Ouça: Ombu

Power trio paulista tem som orgânico e minimalista e deve agradar aos fãs de Post-Rock cantado

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De vez em quando, a música precisa se desinibir e se tornar crua. Enquanto artíficios e efeitos podem engrandecer o som, tornando-o uma maquiagem de si mesmo, a nudez de tais de elementos pode revelar grandes artistas. Sob a ótica minimalista, seca e direta, revelamos uma banda que merece figurar em nosso Ouça, o power trio paulistano: Ombu.

Herdeiros do Post-Hardcore, ou simplesmente entusiastas da continuidade de uma cena que teve o seu ápice no início dos anos 2000 no Brasil, Ombu revela-se organicamente um grupo que não tem medo muitas vezes de ser áspero, sincero e direto em sua abordagem do que seria a MPB feita a passos tortos. João Viegas (baixo e voz), Santiago Mazzoli (guitarra) e Thiago Barros (bateria), tem a história clichê, mas certeira, de terem iniciado os seus trabalhos conjuntos após se conhecerem no colégio e nos últimos anos vem ganhando cada vez mais espaço na cena paulistana após shows com Terno Rei e o histórico e finado Rancore.

Tremolo

Aliás, a sonoridade do trio se assemelha bastante com Terno Rei, mas em uma tangente nada Dreampop e sim Post-Rock, sendo a influência do seminal grupo Slint o ponto de intersecção entre ambas. O gosto pelo instrumental cru, minimalista e muitas vezes básico auxiliado por uma voz melancólica tornam a Ombu semelhante a Terno Rei, mas desfeita de efeitos ou lisergia. É como se cada um fizesse a sua interpretação à sua maneira – a primeira mais áspera e essencialmente crua, enquanto a segunda é minuciosa e equilibrada.

Caça

No entanto, se a parte instrumental importa e é construida de forma lenta assim como suas inspirações faziam, o que diferencia o trio e o coloca de forma interessante na cena como um todo são suas melodias de voz e composições. Ouça a minimalista, Tremolo para entender que toda a construção musical serve de abertura para que João lançar suas letras abstratas e pessoais, tornando o produto final um som extremamente orgânico e compacto.

Labirinto

O seu primeiro EP, Caminho das Pedras (2013), revela, no entanto, o gosto mais colérico e ritmíco do grupo. Caça é melódica, sincera e tem somente um defeito: sua curta duração, que termina no fade-out do refrão “tem o corpo, mas não a alma”. A continuidade, Labirinto, é irrestível e consegue crescer somente na intensidade de seus músicos sem trazer efeitos para maquiar sua orquestração.

Com um EP pra ser lançado nos próximos meses, Mulher, a tendência é que as coisas se tornem cada vez mais minimalistas, cruas e sinceras para o grupo, que nos faz aguardar ansiosamente pela continuidade deste trabalho que nasce no Post-Rock, mas que bebe MPB e Hardcore.

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ARTISTA: Ombu
MARCADORES: Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.