Sandro Perri, Matana Roberts, Lingua Ignota, Rosie Lowie e mais…

Monkeyloop: Retrospectiva Internacional 2019 (Parte I)

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No último mês do ano, o Monkeyloop muda de cara. Agora, para além de ser um apanhado do que passa pelos ouvidos da redação do Monkeybuzz, ele torna-se temporariamente uma retrospectiva dos lançamentos internacionais deste ano sobre os quais não falamos até então, mas que, ainda assim, merecem a sua atenção. São dez discos por semana: anote!

Sandro Perri – Soft Landing

O tempo cerca diferentes fatores deste lançamento de Sandro Perri. Para começo de conversa, o artista de Toronto estava há sete anos sem soltar um novo disco. A espera, no entanto, valeu a pena. Principalmente, porque agora conhecemos uma nova faceta do musicista: a de guitarrista. Com o instrumento em maior proeminência nessa fase, ele continua com sua sonoridade low-key, mas com tempero diferente. Ainda sobre tempo, a primeira faixa se chama “Time (You Got Me)” e tem mais de 16 minutos de duração que, acredite, são capazes de nos capturar durante toda sua extensão. (Pedro João)

Matana Roberts – Coin Coin Chapter Four: Memphis 

Matana Roberts dá continuidade para a sua série Coin Coin, este sendo o quarto capítulo: Memphis. O registro parte de várias improvisações, narrações de histórias e claro, tem o Jazz como seu protagonista. A saxofonista descreveu Memphis como a “música de libertação do século XXI” e é fácil entender o porquê. Com o seu vocal vibrante, logo na primeira faixa, “Jewels Of The Sky: Inscription”, ela deixa tudo semelhante ao mantra Aum, quase criando uma aura mágica para a canção. Vale ouvir não só esse registro, mas os outros três também! (Ana Laura Pádua)

Shadowax – nikolai reptile

Shadowax é o nome adotado por Mirabella Karyanova e sua mais nova obra vem com o garantia de qualidade do selo Trip, capitaneado pela produtora mundialmente famosa Nina Kraviz. nikolai reptile tem algo de muito nonsense em sua construção. Há um pouco de Techno e IDM misturados a ambientações e construções bastante fora do comum. São apenas quatro músicas que colocam o ouvinte em um mundo bastante diverso e muito bem construído, com um cuidado especial em timbres e escolhas de vozes, muitas vezes faladas e em russo. Uma viagem bastante psicodélica pelo mundo do Techno. (Nik Silva)

Rosie Lowe – YU 

Logo na primeira faixa do disco, “Lifeline”, a artista britânica evoca Lauryn Hill com os versos da clássica “Ex-Factor”. Ela logo emenda na caprichadíssima “The Way”, com participação de Jay Electronica, e você logo se percebe totalmente imerso no universo proposto em YU. A obra apresenta uma aproximação minimalista aos timbres oitentistas tão explorados nos últimos dez ou quinze anos, com uma ambientação sonora entre o Lo-fi e o Psicodélico. É o charme do vocal, a pegada Pop de faixas como “Little Bird” e aquele clima romântico cheio de pose que nunca falha. Eis uma das minhas surpresas mais legais de 2019. (André Felipe de Medeiros)

Burna Boy – African Giant 

Um nome presente do midstream às paradas globais, Burna Boy dialoga a música da diáspora africana em um disco que flerta com todos esses territórios que ele ocupa. Do Reggae ao Trap, passando pelo Hip Hop, R&B e Pop, o nigeriano convidou gente como Jorja Smith, Damian Marley, Future e Jeremih, entre outros, para nos lembrar de onde vem a base sonora de praticamente tudo o que ouvimos hoje em dia. Plural e colorido, African Giant é um álbum que faz jus à dimensão sonora que se propõe a investigar e à popularidade de Burna Boy, parceiro de nomes como Ed Sheeran no mainstream. (André Felipe de Medeiros)

DJ Pyhton – Derretirse

Quem ouve o EP Derretirse, sucessor do disco Dulce Compañia (2017), não imagina de cara que o homem por trás do projeto DJ Python, na verdade, é fã de Reggaeton. É necessário uma audição mais atenciosa para entender que, na verdade, o registro em questão inaugura um novo gênero: o Deep Reggaeton. Trata-se de uma mistura de House, Techno e Reggaeton com resultado nebuloso, obscuro e nem sempre dançante. Ou seja, cai mais para o lado do experimentalismo do que para a pista. Para ouvir com atenção. (Pedro João)

Yohuna – Mirroring

Se em seu primeiro disco Johanne Swanson fez um registro quase documental de uma época nômade de sua vida, para seu segundo registro, Mirroring, ela conta o que uma vida em um lugar só tem a lhe oferecer: aparentemente, relacionamentos falidos e muita terapia. O disco parece, de alguma forma, ser uma autoanálise ou, pelo menos, uma reflexão de como levamos nossa vida moderna. Além disso, ainda conta também com músicas sobre o fim de um relacionamento, ora de forma mais reflexiva, ora esbravejando sobre como as coisas acabaram. Tudo isso é acompanhado por um Indie Rock bem típico dos anos 1990, que parece buscar inspiração em bandas como Yo La Tengo e Spiritualized. (Nik Silva)

Lingua Ignota – CALIGULA

Neste segundo álbum, todos os traumas da artista Kristin Hayter vindos das agressões que passou em seu último relacionamento vieram à tona. Com sua voz maníaca e viva, grita: “Eu não como, não durmo […] deixo que me consuma”. Apesar dos ruídos, o Noise Instrumental e o Metal, em CALIGULA o que mais aparece é a voz da intolerância e dos percalços atravessados pela artista que, com esse disco, transforma toda a misoginia vivida em cinzas. (Ana Laura Pádua)

Julia Jacklin – Crushing

Para o seu aguardado segundo disco, a australiana Julia Jacklin escolhe seguir de forma sólida pelo Folk e Indie Rock. O registro encanta pela complexidade das letras e a ironia tão bem usada. Por exemplo, o título “Crushing” pode ter dois sentidos “esmagando” ou a famosa “paixonite” que sentimos por alguém. Em dez faixas, Jacklin analisa relacionamentos em crise, a luta contra a aparência e o que acontece quando realmente conhecemos a pessoa que amamos. É um belo disco e, acima de tudo, lindo ver como a artista está se descobrindo internamente. (Ana Laura Pádua)

ALASKALASKA – The Dots

O registro de estreia desse sexteto londrino impressiona. Para começar, já chama a atenção a instrumentação grandiosa e sofisticada (às vezes soando como uma big band). Depois, uma produção impecável combinada com uma mistura sonora bastante abrangente (que é capaz de amalgamar Jazz, Disco e Art Rock de forma extremamente Pop). Tudo isso é de saltar aos ouvidos a em uma audição mais despreocupada, porém as letras (e a voz) de Lucinda Duarte-Holman são o destaque aqui. Com uma lírica afiada e temas bastante pertinentes, ela rouba a cena nesse ótimo LP.

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