disco e um filme no volume 2?

Tudo surgiu porque em 2016 eu tinha muitas músicas escritas. Algumas eu vi que tinham coerência e mandei pro Nyack, e ele falou que dava um disco. Mas como eu tinha muita música, pensei que poderia ser um trabalho maior do que um disco só. E aí vem a ideia da trilogia. Nisso, pensei que o primeiro ato poderia ser um disco, o segundo um filme e o terceiro um livro. Para tentar explorar a relação de outras mídias como forma de expandir o som e de chegar nas pessoas. Muito da questão de como o disco soa foi se construindo no meio do caminho, fui entendendo e aprendendo na produção. Ele seria uma mera trilha sonora original do filme, para mim ele é um disco que soa comum para o ouvido das outras pessoas, ou soa de uma forma mais familiar, e acho que isso faz com que elas consigam seguir se adaptando e se entender perante esse álbum. Mas, para mim, ele é muito distante daquilo que eu faço e que eu quero fazer como artista. Eu sou muito mais complexo do que o Volume 2, e ele é feito dessa forma porque a gente faz alusão de César a Cristo. Eu estou entregando para o grande público aquilo que eu amo, que é a arte, mas eu também entrego pro mercado aquilo que eu acho que o mercado pode aproveitar de melhor de mim. Porque eu também não quero ficar cristalizado nesse lugar de conceitual.

Quando você fala que quer explorar outras linguagens seriam outras mídias, como o filme e o livro, ou em questão musical?

Ambos. No Volume 1 tem mais do que eu quero apresentar do que o Volume 2. Esse último tem muito de entrega, eu sabia que tinha uma entrega para dar. Nesse disco, ainda não cheguei no lugar que quero de apresentação da música, e nem da forma midiática que quero trazer essa música pro grande público. Eu tenho problema com streaming, eu comecei fazer rap pelo MySpace, depois YouTube, até chegar no Spotify. Meu primeiro álbum de estúdio, Faça a Coisa Certa, está disponível nas plataformas mas o meu lançamento foi feito pelo Bandcamp, que é uma plataforma que eu acredito por ser um pouco mais justa na hora da distribuição da grana. Eu tenho problemas com as plataformas e gostaria de ser uma pessoa com um pouco mais de possibilidade e domínio para lançar do jeito que eu quero. Mas ainda sou um artista nanico e eu não posso ficar lutando contra essas grandes empresas, eu estou nesse momento de mostrar para essas corporações que também tenho algo a ser aproveitado.

É muito injusta a forma que as plataformas tratam os artistas. Isso está cada vez mais em debate, então é necessário surgir novas alternativas. E você comentou que essa sonoridade ainda não é a sonoridade que você quer. Essa sonoridade que você quer já vai estar no terceiro volume ou você ainda está nesse processo de descobrir?

Eu não sei, na real. Eu estava escutando muitas coisas que eu estou amando fazer, mas ainda estou nesse lugar de não conseguir tencionar 100%. Eu não sei até onde vai esse disco, o quanto de liberdade ele vai me dar para que no volume 3 eu possa enfiar os pés. Mas vai ter muito mais coisas que eu produzo, que eu tenho como narrativa. Estou buscando originalidade, tenho referenciais que fazem isso, não é uma invenção minha, o Kanye West e o J Dilla, por exemplo, fazem isso. O Volume 3 pode vir com um pouco mais de coragem, um pouco mais de arrojo e com um pouco menos de respeito às práticas e dinâmicas do que está sendo feito agora.

E junto ao álbum você lançou o curta Vozes do Silêncio, que retrata um pouco da história da formação do povo gaúcho. No material de apresentação você cita referências como o quadro do Aldo Locatelli, o livro Vozes do Silêncio, de Agostinho Dalla Vecchia, e a Winnie Bueno. Como foi esse processo de pesquisa e de produção do curta?

