Exclusivo: ouça o single “Alívio”, do Nuven

O novo EP “Desordem Natural” sai no dia 24 deste mês. Já ouvimos as faixas inéditas e conversamos com Gustavo Teixeira sobre elas

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Fotos: Monkeybuzz

Iniciar a entrevista pelo clichê “Por que você escolheu o nome ‘Desordem Natural’?” é ridículo de tão previsível. Mas, foi a primeira pergunta que pensei na árdua tentativa de quebrar o gelo com Gustavo Teixeira, o Nuven, durante uma conversa para falar a respeito do seu novo EP. Nitidamente desconfortável, ele não gosta de tirar fotos, pior ainda se for em público. “Ah, sabe que eu nem sei? Essa brisa veio na minha cabeça, gosto do significado da ‘desordem’, a vida é assim desordenada e o caos acontece de forma natural. Talvez tenha surgido de algum filme, mas, sinceramente, não tenho a menor ideia”, respondeu aliviado, pois era hora do intervalo para beber um café.

A partir daí, seguindo a lógica (ou falta dela) o bate-papo prosseguiu tão despretensioso e agradável quanto a minha primeira audição das cinco faixas do “Desordem Natural”, cujo lançamento no selo Balaclava Records está previsto para 24 de maio. Este é o terceiro dele pelo mesmo selo, após o EP “Choice of a Fiction” (2015) e o álbum “Partir” (2016), que renderam participações nos festivais Primavera Sound Night Pro, em Barcelona, e o Megaphono, em Ottawa.

Ouça com exclusividade o single “Alívio”. Créditos do vídeo: motion graphics/ Origo Lab

Nuven fez a produção do EP. A diagramação é do Lucas Dimitri, mas a imagem da capa também é de Gustavo, feita durante uma viagem à Bahia. “Pensei em usar a foto em algum lugar, pois ela transmitia a ideia de movimento, transformação e as cores originais eram tão bonitas que pareciam uma pintura”. Roberto Kramer aka RØKR, parceiro na Balaclava, é o responsável pela master, e a mix também é de sua autoria, ao lado do próprio Nuven. A respeito do setup, ele afirma: “Usei o Ableton Live, plugins nativos do programa tanto de efeitos quanto soft synths e o sampler, alguns soft synths da Native Instruments, samples diversos, Korg Minilogue, Moog Mother 32 e uma guitarra ligada direto na placa de som”.

Se você procura um som para ouvir no começo da noite, depois de chegar em casa do trampo e de bolar o primeiro baseado recompensador do dia, aperte o play no “Desordem Natural”. Recomendável para brisar, o EP provavelmente nasceu de noites em claro enfumaçadas por muito THC. Então, imagine o tamanho da complicação para o meu lado que é descrever os gêneros musicais envolvidos nessa lombra. O EP percorre a atmosfera escapista e etérea marcante do Nuven, porém, aqui rola IDM com mais influências de Ambient House, melodias e com momentos beirando o Chillwave.

Quem acha sem graça usar rótulos, pode ficar com a explicação que veio na minha cabeça: eu imagino uma brisa parecida com capa do “Artificial Intelligence”. Um tipo de som destinado a audição sedentária, longe da pista, mas bem menos robótico futurista do que o classicão noventista da Warp Records. Daí, você coloca um baseado na mão do andróide jogado no sofá e tudo passa a fazer sentido.

Neste caso, vale até a mesma recomendação: “Você está sentado confortavelmente? O disco é para viagens longas, noites tranquilas e madrugadas sonolentas. Ouça com a mente aberta”. Até porque, o disco foi feito da mesma perspectiva. Como o título nasceu da espontaneidade, questiono se a mesma falta de regra vale para as faixas. “Eu costumo colocar nomes esdrúxulos e aleatórios de acordo com a primeira impressão ou com a primeira palavra que me vem em mente, logo após trabalhar em alguma ideia. Depois, salvo no computador. Apenas ‘Perdendocontato’ e ‘Natural’ foram nomes pensados. Os originais eram muito nada a ver”.

Não acredito que minha visão tenha mudado muito, o propósito do meu projeto desde o começo foi experimentar e tentar fazer algo intuitivo sem me ater a um gênero específico ou a algum propósito comercial do qual eu tivesse que me enquadrar. Esse EP [Choice Of A Fiction] é de quatro anos atrás, desde então, eu me aprofundei mais no meu ofício e experimentei outros métodos e equipamentos para produzir. Antes, produzia tudo só no computador com plugins e, conforme o tempo foi passando, fui incorporando mais hardwares nas músicas (tanto sintetizadores quanto drum machines). Além de ter ouvido muitos outros artistas que não conhecia na época. É inevitável que tenha havido uma mudança na parte musical e técnica: eu gosto de me manter sempre aberto a tentar algo novo pois se não acabo me entediando. Considero que manter sempre uma ‘identidade musical’ sem ficar se repetindo é o maior desafio para qualquer artista. E sobre o idioma, talvez um dia volte a colocar os nomes em inglês. Mas, no momento, o português tem me deixado mais à vontade” – Nuven falando a respeito das mudanças no processo criativo desde o “Choice of a Fiction” até o atual EP.

Na sequência da entrevista, jogo uma dúvida: “Desordem Natural” tem algum vínculo com o “Partir”? Seria um tipo de “prosseguimento” ou evolução de alguma ideia, história ou tendência iniciada no álbum? “Absolutamente nada a ver”, respondeu Gustavo.

No entanto, algumas questões ainda rodeiam a minha cabeça. É tudo tão nada a ver assim? Talvez a faixa “Alívio”, que abre o EP, denuncie o contrário. “A produção das faixas durou de abril a setembro de 2018. Depois, foram dois meses de mixagem e masterização. Eu estava em um momento novo da minha vida nessa fase, recém saído de um emprego de anos que não estava mais rolando e que no fim me consumiu bastante energia”. Mas eu desisti de perguntar, afinal, as chances maiores são de não ter o menor vínculo ou sentido.

Vale destacar o fato do Nuven também curtir outras sonoridades fora do espectro do Ambient. “Da metade de 2017, mais ou menos, pra cá tenho experimentado diferentes formas de liveset. Algo mais voltado tocar em pista. Tem sido um ótimo aprendizado e acaba me fazendo abrir a cabeça para tentar criar faixas que sejam mais ‘funcionais’, entender melhor o que funciona ao vivo e o que não tão bem. Muitas vezes, com menos elementos, mais espontâneas na execução e compondo as músicas direto em drum machines e synths” revela o músico, que já se apresentou em espaços e festas como Metanol, Virada Cultural, D-Edge, Locomotiva Festival, Sesc Pompeia, Balaclava Fest e abriu o show do Nosaj Thing.

Nuven deve lançar outro EP no segundo semestre de 2019.

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ARTISTA: Nuven
MARCADORES: Lançamento

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