Em novembro, o rapper Earl Sweatshirt lançou seu terceiro álbum solo, Some Rap Songs, que consolidou sua carreira e subiu seu status de um dos membros mais promissores e proeminentes do coletivo Odd Future para um dos artistas mais inovadores do Rap atual trazendo com essa obra uma carga de experimentalismo que é pouco vista nesse novo cenário em o que Trap tem aparecido como seu principal braço midiático e galinha dos ovos de ouro do estilo.
Para acompanhar esse lançamento, o músico revelou nesta semana um curta metragem, nomeado Nowhere, Nobody, que explora em seus pouco mais de 8 minutos histórias desconexas sobre a experiência de ser negro. A direção é da dupla Naima Ramos-Chapman e Terence Nance (criadores do programa satírico Random Acts of Flyness, que estreou na TV norte americana também em 2018).
Some Rap Songs é sucessor de I Don’t Like Shit, I Don’t Go Outside, de 2015, e conta com uma produção caótica, por vezes bastante hipnótica e desorientadora. São assim também suas letras, que lidam com temas como esperança e falta dela, a sensação de estar perdido, isolamento e abuso de drogas, através uma poesia bastante pesada e carregada. Essas são as faixas que servem como trilha sonora para o curta, impondo o tom denso às imagens que ora parecem triviais, ora parecem totalmente fora da realidade. Uma colisão sensorial que também é percebida em seu álbum.
Imagem e som se encontram nessas narrativas de forma desorientadora, porém fornecendo ao espectador não só uma compreensão expandida das músicas presentes na obra, como também um leque de significados ao que está aparecendo na tela: corpos negros pintados de branco e estátuas brancas de pessoas negras são formas de transformar esses corpos em obras de arte ou de somente aprisioná-los de alguma forma?