O roteiro é meu adaptado para algumas produções de pandemia, muita coisa a gente não conseguiu realizar por conta disso. Mas o roteiro é todo meu inspirado em um texto que a Winnie me mandou quando eu estava fazendo o Volume 1, que eu falava justamente sobre o não-lugar. Ela tinha feito um texto em 2014, eu acho, era um texto de blog e na hora eu falei que ele ia nortear o filme ou o disco. O disco fala de mim e o filme fala de mim falando sobre os outros, ele é um capítulo de uma história que eu quero que outras pessoas continuem construindo. O livro Vozes do Silêncio chegou a mim quando eu tinha 16 anos porque a minha bisavó de consideração deu um depoimento nesse livro. Nisso, comecei a entender um pouco da relação da minha família no Rio Grande do Sul, da relação escravista e da relação do charque. Todo esse depoimento foi muito doido para perceber a história do preto no Rio Grande do Sul, o escritor Agostinho Dalla Vecchia diz que o preto do Rio Grande do Sul vai demorar muito pra conseguir construir o futuro porque ele não consegue olhar pro passado. Isso porque os pretos foram proibidos de documentar oficialmente essa existência. Então parece que a gente nasceu agora, que tudo está vindo a partir de agora. Nossas opressões, nossas dificuldades, nossa falta de amor, de afeto, nossa dificuldade de se relacionar, parece que tudo está acontecendo agora. No meio da produção do projeto, percebi que eu estava fazendo a mesma coisa do que ele, eu estou tentando registrar mais um checkpoint na história para que futuramente a gente tenha onde recorrer para entender e imaginar o que que está acontecendo no Rio Grande do Sul.

Uma coisa que eu achei curiosa é que o nome do novo disco está entregue no primeiro, no trecho “Digno do legado falido de César, porém Cristo”, na faixa “Intro 11”. Como rolou isso?

Na verdade os três nomes já estão no primeiro disco.

Olha o spoiler, tem que caçar agora.

Está entregue há muito tempo porque isso que estou tentando construir está além da minha história como pessoa. Eu tô criando um folclore preto, eu tô criando uma ópera preta, um projeto que é pra ser contínuo, que é pra ser lido, entendido e escutado. Eu tô criando uma série de discos que conta essa história focada no personagem Zulu, que coincidentemente é meu apelido, e que se entrelaça muito com a minha vida. Mas eu quero que outras pessoas se apropriem, tanto da força quanto dos momentos de tristeza, porque eles são comuns. Eu quero também aproveitar, viver, falar do meu filho, falar da minha mulher, falar do sol, falar da nuvem, sabe? O ponto é que ainda sofro com essas problemáticas, elas me atravessam, e eu acabo trazendo elas como dinâmica para outras pessoas através da minha arte.

Em “AFORTUNADO” você começa com um áudio da sua mãe e você parecia muito revoltado enquanto ela te acalmava. Qual o contexto desse áudio?

