A falta de pretensão muitas vezes auxilia o trabalho. Não pensar no resultado e sim no processo pode ser a solução para desejos de aventuras musicais. Olhar para o espaço aberto da Internet e notar que a realização parece ser imediata é um mantra mentiroso – não existe resultado sem trabalho, mas ele pode fluir muito melhor sem a pressão. É nesse ambiente que Morfina surge dentro do cenário vibrante de Alagoas, de outros nomes interessantes, como Troco em Bala Milkshakes.
Foi sem vislumbrar o que poderia sair de um simples projeto que os estudantes de arquitetura Igor Peixoto e Reuel Albuquerque começaram a se aventurar em composições de baixa fidelidade gravadas no celular. A falta de imediatismo levou o processo a demorar um bom tempo até que seu primeiro disco, Farta Evanescente, nascesse, coleção interessante de Indie Rock com toques de Pop e outras vertentes psicodélicas, folclóricas e cheio de nostalgia brasileira. A difícil tarefa de se criar um som acessível e ao mesmo tempo detalhado e rico foi bem encarada pelo duo e o resultado tende a agradar diferentes públicos.
Temos guitarras riffadas dançantes em compassos marcados na abertura Louca Mulher, cortes marcantes à la Interpol em Ela e o Folk psicoativo em Seu Amor – todos leques plurais de mentes inquietas que não se perderam em referências diversas e preferiram tornar seu caldeirão sonoro igualmente interessante. Figuras femininas e o amor parecem ser as artérias que conduzem o sangue pulsante de uma estreia pueril e jovem, com chance de se encontrar dentro de uma juventude igualmente efervescente. Se não bastasse esse trio de abertura na obra, a consequente No Leito Fundo traz programações eletrônicas que nos lembram os momentos iniciais de SILVA e até o irradicado em Alagoas Wado, ou seja, para onde Morfina se dirige, parece acertar.
Não perca a chance de apaixonar de forma instantânea por mais um ato que parece colocar definitivamente Maceió como mais uma das diversas cenas musicais riquíssimas em um universo brasileiro expandido musicalmente.