Ouça: Murilo Sá e Grande Elenco

Projeto do compositor baiano chama atenção pela suas ótimas referências ao Rock Clássico

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Fotos: Cisco Vasques

Ouvir os primeiros acordes de Sentido Centro, disco de estreia do baiano Murilo Sá e Grande Elenco é uma verdadeira viagem no tempo. Dois Mundos começa com aquele groove industrial e sujo que fez a cabeça de Pink Floyd no período do disco The Wall, no fim da década de 1970. Pode ser viagem, mas os solos de guitarra, a áurea da faixa de abertura e a capa do álbum (que contrasta o guitarrista a um muro com os escritos em vermelho e branco) simplesmente ficaram no meu insconsciente como uma ótima influência sonora vinda dos britânicos.

Não estamos falando, no entanto, de uma cópia descarada de Pink Floyd, mas de música psicodélica de forma geral dos anos 1970 e de um compositor que chama atenção pela sua pluralidade à frente do projeto. Murilo Sá canta e domina sua guitarra – como pode ser visto nos vídeos ao vivo – com uma tamanha segurança que impressiona. Fica à frente do piano “molhado” de Sentido Centro e a sua forma lírica de compor nos lembra bastante O Terno e seu líder Tim Bernandes, ao mesmo tempo em que o Rock criado é bastante distinto com solos cristalinos, mais barulho e menos sujeira, como pode ser ouvido em Livre.

A forma narrativa de suas histórias nos faz imaginar as situações contadas, sempre com bastante humor e personalidade. Elevador Panorâmico é deliciosa, enquanto Dias e Noites é uma viagem pelo folclore da música regional nordestina – é uma faixa que agradaria os fãs das canções mais baladeiras de Led Zeppelin. Aliás, o disco como um todo passa um grande panorama daquilo que é conhecido como “Rock Clássico” nos trazendo boas lembranças de também The Beatles (Sentido Centro) e The Rolling Stones (Melhor Viver), todos com toques tipicamente brasileiros que deixam essa nostalgia parecer somente um ótimo referencial e que demonstra que estamos diante de um camaleão.

O tal Grande Elenco que acompanha Murilo Sá também impressiona. Seus músicos estão longe de fazer o arroz com feijão e dão um encorpada impressionate as composições do guitarrista e só nos fazem querer vê-lo ao vivo, pois o espetáculo é bastante promissor. É complicado escolher uma faixa favorita, mas eu poderia ficar entre a linda Chalé 25 e a ótima balada Rio Vermelho com toques bonitos de Erasmo Carlos. Restam inúmeros elogios a Murilo e não nos restam dúvidas de que estamos diante de um projeto que deve ser ouvido. Se por acaso você ainda não se deu por convencido, vejo o seu último clipe, Eis Que Eu Tento Me Entreter, e tente não ser sugado pela sua estética dos anos 1980 à la Tron e entender que esse menino vale ouro.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.