Ela questiona: “Está com raiva do quê, meu filho?”. E quando ela fala com raiva do que é justamente, eu estou todo arrepiado, é justamente o ponto. Eu estava em Salvador passando o ano novo na casa da família da minha esposa, que é uma dinâmica familiar completamente diferente da minha. Ela tem pai, mãe, casa, carro, propriedade nos nomes deles, tá ligado? E eu não tenho porra nenhuma, tá ligado? A gente não tem nada, só nós mesmos. Era a virada de 2019 para 2020, eu acho, e estava perto da meia noite e eu mandei o áudio para minha mãe desejando feliz ano novo e falando para ele curtir. Nisso, ela me falou que ia trabalhar. Para mim foi um choque, eu olho pro lado e vejo uma família preta com estrutura, como deveria ser, e minha mãe teve que trampar. Aquilo ali pra mim foi muito forte, muito potente. Nisso, eu já tinha um nome de César a Cristo, já tinha algumas músicas, mas parece que isso foi um o fio que alinhavou tudo que já tava pronto. Eu sabia que queria começar com “O mundo é foda/ Real life/ Sou mais foda/ Real talk”, a segunda parte dessa faixa nasce a partir do áudio. Porque eu gosto de trabalhar com dualidade, pelo menos enquanto eu estou trampando nessa trilogia. E aí quando eu chego nesse ponto de falar “Quem tá disposto a dar/ O que mais ama por quem mais ama”, eu tô justamente falando que estou disposto a deixar o que eu mais amo, que é minha arte, meu rap, por quem mais amo. Se eu tiver que dialogar com o mercado e entregar a minha arte e botar minha arte a leilão, por quem eu mais amo, eu estou disposto. E tem essa questão de “Quem tá disposto a dar/ Quem ama pelo que mais ama”. Isso é muito a prática de César a Cristo. César com certeza não tocaria o foda-se naquilo que mais ama por quem mais ama. E Cristo abandonaria qualquer coisa pelas pessoas que ama. Então ali eu já trago onde está colocada toda essa narrativa. Eu sou César, mas eu também sou Cristo. Solitário e amoroso como Cristo, mas com sangue no olho e ganância igual César. O lance é achar o equilíbrio entre os dois para que eu consiga ser só Zulu. E aí é onde o personagem está dentro dessa dualidade. Eu tenho minha mãe, mas eu tenho meu filho. Tenho meu passado, tenho o meu futuro. E eu estou focado no trabalho e é louco perceber que as vezes o que você está fazendo não é o suficiente.

“Eu estou entregando para o grande público aquilo que eu amo, que é a arte, mas eu também entrego pro mercado aquilo que acho que o mercado pode aproveitar de melhor de mim. Porque eu também não quero ficar cristalizado nesse lugar de conceitual”

Chega um momento em que é necessário descansar, né?

Eu quero muito ter um momento de tranquilidade, quero tentar tirar férias. Não é que eu não seja feliz. Mas eu quero poder aproveitar a felicidade do jeito que ela se apresenta pra mim, ao invés de idealizar um formato para felicidade e não conseguir aproveitar os momentos felizes que eu já estou tendo.

Você falou da dualidade que vem do nome e uma coisa que eu percebi que essa dualidade também está no ritmo. Como foi esse processo de colocar mais de um ritmo em uma única faixa?

Isso vem muito de acordo com a narrativa dessa confusão, desse personagem que não sabe se é César ou se é Cristo. Eu gostaria de fazer isso sempre, só que por muito tempo isso pareceu maluquice, tá ligado? Isso vem para corroborar a dúvida do personagem e era um desejo meu como artista porque eu gosto muito de jazz e músicas que tem essa progressão. E quero que as pessoas enxerguem que eu tenho coragem para fazer aquilo que me proponho fazer.

Agora falando sobre algumas letras, em “SALVE” você canta “Me promete que vai contar pro meu filho/ Que virei lenda na esquina/ De uma cidade onde ninguém nos vê”. Como é a sua relação com o seu filho e como é essa preocupação com o seu legado?

Eu acho que o hip hop não é sobre até onde tu pode chegar, mas de quantas pessoas vão tá contigo lá. Quando eu me vejo em São Paulo, tendo o aval de grandes artistas para poder trabalhar, quando eu recebo essa validação essa proximidade, eu automaticamente lembro lá do inicio, do lugar da onde eu vim. Sempre foi uma vontade minha fazer uma música para as ruas da minha cidade. Quando eu chego nesse lugar de entender que posso trazer minha cidade junto comigo, eu também entendo que isso talvez não vá ser rentável. O rentável é subir sozinho. Quando eu falo: “Me promete que vai contar pro meu filho/ Que virei lenda na esquina/ De uma cidade onde ninguém nos vê”, é porque as escolhas que eu estou fazendo talvez não me deixe rico, talvez não me coloquem na grande mídia. Talvez essas escolhas vão me fazer eternamente um MC com conceito daora, com um flow maneiro, com instrumentais bons, mas que nunca vai aparecer para lugar nenhum, nem pra ninguém. Mas, na minha cidade, as pessoas que me conhecem saibam quem eu sou e sempre tenham uma palavra assertiva pra me tirar do buraco. Eu espero que alguém conte pra ele: ‘Mano, teu pai tentou juntar as esquinas. Teu pai tentou acabar com as guerras de facção. Teu pai falou de todos os bairros que tinha aqui na quebrada para que, pelo menos aqui na nossa quebrada, a gente se respeite’. Então eu preciso dessa garantia, alguém me dar essa garantia para que eu continue fazendo o que eu estou fazendo. Porque eu não quero que no futuro meu filho olhe pro meu corre e pense que foi inútil.

“Eu tô criando um folclore preto, eu tô criando uma ópera preta, um projeto que é pra ser contínuo, que é pra ser lido, entendido e escutado”

Agora, em “TELA EM BRANCO” você fala sobre os seus discos e vícios. Quais discos estão tocando por aí e quais são os seus vícios?

Discos que eu mais escuto agora é A Love Supreme [John Coltrane]. Eu não sou uma pessoa que escuta muito rap, eu escuto mais como um material de estudo. Mas eu gosto muito de Mick Jenkins, J. Cole, estou esperando Kendrick Lamar lançar um disco para ficar escutando o resto da vida. Gosto de ASAP Rocky, ele me influenciou muito nesse trampo agora. E vícios, cara, eu tenho 36 anos, eu devo ter fumado maconha uns 15, fácil. Eu comecei a fumar maconha tarde e também parei tarde, parei agora, esses dias antes de lançar o disco. Uma que eu vou fazer o exame toxicológico para renovar minha CNH e outra que eu acho que não está tendo mais esse espaço na minha vida, tá ligado? E eu acho que é um momento bom pra eu fazer essa despedida. Mas gosto muito de tomar um vinho, tomar um chimarrão e acho que meu maior vício mesmo é contemplar o ócio. Eu sou uma pessoa que gosta muito de fazer muita coisa, mas tem horas que eu gosto de ficar um bosta deitado na cama ou com o controle do meu Xbox dando muita porrada em zumbi, tiro e fazendo gol. E essa música traz a dinâmica dos vícios porque é sobre a contemplação que a sociedade de hoje tem com a com a autoalienação. Tem muita merda acontecendo, mas menos mal que eu tenho vícios, menos mal que tem uma sexta-feira para eu ficar bêbado, como se isso fosse passar, tá ligado? Por isso que essa faixa ela vira, por mais que seja um vício para mim, ainda não resolve os meus problemas. A pior coisa é ter vícios e eu tenho que agradecer porque é o que me sobra. Esse personagem está neste lugar de tanta pressão na cabeça que ele agradece aos vícios que ele tem.

Em “TUDO AGORA” você fala de afrofuturismo e a necessidade de ações imediatas. Zud, por que tudo agora?

A necessidade de tudo agora é essa pergunta dúbia também. Quando eu falo da necessidade de que tudo aconteça agora é que já faz muito tempo que a gente está esperando tudo acontecer e nada acontece, e isso acaba frustrando. Porém, a mãe da frustração é essa correria pra que tudo aconteça, nisso a gente acaba se colocando em situação de risco, a gente acaba entrando pro crime e vendendo droga para comprar um tênis agora. Eu preciso me preocupar com o presente porque o presente é uma grande dádiva, mas também é uma grande maldição. Eu estar no aqui agora me faz entender que teve um passado antes de mim, e que vou ter um futuro para terminar. Mas o agora também é uma maldição porque eu percebo que no agora não tem avanço nenhum. O meu agora, o meu presente agora, é um dos piores presentes que eu poderia ter imaginado na minha vida. Eu nunca imaginei que estaria, em 2022, com um presidente energúmeno, tendo que falar de racismo, em um ano que era pra ter pseudo carro voando. Essa música fala muito sobre isso, sobre o presente ser um presente, mas também às vezes ser um grande fardo. Mas a gente tem que carregar e aprender a lidar com os dois e dosar de um lado e do outro para sobreviver e se manter.

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ARTISTA: Zudizilla